EUA e Brasil se comportam políticamente iguais na pandemia

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Foto: Bryan Woolston /Reuters

Americanos impacientes com as ordens contínuas para permanecerem em casa e com outras restrições ligadas ao coronavírus se reuniram diante do Poder Legislativo de diversos estados nesta semana para pedir aos governadores que flexibilizem as medidas e reabram a economia.

Alguns dos governadores repreenderam os manifestantes, inclusive no Kentucky, onde o democrata Andy Beshear disse em entrevista coletiva que a reabertura imediata das atividades no estado, “sem sombra de dúvida, mataria pessoas”.

O presidente Donald Trump foi ao Twitter pedir ao governador de Nova York, Andrew Cuomo, para parar de reclamar. “Menos conversa e mais ação”, criticou ele, que também escreveu “libertem a Virgínia”, “libertem Michigan” e “libertem Minnesota”, em referência indireta ao fechamento dos estados pelos governadores.

Pelo menos 22 milhões de trabalhadores –um número recorde— pediram benefícios de desemprego durante um mês de fechamentos causados pela quarentena.

Muitos funcionários e empresários estão frustrados com o fechamento compulsório de seus estabelecimentos. É o caso especialmente das empresas cujas atividades não exigem a presença de muitas pessoas juntas.

“Manter as pessoas trancadas em casa para salvar vidas vai levar ao colapso da economia, que também vai custar vidas”, disse Matt Seely, voluntário junto à Coalizão Conservadora do Michigan, entidade que ajudou a organizar um protesto grande em Lansing na quarta-feira (15).

Os eventos promovidos vão desde o protesto ruidoso em Lansing, que atraiu mais de 3.000 participantes, segundo estimativas policiais, até um piquenique tranquilo na quinta-feira (16) em Richmond, na Virgínia, do qual 40 pessoas participaram —até as autoridades fecharem os portões de entrada da praça diante do prédio do Legislativo estadual.

Em Raleigh, na Carolina do Norte, onde cerca de cem pessoas se reuniram na terça-feira (14), a polícia indiciou uma mulher de 51 anos pela infração de violar uma ordem executiva que limita reuniões a dez pessoas.

Foram dadas várias oportunidades a ela para cumprir a ordem, “mas ela optou por não fazê-lo”, disse um porta-voz do Departamento de Segurança Pública estadual.

Em Lansing, pessoas protestaram contra a ordem emitida recentemente pela governadora democrata Gretchen Whitmer ampliando as exigências de isolamento em casa.

Os manifestantes bloquearam o trânsito em volta do Legislativo estadual, e alguns deles ficaram postados com armas de fogo a alguns centímetros de distância uns dos outros, diante do edifício.

Alguns deles gritaram “lock her up!” (prendam-na!).

Whitmer havia anunciado recentemente a extensão do estado de emergência até o final de abril. As novas medidas incluem a limitação do número de clientes que podem estar numa loja ao mesmo tempo, dependendo do tamanho do comércio.

Uma medida ordena que determinadas lojas fechem algumas seções, incluindo as de materiais para jardinagem, dizendo que não são essenciais. O setor de plantas e materiais de jardinagem no estado disse que a medida será devastadora para ele.

Uma página no Facebook criada para divulgar o protesto, batizado de “Operação Engarrafamento”, citou como seus responsáveis a Coalizão Conservadora de Michigan e o Fundo de Liberdade de Michigan, uma entidade de defesa de causas conservadoras. Organizadores do protesto disseram que a iniciativa da governadora foi um excesso do governo.

Tiffany Brown, porta-voz de Whitmer, disse que a governadora defende o direito de protesto, mas que os participantes não devem colocar em risco sua saúde e a de outras pessoas.

No Kentucky, manifestantes ergueram cartazes e bandeiras dos Estados Unidos, gritando palavras de ordem como “fatos, não medo” e “queremos trabalhar” diante do Legislativo estadual em Frankfort.

Erika Calihan disse que ajudou a organizar o protesto da quarta-feira, postando no Facebook que pretendia levar seus filhos ao Capitólio. Ela disse que muitas pessoas praticaram o distanciamento social, mas também havia membros das mesmas famílias que ficaram muito juntos.

Calihan estimou que centenas de pessoas participaram do protesto e disse que, ao manter o estado fechado, o governador Beshear “está cuidando de uma porcentagem muito pequena da população do Kentucky, não de todos os habitantes”.

“Quem estiver com medo pode optar por ficar em casa”, opinou ela.

Os gritos e as buzinas dos manifestantes puderam ser ouvidos enquanto Beshear apresentava ao público as informações mais recentes sobre a pandemia, incluindo a notícia de que mais sete moradores do estado tinham morrido de Covid-19.

“Todos devem poder manifestar sua opinião”, disse o governador. “Eles acham que devemos reabrir o Kentucky imediatamente, agora. Pessoal, isso mataria pessoas.”

O piquenique da quinta-feira em Richmond foi organizado por três entidades, incluindo a Reopen Virginia (reabrir a Virgínia), formada no domingo (12) e que nasceu de discussões no Facebook, segundo a organizadora Markie Kelly.

Ela disse que a página do grupo já tem 19 mil membros, além de 10 mil pedidos para participar.

“Uma coisa é dizer que há um vírus aí fora, que o vírus já levou X número de pessoas ao hospital e que X número de pessoas morreram dele. Dizer ‘fique em casa, não saia de casa, você não pode trabalhar se tiver tal tipo de negócio’ é outra”, comentou Kelly, que tem 31 anos e cuida dos filhos em casa.

O governador democrata Ralph Northam disse na quarta-feira que vai estender até 8 de maio uma ordem de emergência que proíbe reuniões com mais de dez pessoas, determina o fechamento de estabelecimentos de recreação, lazer e cuidados pessoais e limita os restaurantes a preparar comida para delivery.

“O governador Northam vai continuar a tomar decisões baseadas na ciência, nos dados e na saúde pública”, disse uma porta-voz.

Um representante da polícia do Legislativo da Virgínia disse que ficou alarmado com a chamada feita no Facebook convocando pessoas para o piquenique, porque ela dizia que “abraços, proximidade física e partilha de pratos são incentivados”.

Markie Kelly defendeu as palavras usadas. “Não dissemos que as pessoas têm que agir assim, mas se elas quiserem se abraçar, que se abracem.”

Folha