Evo teme fraude ou golpe de estado na Bolívia

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Foto: Agustin Marcarian/Reuters

O ex-presidente boliviano Evo Morales, que em 2019 deixou o poder pressionado pelas Forças Armadas em meio a acusações de fraude, teme que seus rivais políticos manipulem as eleições de maio ou que deem um golpe de Estado se seu partido vencer as eleições em maio.

Em entrevista à Reuters na Argentina, onde mora há meses na condição de refugiado, Morales acusou políticos da direita e os Estados Unidos de impedirem sua candidatura presidencial e ao Senado e de tentar manter seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS), longe do poder.

— Eles investiram muito, duvido que a direita boliviana, apoiada pelos Estados Unidos, fique no governo por (apenas) seis ou sete meses — disse Morales à Reuters em seu escritório em Buenos Aires. — Temos certeza de que vamos vencer as eleições. Somente uma fraude ou um golpe pode frustrar nossa vitória.

Ainda segundo Morales, o MAS está se “preparando internamente para cuidar da votação”.

— E se vencermos, haverá o golpe.

Ao ter sua candidatura invalidada pela Justiça Eleitoral para disputar as eleições, Morales apoiou seu ex-ministro da Economia, Luis Arce, como candidato à Presidência — Arce atualmente lidera pesquisas de intenção de voto.

A presidente interina, Jeanine Añez, e o ex-presidente Carlos Mesa — segundo colocado nas eleições de outubro — o seguem na intenção de votos e teriam chances de se impor em uma eventual votação.

Morales havia sido reeleito no primeiro turno das eleições de outubro, mas teve que convocar novas eleições após dias de protestos e violência generalizados, desencadeados por acusações de fraude contra ele. O ex-presidente teve que deixar a Presidência quando as Forças Armadas retiraram seu apoio.

Desde então, o ex-presidente diz que foi vítima de um golpe de Estado e acusou a Organização dos Estados Americanos (OEA) de apoiá-lo. Na entrevista à Reuters, Morales não descartou ir ao Tribunal Internacional de Justiça em Haia, se necessário.

Um relatório de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) questionou na semana passada a acusação de fraude que a OEA fez contra Morales, o que provocou uma nova controvérsia na região.

— O método usado pela OEA não é citado ou testado em campo, e é improvável que esse método possa ser justificado em campo — disse Jack Williams, um dos pesquisadores que fez o relatório, à Reuters. — Fraudes acontecem em várias eleições, o problema é a escala. Na eleição de 2019 da Bolívia (…) a fraude não excedeu a margem que Morales precisava para vencer.

À Reuters, Morales disse que “deve haver uma sanção severa contra Luis Almagro e sua equipe que fez essa auditoria eleitoral na Bolívia”.

Em comunicado divulgado na sexta-feira passada, a OEA criticou os pesquisadores do MIT, disse que o relatório produzido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts não era científico e manteve seu apoio à auditoria eleitoral.

Enquanto espera poder voltar à Bolívia em breve — onde foi acusado de crimes como sedição — Morales, de 60 anos, tenta manter a forma com uma rotina rigorosa de exercícios.

— Vencemos no primeiro turno (nas eleições de outubro) — disse o ex-presidente, e considerou que sua bem-sucedida política econômica independente e os interesses criados em torno do lítio, um mineral do qual a Bolívia tem uma das maiores reservas mundiais, foram as causas do “golpe” contra ele.

O Globo