Bolsomínions fazem blitz nas redes contra quarentena

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Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo

O discurso de Jair Bolsonaro contra o isolamento social faz parte de uma narrativa replicada por apoiadores do presidente nas redes sociais desde antes do pronunciamento de terça-feira e que ganhou força depois da fala do político em cadeia nacional de rede e TV. Apesar do repúdio de governadores e prefeitos, há nichos de seguidores de Bolsonaro que insistem em interromper a quarentena. Um dos grupos, o Avança Brasil, lançou uma campanha para que os trabalhadores retomem a vida normal nesta segunda-feira, dia 30. Na noite de ontem passou a circular via WhatsApp um vídeo de pouco mais de um minuto com a assinatura do governo federal com apelos de que a população retomasse a rotina, com o mote #OBrasilNãoPodeParar. O Planalto não confirmou a autoria do conteúdo até o fechamento desta edição.

“Para os milhões de pacientes das mais diversas doenças e os heroicos profissionais de saúde que deles cuidam, para os brasileiros contaminados pelo coronavírus, para todos que dependem de atendimento e da chegada de remédios e equipamentos, #oBrasilNãoPodeParar”, diz o narrador, enquanto aparecem pacientes recebendo atendimento médico.

Entre os motivos para o fim da quarentena elencados por apoiadores de Bolsonaro estão evitar danos à economia e o desabastecimento das cidades. Os dois fatores, sustentam, levariam ao caos social e à consequente pressão para que o presidente fosse deposto.

Todo esse raciocínio está expresso publicações de redes sociais analisadas pelo Valor. Os conteúdos surgem nas redes de forma anônima, mas ganham tração ao serem compartilhadas por Bolsonaro e por seus filhos políticos. Na noite de ontem, a hashtag #ChegaDeQuarentena ficou entre os cinco temas mais falados no Twitter no Brasil, com 30 mil menções.

Entre os movimentos organizados que apoiam Bolsonaro, as opiniões se dividem. O presidente do Avança Brasil, Eduardo Platon, é o mais direto ao falar do fim do isolamento. “Segunda-feira vamos reabrir o Brasil. Vamos retomar as rédeas da nossa vida, cuidar financeiramente das nossas famílias e retomar o caminho do crescimento”, convocou Platon via WhatsApp. O Avança Brasil é composto por uma rede de cerca de 2 milhões de pessoas em todo o país.

Ao Valor, Platon disse esperar para o dia 30 mudança na restrição à circulação das pessoas. “Não será um botão on/off, imediato. Mas vai ser um restart”, afirmou.

Ted Martins, líder do Movimento São Paulo Conservador, diz que obedecerá o que determinar o Ministério da Saúde, mas prevê que, nos próximos dias, os Estados vão rever as determinações de fechamento do comércio e dos serviços. “Não é questão de colocar a economia acima da vida das pessoas. A vida está acima de tudo”, diz. “Mas, do jeito que as cidades estão, as pessoas vão morrer de fome, vai haver demissão em massa e vai faltar comida na mesa. O que tememos é convulsão social.”

Porta-voz do NasRuas, Tomé Abduch defende a suavização gradativa das regras de isolamento. “Para hoje, devemos estar em isolamento horizontal. Mais para frente, podemos passar para um isolamento vertical com pés no chão.”

Depois do pronunciamento de Bolsonaro em rede nacional, na terça, passaram a circular no Twitter, Facebook e YouTube vídeos de pessoas aparentando desespero diante do fechamento de lotéricas, barracas de praia, oficinas mecânicas e restaurantes de beira de estrada. Os materiais ganharam impulso – e apoio – ao serem compartilhados pelo presidente e por seus filhos. Os mais atuantes são o deputado federal Eduardo (PSL-SP) e o vereador Carlos (PSC-RJ).

Em vídeo que se tornou viral após publicação no YouTube de Bolsonaro, um homem que se apresenta como caminhoneiro chora. “Tenho que encostar, parar de transportar. Eu não consigo trabalhar sem comer”, diz. Ele narra que na BR-101 fiscais mandaram fechar o único restaurante. “Os mesmos que espalham o pânico, fecham comércio e quase todas as atividades econômicas agora empurram a conta para o governo federal. Após a narrativa de q PR é irresponsável, fato q busca seu impeachment, agora a narrativa será q o caos econômico é culpa do Presidente”, escreveu Eduardo.

Valor