Extrema direita vê Mandetta “político” e Teich “técnico”

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A direita alinhada ao governo elogiou a mudança no Ministério da Saúde e caracterizou a troca de comando no combate à Covid-19 como a vitória da técnica, representada pelo ministro que chega, sobre a política, que seria personalizada pelo que sai.

Luiz Henrique Mandetta chega para dar entrevista coletiva após ser demitido do cargo de ministro da Saúde pelo presidente Jair Bolsonaro – Ueslei Marcelino/Reuters
“O [Nelson] Teich é um técnico, não é um conservador ou um progressista. Acho isso fantástico”, afirmou o anestesista Luciano Dias Azevedo, que é atuante em grupos conservadores.

Membro da Cúpula Conservadora das Américas e do Docentes pela Liberdade, entidade que reúne professores universitários de direita, Azevedo tem sido atuante junto ao presidente Jair Bolsonaro na defesa do uso do medicamento hidroxicloroquina para pacientes em estágio inicial da doença.

Na semana passada, esteve no Palácio do Planalto numa reunião com o presidente e outros profissionais de saúde.

Ao lado da médica Nise Yamaguchi, que chegou a ser cogitada para assumir o ministério, tentou convencer o agora ex-ministro Luiz Henrique Mandetta a liberar o medicamento, sem sucesso.

Ele diz esperar que Teich tenha outra atitude sobre o tema. “A questão é dar acesso a possibilidades de tratamento. Não é a apenas a hidroxicloroquina, é dar a oportunidade para que o quadro das pessoas vulneráveis não se agrave”, afirmou.

Sobre o isolamento social, Azevedo diz que é importante ter “alguém que resolva”.

“O Mandetta fez muita coisa certa. Segurou uma bronca gigantesca. Mas faltou o timing para flexibilizar essa situação”, afirmou.

Embora diga não conhecer pessoalmente o novo ministro, Azevedo afirma que acompanha bem seu trabalho e se disse bastante animado com a escolha de Bolsonaro.

“É uma pessoa extremamente minuciosa. Precisamos de algum que venha apaziguar os ânimos. Está morrendo gente conservadora e não conservadora”, afirmou.

Outras reações na direita seguiram a linha de destacar o lado “técnico” do novo titular da Saúde e minar a imagem de Mandetta como a de alguém apenas interessado em promoção pessoal com fins eleitorais.

“Temos um ministro da Saúde que é médico, não um político com CRM [registro profissional], sem filiação partidária. É especialista em gestão na área da saúde, não em jantares de madrugada”, disse Carlos Barros, professor conservador, no Twitter.

Para o site bolsonarista Crítica Nacional, “Henrique Mandetta teve oportunidade e tempo suficiente para expor sua incompetência e despreparo para gerenciar a área de saúde, além de expor sua deslealdade política e falta de compromisso com as diretrizes do governo Bolsonaro”.

Em contraposição, Teich foi descrito pelo site Brasil Sem Medo, ligado ao filósofo Olavo de Carvalho, como “um dos mais importantes oncologistas do país e empresário consagrado no setor médico-hospitalar”.

Na base parlamentar de Bolsonaro, o currículo de “profissional nota 11, vários MBAs e especialista em saúde da economia” foi saudado pelo deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS), que festejou: “Isolamento vertical vem aí”.

Na mesma linha, Daniel Silveira (PSL-RJ) disse que a troca foi “uma mudança necessária não só pela saúde, mas para desaterrorizarmos e libertarmos nosso povo”.

Outra integrante da tropa de choque do presidente, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) afirmou que a escolha de Teich ocorreu por ser uma pessoa “extremamente técnica”.

“O presidente fazia questão que fosse um médico com experiência em gestão e que fosse uma pessoa com várias qualidades. Dentre elas, alinhamento ideológico e o cuidado de falar sobre problemas de maneira privada, não levar para o público, como o Mandetta vinha fazendo”, afirmou a deputada.

Folha de SP