Maia tem irritado líderes do centrão durante a crise

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Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo

Líderes do centrão se incomodaram, nos últimos dias, com a forma com que Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, está conduzindo a crise do coronavírus. A percepção é de que ele tomou medidas e deu declarações sem discuti-las com seus interlocutores habituais.

Além de defender um “orçamento de guerra” sem que haja consenso, Maia deu uma entrevista à CNN nesta segunda-feira em que sugeriu o uso do fundo partidário e eleitoral para combater o coronavírus, além de defender até o corte de salário de parlamentares, irritando seus pares no Congresso.

A avaliação do grupo é a de que não há empecilho para destinar os chamados “fundões” para ações contra a crise epidemiológica, desde que as eleições deste ano sejam adiadas, como chegou a propor o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

O problema, dizem integrantes do bloco informal, é que houve certa incoerência nas falas de Maia, uma vez que ele não apoiou a proposta de postergar o pleito municipal.

Embora o presidente da Câmara tenha defendido a redução dos contracheques de integrantes do Legislativo, do Judiciário e do Executivo, parlamentares influentes do Congresso acreditam que será muito difícil mexer nas remunerações das carreiras da Justiça — ou seja, a avaliação é a de que a conta deve ficar apenas com o Parlamento.

Além disso, líderes estimam que o impacto fiscal da medida não seria grande o suficiente para o tamanho da crise imposta pela chegada da Covid-19 ao país.

Insatisfeito com a atuação do presidente da Câmara, o líder do PL, Wellington Roberto (PB), tem trabalhado em prol de um projeto que determina o empréstimo compulsório de R$ 80 bilhões de empresas ao governo para combater a crise. Maia é contrário à proposta. Republicanos, Solidariedade, PP e PCdoB já aderiram a ela, no entanto.

O PP também investiu contra Maia ao pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) que sejam suspensos os prazos de 23 medidas provisórias editadas pelo governo. O governo esperava que a MP 898, que cria o abono natalino do Programa Bolsa Família, caducasse em 24 de março. A medida vai impactar em R$ 7 bilhões os cofres públicos, e havia um acordo com Rodrigo Maia para que ela caducasse em breve.

Pelo WhatsApp, líderes se queixaram nesta terça-feira de que Maia não havia informado os colegas sobre o projeto de “orçamento de emergência” para o coronavírus, criticaram a falta de diálogo do presidente com os demais e exigiram que fosse marcada uma reunião de líderes por videoconferência.

— Eu sou contra esse Orçamento de guerra paralelo que estão querendo votar. Existe o decreto da calamidade, onde já se permite que o governo faça toda compra sem um processo licitatório. Então por que criar mais um item para ter problemas, demandar tempo, correr de um lado para o outro para fazer a mesma coisa? — questiona Wellington Roberto.

Parlamentares do centrão (que inclui PP, PL, Solidariedade, PSD, DEM e MDB) também veem o momento como um teste de forças para a eleição à presidência da Câmara dos Deputados no ano que vem. O centrão tem alguns parlamentares cotados como candidatos — como Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Arthur Lira (PP-AL) e Marcos Pereira (Republicanos-SP) — e não há ainda entendimento dentro do grupo sobre o tema.

O Globo