Comunidade judaica dos EUA repudia chanceler brasileiro

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Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

O Comitê Judaico Americano, uma das principais organizações que defendem os direitos e interesses do povo judeu, exigiu na noite de terça-feira um pedido de desculpas do chanceler Ernesto Araújo. Na semana passada, em uma longa postagem em seu blog pessoal, o ministro comparou o isolamento social para conter a Covid-19 a campos de concentração nazistas.

“Esta analogia usada por Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores do Brasil, comparando medidas de distanciamento social com campos de concentração nazistas é ao mesmo tempo profundamente ofensiva e completamente inadequada. Ele deveria pedir desculpas imediatamente”, disse a organização em sua conta do Twitter. O GLOBO entrou em contato com o Itamaraty, mas ainda não obteve resposta.

Fundado em 1906, o Comitê Judaico Americano é uma das organizações mais antigas e influentes do planeta que advogam pelos direitos civis de judeus. Parte importante do lobby pró-Israel nos EUA, o site do grupo lista como seus objetivos principais “combater o crescimento do antissemitismo e do extremismo, defender o lugar de Israel no planeta e salvaguardar os direitos e as liberdades de todos os povos”.

O pedido de desculpas que o grupo demanda diz respeito a postagem feita pelo chanceler Araújo em seu blog na semana passada, na qual faz uma leitura de um livro de Slavoj Zizek, um dos neomarxistas mais proeminentes da atualidade. Em “Pandemia – Covid-19 e a reinvenção do comunismo”, obra publicada no Brasil pela Boitempo, o filósofo esloveno aponta que o coronavírus demonstrou a insustentabilidade do atual modelo econômico, exigindo um pensamento além do mercado financeiro e do lucro.

Em sua postagem, Araújo denunciou que o livro de Zizek aponta para um “plano comunista” que busca tirar proveito da pandemia de Covid-19 para implementar sua ideologia por meio de organismos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde:

“Segundo o autor [Zizek], ‘o trabalho liberta’ é o lema correto da nova era de solidariedade global que virá como resultado da pandemia”, escreveu o ministro. “Os comunistas não repetirão o erro nazista e, desta vez, o utilizarão corretamente. Como? Talvez convencendo as pessoas de que é pelo seu próprio bem que elas estarão presas nesse campo de concentração, desprovidas de dignidade e liberdade. Ocorre-me propor uma definição: o nazista é um comunista que não se deu ao trabalho de enganar as suas vítimas”.

Intitulada “Chegou o comunavírus”, a postagem do chanceler diz que o medo causado pela Covid-19 “nos faz despertar novamente para o pesadelo comunista” – projeto que, segundo ele, já vinha sendo executado “no climatismo ou alarmismo climático”, no “imigracionismo”, no “cientificismo” e no “antinacionalismo”. Para Araújo, isso faz com que o “comunavírus” seja mais perigoso que a Covid-19.

No ano passado, durante uma visita a Israel, Araújo e Bolsonaro defenderam a ideia de que o nazismo seria um movimento de esquerda. A tese é contestada pela grande maioria dos historiadores, incluindo os especialistas do memorial que documenta o extermínio de 6 milhões de judeus pelos nazistas — que também, ainda antes da Segunda Guerra Mundial, prenderam milhares de comunistas, social-democratas, ciganos, homossexuais e outros indivíduos considerados indesejáveis.

O Globo