Militares do governo apoiam discurso de Bolsonaro

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução/Twitter

Com receio de saques e do aumento da violência no país, integrantes do núcleo militar do Palácio do Planalto tem compartilhado vídeos e mensagens em apoio à posição do presidente Jair Bolsonaro contra um isolamento total.

Nesta segunda-feira (30), conteúdo alertando para o risco de perturbações sociais foi disparado por militares do governo. Um dos vídeos, ao qual a Folha teve acesso, mostra pessoas brigando em um supermercado francês em meio à pandemia do coronavírus.

As imagens foram acompanhadas de um comentário. “Para aqueles que defendem a quarentena, vai aí uma amostra do pós-quarentena. Isso é na França.”

Em outra gravação, o locutor critica a cobertura dos veículos de imprensa, alerta para o aumento da criminalidade e reforça o discurso do presidente de que se trata “só de uma gripe para 80% ou 90% que pega”.

“É difícil defender quarentena quando o armário já esta vazio”, ressalta o locutor. “Onde vai morrer gente por falta de dinheiro para a saúde em geral, aumento da criminalidade, de fome, depressão e suicídio.”

No início da semana passada, a cúpula militar era a maior defensora de que o presidente adotasse um discurso moderado, defendendo as recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde) e pregasse o cumprimento da quarentena total.

No final de semana, no entanto, chegou ao Planalto um prognóstico de que, caso a quarentena total se estenda até o final de abril, a expectativa é de aumento do número de roubos e furtos no país, o que pode afetar uma das principais vitrines eleitorais do presidente.

Desde o ano passado, Bolsonaro tem explorado a queda nos índices de criminalidade como um dos trunfos de seu governo. O investimento em políticas de segurança pública foi uma das principais bandeiras de sua campanha eleitoral.

Com o receio de uma onda de crimes no país, o núcleo fardado do Planalto reavaliou sua posição e passou a encampar o discurso do presidente, defendendo a possibilidade de se instituir uma quarentena vertical, preservando apenas os grupos de risco.

A posição, no entanto, não é unânime. Nas Forças Armadas, a postura do presidente em desobedecer as orientações do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, é vista como equivocada.

A avaliação de militares de alta patente é de que o presidente tem feito uma aposta arriscada, que pode inviabilizar uma eventual reeleição caso o número de infectados pela doença seja maior do que o esperado, criando um quadro caótico no sistema de saúde.

Para eles, o vice-presidente Hamilton Mourão, que é general da reserva, tem adotado uma postura mais acertada, ao reconhecer que o coronavírus é uma doença grave e que é necessário um esforço entre os governos federal e estaduais para combater a epidemia.

Os conteúdos compartilhados pelos militares palacianos incluem ainda um vídeo em que a ex-apresentadora de TV Liliane Ventura defende o presidente e diz que o isolamento só deve ser aplicado a idosos.

Em outra gravação, um homem aparece reclamando do governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB). O rapaz chora ao dizer que o governador prometeu distribuir cestas básicas, mas que quando ele foi buscar, não as encontrou.

Desde o final da semana passada, Bolsonaro tem discutido com a área técnica a ideia de fazer um isolamento vertical.

Segundo relatos, a conclusão foi de que, neste momento em que o país ainda não atingiu o pico da doença, não é possível viabilizá-lo em cidades com mais de 100 mil habitantes, onde a chance de aglomerações é maior.

O presidente, então, passou a defender a sua adoção em cidades do interior, sobretudo as que ainda não registraram casos da doença. Como a determinação de isolamento cabe aos governos municipais e estaduais, a equipe do presidente mobilizou protestos pelo país pela abertura de shoppings e comércios.

Neste domingo (29), bolsonaristas repetiram em algumas cidades carreatas com pedidos de suspensão de medidas anticonfinamento adotadas por alguns estados.

Folha de S. Paulo