Doria ameaça processar Bolsonaro

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Foto: Marivaldo Oliveira/Código19/Estadão Conteúdo

A reunião do presidente Jair Bolsonaro com governadores do Sudeste na manhã desta quarta-feira teve bate-boca e os discursos descambaram para questões políticas e eleitorais. O momento mais tenso foi protagonizado por Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Bolsonaro acusou Doria de usar de “demagogia barata” e afirmou que, hoje, o tucano “não tem responsabilidade” e “não tem altura para criticar o governo federal”. Em tom de voz elevado, o presidente acusou Doria de “assumir uma postura completamente diferente” desde o resultado das eleições de 2018:

– Hoje, subiu a sua cabeça, subiu a sua cabeça, a possibilidade de ser presidente da República. Não tem responsabilidade. Não tem altura para criticar o governo federal, que fez completamente diferente o que outros fizeram no passado. Vossa excelência não é exemplo para ninguém. Não aceito, em hipótese nenhuma, essas palavras levianas como se vossa excelência fosse responsável por tudo de bom que acontece no Brasil e acusa, levianamente, esse presidente que trabalha 24 horas por dia para o bem do seu povo.

– Guarde essas suas observações para as eleições de 2022, quando vossa excelência poderá destilar todo o seu ódio e demagogia. Nós aqui temos responsabilidade – disse o presidente.

O paulista ameaçou ir à Justiça contra o governo federal caso haja confisco de equipamentos e insumos destinados ao combate do novo coronavírus no estado.

Participam da reunião os governadores Wilson Witzel (Rio de Janeiro), Romeu Zema (Minas Gerais) e Renato Casagrande (Espírito Santo), além de ministros como Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), entre outros. A reunião, que acontece por videoconferência, ainda está em andamento.

O clima do encontro destoou das demais reuniões feitas por Bolsonaro com os outros governadores do país desde segunda-feira. O encontro desta manhã aconteceu um dia depois do pronunciamento de Bolsonaro em rádio e televisão em que defendeu um afrouxamento das medidas de restrição à Covid-19. Witzel e Doria são os governadores que Bolsonaro considera seus maiores adversários políticos.

Em um dos momentos do encontro, Bolsonaro foi cobrado a dar “o exemplo” ao país.

Doria pediu, “como brasileiro e como governador”, que o presidente tenha “serenidade e equilíbrio”.

– Mais do que nunca, o senhor precisa comandar, liderar o país e, para isso, o senhor vai precisar de muita calma, de muito equilíbrio e de muita serenidade.

O presidente, então, respondeu:

– Se o senhor não atrapalhar, o Brasil andar, com certeza. Sai do palanque, que temos tudo para conduzir, juntamente com governadores, prefeitos e demais autoridades, o Brasil para o porto seguro.

Num dos momentos de maior irritação, Bolsonaro disse não aceitar a atuação de Doria como “porta-voz” dos governadores.

– Essa situação (de Doria como) porta-voz (dos outros governadores) pra mim não serve. Senhor governador João Doria, faça a sua parte, o governo federal está pronto para colaborar, como sempre esteve. Vossa excelência foi que fechou as portas para nós. Resolveu partir para a campanha antecipada de 22 em vez de buscar o bem-estar do seu povo paulista, para minorar os problemas que se avizinhavam. Assim, sendo, respondendo à vossa excelência, não atacando, mas apenas respondendo seus ataques infundados.

Bolsonaro passou a palavra para o ministro da Saúde, Luiz Mandetta, que diante da discussão entre eles pediu calma:

– O momento, quando se tem uma crise dessa proporção, a primeira palavra que a gente precisa ter é calma e equilíbrio.

Governadores também pediram ao presidente nesta quarta-feira que inicie negociações com o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para que o pagamento das dívidas dos estados com essas instituições seja adiado por até um ano.

O Globo