Militares criticam Bolsonaro por apoiar golpe militar

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Foto: : RAFAELA FELICCIANO

“Ele rompeu uma barreira que ninguém, até aqui, havia desrespeitado, o de fazer da área militar um palanque político. Quem chegou mais perto disso foi João Goulart, no comício de 13 de março na Central do Brasil, que fica ao lado do antigo comando do Exército no Rio. Agora quem quiser vai poder montar palanque ali? Ele quebrou uma vidraça. Foi ultrapassado um limite muito sério”.

Foi assim que um general da reserva reagiu ao discurso do presidente Jair Bolsonaro na tarde de ontem quando se dirigiu a manifestantes que pediam por intervenção militar em frente ao quartel general do Exército, em Brasília. O incômodo se deu menos pelo conteúdo do discurso em que o presidente atacou a “velha política” e a “patifaria”, disse que não havia mais espaço para negociação e exortou os manifestantes a uma “ação pelo Brasil” e mais pelo simbolismo da data (dia do Exército) e do local da manifestação.

Oficialmente, o Exército limitou-se a informar que a segurança das instalações estava preservada e que nada poderia ser feito para além de seus muros. Até o fim do dia, porém, se discutia de que maneira o comandante Edson Pujol, poderia sinalizar sua preocupação em relação ao palanque do QG.

A Ordem do Dia já havia sido despachada na véspera. Nela, Pujol informou que um efetivo de 25 mil militares havia sido colocado à disposição do combate à covid-19. Além do apoio ao governo estadual, a nota mencionou também os governos estaduais e municipais com quem Bolsonaro tem se confrontado diariamente. Não foi suficiente para dissuadi-lo, como também não tem sido convincente a ideia da tutela militar.

A provocação do presidente aconteceu dois dias depois da revogação de três portarias do Exército que determinam maior controle sobre importação, rastreamento e identificação de armas de fogo. O decreto tanto facilita o uso policial de cartuchos apreendidos do crime para dificultar a origem de “balas perdidas”, quanto a atuação de milícias armadas.

Os atos de insubordinação no prontuário do capitão Bolsonaro sugerem brechas a um ato de provocação para levar as Forças Armadas a reagir em defesa da lei e da ordem. Mas a chance de que o Exército responda a uma provocação do gênero, ainda que sob o apelo do comandante-em-chefe é, dizem os militares, nula.

Valor Econômico