Eurásia diz que Brasil AINDA não tem crise institucional

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Foto: Reprodução

As lideranças do Congresso Nacional estão mais preocupadas em aprovar medidas para enfrentar a crise do novo coronavírus e, portanto, não há interesse em levar a tensão com o presidente Jair Bolsonaro para um processo de impeachment, diz Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas do Eurasia Group.

“As condições de uma crise institucional no Brasil no curto prazo não estão dadas”, disse Garman durante “live” realizada pelo Valor. “Não interessa a lideranças nem da Câmara nem do Senado embarcar num processo de impeachment”, completou.

O diretor da Eurasia explica que, embora Bolsonaro venha sofrendo desgaste da opinião pública, sua base eleitoral ainda é razoavelmente consistente. “Aprovação de Bolsonaro caiu um pouco, mas ainda não derreteu. À medida que a crise do coronavírus evolua, talvez o presidente pague um preço político maior”, afirmou.

Segundo Garman, as críticas ao isolamento social feitas por Bolsonaro tiveram até agora o resultado de tirar o líder brasileiro da “onda” que outros presidentes têm desfrutado. “Bolsonaro jogou mal no início dessa crise, outros presidentes tiveram alta da popularidade”, disse.

A condição para um processo de impeachment seria, portanto, a queda acentuada da aprovação do presidente. “Se o presidente sair da crise com aprovação no chão, aí sim teríamos condições para crise institucional”, disse. Este não é o cenário mais provável na visão de Garman. “Minha aposta é que ele vai sofrer nos próximos meses, mas a aprovação não vai derreter”, disse, acrescentando que isso colocaria Bolsonaro como páreo para as próximas eleições presidenciais.

O especialista considera que o mais preocupante é como o país sairá da pandemia do novo coronavírus. Caso o presidente saia fragilizado, o risco é de acirramento das tensões com os poderes. “Me preocupo mais com o pós-pandemia; se o presidente sair fragilizado, isso pode minar a agenda de reformas”, disse. Para Garman, benefícios aprovados para ajudar empresas e a população durante a crise podem ser ampliados ou postergados, o que é um sinal negativo para a política econômica.

Um alento é que podem existir avanços mesmo sem a atuação do Executivo. “A reforma tributária tem condições de andar mesmo com presidente enfraquecido”, pontuou.

No cenário externo, a postura de Bolsonaro de ir na contramão do que recomendam as autoridades sanitárias contribui para uma deterioração extra da percepção sobre o Brasil. “A imagem do Brasil já estava ruim por causa da questão ambiental e piorou com a pandemia”, afirmou.

Valor Econômico