Bolsonaro aposta em “poucas” mortes

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Foto: Andressa Anholete/Getty Images

Como todo político – ainda que não haja, sob diversos aspectos, políticos iguais a Jair Bolsonaro – o presidente orienta-se, na crise, por seu instinto de sobrevivência. O pronunciamento de terça-feira mostra um líder convencido de que está muito mais ameaçado por uma depressão da economia consequente do combate à pandemia do que pela perspectiva de o novo coronavírus causar milhares de mortes no país. A estratégia pode resultar do cálculo de que uma crise econômica seja mais demorada para passar, implicando todo seu mandato e a reeleição.

Para além de estimular a população a contrariar determinações de cientistas e especialistas em saúde, Bolsonaro refez, em alto grau de risco, a aposta em que os estragos da pandemia serão relativamente pequenos no Brasil. O tamanho da ousadia do movimento pode ser medido pela inexistência de rota de fuga: com a fala em rede nacional de TV, o presidente puxou exclusivamente para si a responsabilidade no caso de haver um patamar muito alto de mortes no país.

Reportagem do GLOBO informa que o presidente acredita que o clima tropical do país garantirá que o vírus se espalhará menos. Os estudos em curso admitem essa hipótese, ainda não comprovada. A certeza do presidente parece vir apenas do fato de que países com latitude e clima semelhante aos do Brasil não estão ainda entre os mais atingidos pela pandemia, mais devastadora no Hemisfério Norte.

De resto, o tom do pronunciamento segue o estilo agressivo de fazer política. Aponta inimigos, como os governadores e a imprensa, alimentando uma narrativa de perseguição. Ironicamente, os “perseguidores” são quem mais estão trabalhando para minimizar os danos do coronavírus no país, única possibilidade para que o discurso presidencial permaneça de pé nos próximos meses.

O Globo