Em hospitais de SP, teste para covid-19 demora uma semana

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Foto: Josué Damacena

Os dois principais hospitais públicos, que concentram casos graves de coronavírus em São Paulo, lutam para agilizar a velocidade do diagnóstico da doença e dar o atendimento específico ao paciente. Hoje, o resultado do teste de confirmação para Covid-19 está levando uma semana, segundo Ralcycon Teixeira, diretor executivo da Divisão Médica do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. O Hospital das Clínicas (HC) também enfrenta o mesmo impasse.

O desafio, explica Teixeira, é fazer com que a confirmação do coronavírus, realizado em São Paulo pelo Instituto Adolfo Lutz, saia em até 48 horas. Apesar de os hospitais afirmarem que o resultado do exame tem levado uma semana para ficar pronto, a Secretaria de Saúde do estado diz que a média é de 72 horas.

O Instituto Adolfo Lutz foi um dos três primeiros do país a atuar na confirmação da presença de coronavírus, ao lado da Fiocruz, no Rio de Janeiro, e do Instituto Evandro Chagas, no Pará.

De acordo com Teixeira, os leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) dos hospitais públicos, incluindo Hospital das Clínicas e Emílio Ribas, costumam ser ocupados, em grande maioria, por pacientes com pneumonia, mesmo sem epidemia por coronavírus.

– A pneumonia é uma das principais causas de internação no Brasil, excluindo causas obstétricas. Independentemente de coronavírus, ela acontece, nunca deixou de aparecer. Se transferir qualquer caso de pneumonia para o HC e para o Emílio Ribas, em uma semana a gente enche as UTIs e e em uma semana não temos mais condições de receber novos pacientes – alerta o infectologista.

O primeiro teste feito nos pacientes com sintomas similares aos infectados pelo coronavírus é o PCR, uma espécie de triagem que identifica apenas moléculas características do novo vírus, mas não é determinante.

Caso o resultado seja positivo, é feito o exame de confirmação, para anticorpos específicos e checar a presença do coronavírus. É este segundo exame de confirmação que, segundo especialistas, é feito em São Paulo pelo Adolfo Lutz e está demorando até seis dias para ser entregue.

Esse fato, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, estaria inclusive dificultando a análise do quadro geral da Covid-19 no estado, a doença provocada pelo coronavírus.

Na maioria dos casos, os sintomas são semelhantes ao dos resfriados. Uma parcela dos infectados, porém, desenvolve quadros mais graves.

Idosos e pacientes com comorbidades, como diabetes e doenças cardiovasculares, são mais suscetíveis a ter pneumonia intersticial por vírus – a mesma provocada, por exemplo, pelo vírus do sarampo. Esse quadro dificulta a oxigenação do sangue. Em função da fragilidade imunológica, os pacientes podem contrair também pneumonia infecciosa, causada por bactérias.

Vírus respiratórios podem provocar Sindrome Aguda Respiratória Grave, que matou 4.939 pessoas no país no ano passado, segundo a Rede Sentinela, formada por 163 unidades hospitalares do país.

Isso corresponde a 12,6% dos casos notificados entre 30 de dezembro de 2018 e 7 de dezembro de 2019. Do total de mortes pela síndrome, 1.109 foram causadas pelo vírus Influenza, um dos mais comuns causadores de gripe no país. No caso do Influenza, 71% das mortes estiveram associadas ao vírus H1N1.

A pneumonia viral é um dos principais agravantes da Covid-19. Não há medicamento específico para combater a doença, e o tratamento consiste na utilização de suporte de terapia intensiva, como uso de equipamentos de ventilação mecânica.

Porém, como a pneumonia é causada também pelos vírus mais comuns de gripe, leitos de hospitais como HC e Emílio Ribas podem estar sendo ocupados por pessoas que não tenham sido infectadas pelo coronavírus, diante da demora para confirmação do resultado dos exames.

– A ideia é agilizar o protocolo, ficar com o paciente que for diagnosticado com coronavírus. Quem não for, deve ser liberado para outros hospitais gerais – diz Teixeira.

São Paulo tem hoje 16 casos graves de pacientes com coronavírus. Entre eles, dois estão internados no Emílio Ribas, segundo o secretário de Saúde , José Henrique Germann.

De acordo com o especialista, novas diretrizes para realização do teste de coronavírus devem ser liberadas pelo Ministério da Saúde. A ideia, segundo ele, é que o protocolo de coleta dos exames ocorra apenas para o paciente que passe por um processo de internação, seja na enfermaria, ou na UTI.

– A partir daí já deve reduzir bastante (a demanda pelo teste), enquanto buscam-se alternativas para ampliar a rede de realização de exames.

Na rede particular, os testes para coronavírus já não estão sendo feitos indiscriminadamente. A preocupação com a ampliação da demanda mundial por insumos diminuiu a quantidade de pessoas examinadas, informou a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), empresa que reúne grandes laboratórios privados do país.

No início da epidemia, alguns laboratórios chegaram a oferecer o exame a domicílio para ajudar a rastrear os contatos.

– Estamos pedindo à população para não ir ao hospital. O exame precisa estar disponível para quem precisa. Se a gente não usar racionalmente, obviamente ele vai acabar — afirmou Priscilla Franklin Martins, diretora executiva da Abramed.

O Globo