Ataque de Weintraub à China enfurece agronegócio

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Foto: Adriano Machado/Reuters

Ex-ministro da Agricultura, Abastecimento e Pecuária no governo de Michel Temer, ex-senador, ex-governador do Mato Grosso e maior produtor de soja do país, Blairo Maggi lamentou o que chamou de “conversas desvairadas” – os ataques feitos pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub e pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro – em relação à China. Para Maggi, embora o mercado com o país asiático seja suficientemente maduro para não se desgastar com isso, o constrangimento diplomático “é uma lástima”.

“Muita besteira, muita especulação, [mas] o mercado é suficientemente maduro para não entrar nestas conversas desvairadas”, disse o ex-ministro. “Estes negócios do agro se fazem por necessidade e não para agradar um ou outro, mas isso não é bom mesmo. Uma lástima estas conversas desvairadas”, reclamou o produtor.

Maggi diz que é normal a atitude da China em anunciar que passará a comprar soja dos Estados Unidos – hoje, o país asiático consome estimados 35% de todas as exportações do agronegócio brasileiro. São movimentos, de acordo com o empresário, que fazem parte do mercado. “Eles (os chineses) precisam dosar as compras, se forçar o mercado americano, sobe o valor em Chicago (Bolsa). Os Estados Unidos não conseguem abastecer o mercado sozinho, eles têm outros clientes mundo afora e um grande mercado interno, uma indústria de proteínas animal muito grande também”, ponderou Blairo Maggi.

O constrangimento diplomático com a China ganhou novos contornos no fim de semana depois que o ministro da Educação publicou em uma postagem em rede social insinuações de que o país asiático poderia se beneficiar, de propósito, da crise mundial causada pelo coronavírus. O texto foi apagado depois.

Mesmo assim, a embaixada chinesa no Brasil reagiu, também na rede social, divulgando uma nota na qual repudiou a fala do ministro. O embaixador, Wanming Yang, cobrou uma posição oficial do governo e classificou as declarações do ministro como “absurdas”, “desprezíveis” e de “cunho racista”.

“O lado chinês aguarda uma declaração oficial do lado brasileiro sobre as palavras feitas pelo ministro da educação, membro do governo brasileiro. Nós somos cientes de que nossos povos estão do mesmo lado ao resistir às palavras racistas e salvaguardar nossa amizade”, escreveu, marcando o perfil do Ministério das Relações Exteriores.

 

“Deliberadamente elaboradas, tais declarações são completamente absurdas e desprezíveis, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil”, escreveu a embaixada.

Na postagem do ministro, ele debochava dos chineses pelo fato de que, quando falam português, costumeiramente eles trocam o R pelo L das palavras como a fala do personagem Cebolinha, da Turma da Mônica. “Geopolíticamente [sic], quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?”, escreveu Weintraub.

Em 18 de março, também em uma rede social, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, escreveu que a culpa pelo coronavírus era da China. Na semana passada, também em rede social, o deputado se referiu ao novo coronavírus como vírus chinês o que também causou manifestações de repúdio do embaixador.

Metrópoles