Bebianno diz que filho de Bolsonaro queria criar Abin 2

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Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

O ex-secretário geral da Presidência, Gustavo Bebianno, afirmou nesta segunda-feira que um delegado da Polícia Federal participou da tentativa de montagem de uma Agência Brasileira de Inteligência (Abin) paralela, por iniciativa do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). Questionado se o delegado seria o atual diretor da Abin, Alexandre Ramagem, Bebianno preferiu não responder.

– Eu lembro o nome do delegado. Mas não vou revelar por uma questão institucional e pessoal – afirmou o ex-ministro, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, exibido ao vivo nesta noite.

Bebianno disse que o episódio aconteceu nos primeiros meses do governo, quando Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) apareceu com os nomes de um delegado federal e de três agentes que fariam parte de uma suposta Abin paralela. Segundo Bebianno, ele e o então ex-ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido meses depois, desaconselharam o presidente, sob o argumento de que a medida poderia motivar impeachment.

Bebianno ainda acusou Carlos Bolsonaro de comandar um “gabinete de ódio” no Planalto, onde, segundo o ex-ministro, são fabricadas notícias falsas.

– Eu disse ao presidente que as notícias falsas não podiam estar dentro do Planalto porque poderiam dar em impeachment. Mas a pressão que o Carlos faz é tão grande que o pai não consegue se contrapor ao filho. É como aquela criança que quer um presente no shopping, esperneia e o pai não tem pulso para dizer não – contou Bebianno.

– Um belo dia o Carlos Bolsonaro aparece com um nome de um delegado federal e três agentes que seriam uma Abin paralela. Isso porque ele não confiava na Abin. O general Heleno (chefe do gabinete Institucional da presidência) foi chamado. Ficou preocupado. Mas ele não é de confronto e o assunto acabou comigo e o general Santos Cruz. Nós aconselhamos o presidente a não fazer aquilo porque também seria motivo de impeachment. Eu não sei se isso foi instalado porque depois eu acabei saindo do governo.

Um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro ao Planalto, Bebianno foi o primeiro ministro demitido no governo, com apenas dois meses do início da gestão. A sua saída foi marcada por uma crise com suspeitas de candidaturas laranjas no PSL, legenda em que o presidente venceu a eleição. A situação se agravou ainda mais após Bebianno travar embates com Carlos Bolsonaro, seu desafeto declarado.

Bebianno acredita que a Abin paralela seria utilizada para montagem de dossiês e atacar adversários, inclusive jornalistas. Na visão dele, o presidente e seus filhos não confiam nem mesmo em seus ministros.

– Eles não confiam em ninguém. No fundo, ele (Bolsonaro) não confia no general Heleno, nem no general Luiz Eduardo Ramos (ministro da secretaria de governo).

Bebianno não é o primeiro ex-aliado da família Bolsonaro a falar sobre a Abin paralela. Em dezembro, a deputada Joice Hasselman (PSL-SP) já havia dito a CPMI das Fake News que Carlos Bolsonaro quis criar uma agência paralela no Planalto para montagem de dossiês e grampos.

No programa, Bebianno também afirmou que Carlos Bolsonaro o atingiu covardemente pelas costas, sobretudo em ataques nas redes sociais. Ele classificou o filho do presidente como uma pessoa com agressividade despropositada, “com graves problemas mentais” e que merece tratamento.

Em outro ponto polêmico da entrevista, Bebianno afirmou que a investigação sobre a morte do ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, acusado de chefiar o escritório do crime, grupo suspeito do homicídio da vereadora Marielle Franco, vai perseguir a família Bolsonaro como um “fantasma”. Ele comparou o assassinato do PM ao caso do ex-prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, em 2002, e que até hoje não foi esclarecido.

– O PT tem um grande fantasma que é o Celso Daniel. E agora a família Bolsonaro tem um fantasma que é o capitão Adriano. Parece uma queima de arquivo. Quem teria interesse na morte dele? Não sei – afirmou Bebbiano.

O ex-ministro, que era um dos nomes mais próximos de Bolsonaro durante a eleição, afirmou nunca ter visto Adriano, embora tenha admitido que ouvia falar dele em alguns momentos. Adriano chegou a ser homenageado por Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e este ainda empregou a mãe e a mulher do PM em seu gabinete.

– Era um nome que era conhecido, tido como um policial linha de frente e linha dura. Eu não sabia que era miliciano – disse Bebbiano. – Era um nome que ouvia algumas vezes, mas não lembro em que circunstâncias. Era alguém com quem se tinha amizade – afirmou Bebianno.

O ex-ministro ainda classificou como “estranha” a morte de Adriano em confronto com policiais na Bahia, em fevereiro.

– É estranho. Parece queima de arquivo. Quem teria interesse na morte dele? Não sei. É preciso de uma investigação séria – ressaltou.

Ao fazer uma avaliação do governo, Bebianno afirmou que as os ataques do presidente contra a imprensa e os outros poderes criam um ambiente de instabilidade e prejudicam a economia.

– A minha grande crítica é que o presidente está atrapalhando. Se você pegar a agenda presidencial vai ver que ele (Bolsonaro) só pensa em reeleição. Ele praticamente não trabalha pelo país (…). O presidente precisa de uma postura mais litúrgica e mais serena. O Brasil precisa progredir e acho que o presidente está atrapalhando. Há um brasil do Paulo Guedes (ministro da Economia) e um do presidente. Se nós continuarmos no caminho que estamos não vai terminar bem.

O ex-ministro também voltou a dizer que teme um risco de ruptura institucional no país e criticou a postura do governo no motim da polícia do Ceará.

– O maior problema do Brasil hoje são as milícias. Eu não ouvi uma palavra do governo federal condenando esse motim – disparou Bebianno.

O Globo