Estimulado por Bolsonaro, comércio desafia lei e abre as portas

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Foto: Diego Gimenes/VEJA

O medo de ficar sem dinheiro e a desconfiança de que os programas de auxílio emergencial chegarão às suas mãos têm levado comerciantes de todo o Brasil a buscarem alternativas para sobreviver. Muitos restaurantes estão apostando no sistema de delivery, por exemplo. Contudo, outros serviços não possuem essa opção. E, em meio à pandemia do novo coronavírus e às determinações de manter o comércio fechado, alguns lojistas têm se insurgido contra as orientações. Devido à falta de fiscalização, a cena de comerciantes que continuam trabalhando é comum em Diadema, na região do ABC Paulista.

À primeira vista, o movimento é menor, o número de pessoas circulando é abaixo do normal e os serviços essenciais, como farmácias e supermercados, funcionam normalmente. O comércio não essencial de Diadema, no entanto, não está totalmente parado. No centro da cidade, não é difícil encontrar um estabelecimento, que deveria permanecer completamente fechado, com as portas entreabertas, à espera de consumidores e atento à circulação de vans e viaturas de fiscalização. Não deveria ser assim. Desde de 23 de março, um decreto assinado pelo governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), determina que escolas, lojas, shoppings, academias e parques fiquem fechados. A quarentena deve ser prorrogada por mais quinze dias, conforme antecipou VEJA.

Em meio aos tecidos e agulhas necessários para entregar um pedido que havia acabado de chegar, uma costureira atendeu a reportagem de VEJA. “Lá em casa é tudo contado. Se eu paro de trabalhar aqui, não vou ter do que viver.” Ela pretende continuar funcionando normalmente e,no que depender dela, todo serviço será tratado com enorme importância. “Enquanto tiver encomenda, eu vou trabalhar sim, preciso tirar meu sustento e ninguém vai pagar minhas contas.”

A necessidade de manter as portas abertas, ou ao menos entreabertas, está na desconfiança das ajudas federais. O governo, por exemplo, aprovou a Renda Básica Emergencial, que ficou conhecida como ‘coronavoucher’. Contudo, os 600 reais são insuficientes para manter a renda desses profissionais e as dificuldades de operacionalização — que pode deixar até 20 milhões de informais fora do programa — tiram dessas pessoas a perspectiva de estabilidade. Elas acreditam que precisam fazer a renda por si próprias, caso contrário, poderão passar fome. “Esse dinheiro dificilmente chega nas mãos de quem precisa”, afirmou o dono de uma loja de eletrônicos, que também funcionava com as portas entreabertas. Com o olhar desconfiado e sem muitas palavras, o lojista tentou explicar a situação. “Não me complica, não. Estou aqui porque não posso ficar sem trabalhar.”

Ruas e praças vazias, brinquedos e academias ao ar livre sem as crianças e os frequentes usuários. Sem opções de lazer, a população permanece reclusa e fechada dentro de casa. A quarentena que todo o estado de São Paulo está enfrentando é essencial para evitar a propagação do novo coronavírus. Por outro lado, a tristeza dos comércios despovoados e a angústia dos lojistas com as mãos abanando são aspectos cruciais para a tomada de novas medidas por parte dos governos.

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