20 milhões de famílias moram com idosos

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Foto: Reprodução/Época

Relatórios da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde colocam os idosos entre os mais suscetíveis e entre aqueles afetados pelos maiores índices de letalidade quando atingidos pelo novo coronavírus. Um levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que, no Brasil, mais de 20 milhões de pessoas – o que representa 10,8% da sua população total do país – dividem domicílio com o público dessa faixa etária.

De acordo com o economista e pesquisador da FGV Marcelo Neri, houve aumento de aproximadamente 3,36% desse índice em relação à taxa registrada em 2012.

“O número maior de pessoas em casa pode ser prejudicial para o isolamento, principalmente para a população idosa, que é o principal grupo de risco. A cultura brasileira de convivência entre gerações gera uma vulnerabilidade para a terceira idade. O maior desafio dessa convivência é fazê-la com sabedoria”, explica.

Segundo Neri, os indivíduos que moram com idosos estão mais presentes entre as mulheres (11%) e entre amarelos (12,4%), grupos sociais que também apresentam maior expectativa de vida e baixa taxa de fecundidade. Na divisão etária, a faixa predominante flutua dos 15 até 59 anos.

Sobre a localização das pessoas que moram com idosos no território nacional, o estado que possui maior taxa é o Piauí (13,91%), seguido pelo Rio Grande do Norte (13,13%), Maranhão (12,81%) e Rio de Janeiro (12,17%).

“Diferente da distribuição de idosos brasileiros, majoritariamente presentes na região Sudeste, vemos que o ranking da taxa de pessoas que moram com idosos é liderada pelos estados do Nordeste”, pondera o pesquisador.

A pesquisa considerou variações sociodemográficas, com base em informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC), de 2018, e dados da Gallup Goll, empresa de pesquisa de opinião dos Estados Unidos.

Para o infectologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edimilson Migowski, os dados trazem a dimensão do desafio que é proteger os idosos e da necessidade de planejar uma política de isolamento que resguarde esse grupo da doença.

“O grupo de maior risco para a Covid-19 é o dos idosos. Enquanto a letalidade para jovens era de duas mortes para mil pessoas, para idosos era cerca de 140 para o mesmo número. Por isso, é importante manter o isolamento social, e manter o distanciamento entre as gerações dentro de casa”, ressalta.

O estudante João Lucas Derze e Silva, de 25 anos, conta que teve adaptar antigos hábitos às recomendações das autoridades sanitárias durante o período da pandemia. Ele mora com a tia, de 68 anos; a avó, de 96; e as duas primas, de 24 e 25.

“Os mais novos ficaram encarregados pelas compras no mercado e farmácia. Deixamos sapatos do lado de fora do apartamento, lavamos as mãos e já tomamos banho imediatamente, deixando as roupas separadas de qualquer objeto de uso comum”, conta Derze.

A psicóloga Claudia Santos Ferreira, de 51 anos, conta que também tem se preocupado em não envolver a mãe, de 81, nas tarefas domésticas.

“Minha mãe é idosa e hipertensa. Com a preocupação, principalmente por ela, peço delivery de comida, mas quando chega, faço as tarefas sem inclui-la. É um ritual, porque ela gosta de participar das atividades e é super ativa. Pego as sacolas do mercado com luva, banho em água sanitária e só aí jogo fora”, admite Claudia, que completou um mês de isolamento no dia 15 de abril.

Moradora do Engenho Novo, Rosane de Moraes, de 53 anos, divide a casa com a filha, de 23, e o pau, de 84. Ela explica que a convivência da família mudou nesse período:

“Meu pai além de ser idosos, tem diabetes, é hipertenso e possui histórico de doença respiratória. Por isso, a preocupação é redobrada. Estou saindo somente para fazer compras, e quando chego troco de roupa e higienizo com álcool em gel os objetos de casa”, diz

Época