Feliciano quer expulsar embaixador chinês

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Foto: Michel Jesus/Câmara

Vice-líder do governo no Congresso, o deputado Marco Feliciano (sem partido-SP) afirmou nesta quinta-feira que pedirá a expulsão do embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, caso o chinês não faça um pedido público de desculpas ao presidente Jair Bolsonaro. O embaixador protagonizou um embate nas redes sociais na noite de quarta-feira com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente. Para Feliciano, a China quer criar uma crise artificial com o Brasil como forma de retaliar a decisão do presidente Bolsonaro de escolher os Estados Unidos como seu parceiro comercial preferencial.

Em entrevista ao Valor, o vice-líder do governo no Congresso afirmou que chegou a reconsiderar a decisão de pedir a expulsão do embaixador chinês ao ser informado pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, de que Wanming pediria desculpas publicamente ao presidente.

“Eu inicialmente tinha revisto essa posição. Contudo, a resposta chinesa ao pedido público de desculpas do deputado foi deliberadamente provocativa e acintosa. Isso me faz crer que os chineses pretendem gerar uma crise artificial com o Brasil em meio à epidemia do coronavírus. A finalidade seria criar instabilidade para o governo Bolsonaro, que contrariou os interesses chineses ao escolher seu maior adversário comercial, os Estados Unidos, como parceiro preferencial”, disse o deputado.

Ontem, Eduardo atribuiu ao país asiático a responsabilidade pela disseminação do coronavírus pelo mundo. A declaração gerou mal-estar entre os dois países. Em reação, o embaixador chinês repudiou a publicação do filho do presidente e exigiu que o parlamentar do PSL pedisse desculpas. Na postagem, Yang Wanming marcou os perfis oficiais de Eduardo, Maia, da Câmara e do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Além do embaixador, a própria embaixada se pronunciou, classificando a declaração de Eduardo como “extremamente irresponsável”.

Feliciano descartou que a fala do deputado do PSL tenha colocado em risco a relação diplomática e comercial entre os dois países e afirmou que “dizer isso é fazer politicagem com coisa séria”.

“São relações sólidas e multibilionárias. Ninguém é criança para agir com o fígado. Se age olhando os números, a geopolítica. Se declarações como essa valessem alguma coisa, os EUA tinham rompido relações diplomáticas com o Brasil na era dos governos do PT, quando se disse, e principalmente, se fez coisa muito mais cabeluda. E ninguém deixou de comerciar. É a realpolitik”, afirmou Feliciano.

O deputado justificou a eventual expulsão do embaixador, em função de uma postagem no Twitter “comparando o chefe do Estado brasileiro a um palhaço”. Na avaliação dele, a postura é inadmissível. “A ofensa grave não foi a Bolsonaro, mas a todos nós. Dito isso, o pedido de expulsão é autoexplicativo. Ademais, as relações entre os países já estão complicadas, porque o embaixador chinês surtou. Deixou de ser um diplomata para se tornar um ator na arena política brasileira. Se o embaixador brasileiro em Pequim disser que Xi Jinping é o Bozo, não sei nem se consegue sair da China.”

Feliciano negou que Eduardo tenha acusado a China de ser responsável pela pandemia do coronavírus. De acordo com o parlamentar, o filho do presidente disse “o óbvio e o já amplamente documentado nos livros de história e pela imprensa”.

“1 – A China é uma ditadura. 2 – A pandemia começou em seu território. 3 – Não houve transparência sobre a doença, tanto que uma comissão de investigação oficial chinesa censurou a polícia de Wuhan por tentar abafar o caso”, pontuou Feliciano.

Pouco depois do embate virtual entre Eduardo e Wanming, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), publicou um pedido de desculpas à China e ao embaixador do país no Brasil, em nome da Casa. O deputado do DEM destacou que a postura do filho do presidente não está alinhada com a importância da parceria estratégica entre brasileiros e chineses.

Na avaliação de Feliciano, a iniciativa do embaixador chinês “parece uma jogada ensaiada com adversários internos”, em referência a Maia. Para ele, o presidente da Câmara utilizou-se do episódio para constranger Bolsonaro e a família do presidente.

“Para mim, foi inclusive uma jogada ensaiada com os chineses, que jamais se atreveriam a arriscar um de seus principais interesses geopolíticos no globo se não tivessem guarida interna. Não iam brincar com isso. Na história da humanidade, sempre que uma nação se dividiu, as potências estrangeiras alimentaram os conflitos internos para reinarem sobre a divisão. Neste momento, a China se aproveita da ambição desmedida do presidente da Câmara dos Deputados – que pretende ser presidente da República a qualquer custo –, para enfraquecer o governo brasileiro. Jesus já dizia: casa dividida não subsiste”, disse Feliciano.

Hoje, Eduardo afirmou, em publicação nas redes, que jamais ofendeu os chineses e que apenas criticou a atuação do governo chinês no combate à pandemia. Antes dele, o ministro das Relações Exteriores saiu em defesa do filho do presidente e disse que a reação do embaixador chinês foi “inaceitável”, exigindo uma retratação.

Segundo Feliciano, Ernesto fez uma defesa da soberania nacional. “O ministro Ernesto não defendeu o filho do presidente. Defendeu a soberania nacional. Ou será que ela está à venda? Defesa essa que tinha que ser feita pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que mostra que não está à altura do cargo. Muito triste.”

Valor Econômico