Mortes fazem Bolsonaro parar de falar de cloroquina

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: RAPHAEL VELEDA/METRÓPOLES

Desentendimentos sobre o uso da hidroxicloroquina como tratamento contra a Covid-19 desde os primeiros sintomas ajudaram a minar a confiança do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Apesar da troca de ministros, a empolgação de Bolsonaro com a eficácia do medicamento vem sendo minada pela falta de resultados concretos em testes e, nos últimos dias, Bolsonaro adotou um tom mais defensivo.

Levantamento do Metrópoles na conta de Bolsonaro no Twitter mostra que, nos últimos 30 dias, o presidente mencionou a hidroxicloroquina e a cloroquina 30 vezes. O auge do interesse foi entre os dias 27 de março e 9 de abril, quando ele postou sobre o remédio em 22 ocasiões. Desde então, porém, foram apenas três tuítes sobre a cloroquina, o último no domingo (19/04).

Bolsonaro não tem tomado a iniciativa de falar sobre o medicamento e, quando perguntado, já não adota o tom esperançoso que usava há um mês, quando gravou um vídeo no jardim do Palácio da Alvorada anunciando a cloroquina como “possível cura” do coronavírus.

Ao ser questionado por jornalistas, na última segunda (20/04), sobre a posição do novo ministro da Saúde, Nelson Teich, sobre o uso do medicamento, Bolsonaro foi evasivo.

“Ele [Teich] não aposta fichas 100% em lugar nenhum, mas acha que a droga que tiver que usar agora que possa realmente evitar que a pessoa seja entubada, ele não tem nenhuma oposição a isso. Mas ele acha que outros medicamentos são testados no mundo também e a gente torce que rapidamente tenhamos algo de concreto”, disse o presidente. “Pode ser que apareça algo melhor que a hidroxicloroquina. Ela é uma possibilidade sim, mas tem uma interrogação”, complementou.

No final de março, quando ainda estava em lua-de-mel com a promessa de eficácia da medicação, Bolsonaro chegou a postar: “Temos informações precisas que a cloroquina tem sido usada pelo Brasil com uma grande taxa de sucesso”. Em 26 de março, ele chegou a mostrar caixas do medicamento na videoconferência que fez com os demais líderes dos países do G20. Era o auge da confiança.

Desde então, porém, não apareceram mais indícios científicos promissores da eficácia da cloroquina contra o coronavírus. Em um estudo clínico em Manaus, o uso da droga foi associado a um aumento do risco cardíaco de pacientes.

Um estudo em São Paulo, do plano de saúde Prevent Senior, chegou a apresentar dados promissores sobre a redução nos índices de internação de pacientes que fizeram tratamento precoce à base de hidroxocloroquina. Esse resultado foi tema da última postagem de Bolsonaro sobre o remédio, no domingo.

 

Apesar do otimismo, os resultados e o próprio estudo têm sido questionados. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, ligada ao Ministério da Saúde, suspendeu o levantamento na última segunda-feira (20/04) porque não tinha dado aval para sua realização.

Fontes ouvidas pelo Metrópoles no Ministério da Saúde, que passa por um momento de instabilidade administrativa enquanto as equipes são trocadas, dizem que os técnicos da pasta tratam a hidroxicloroquina com cada vez mais desconfiança e que dados pouco promissores já foram passados ao novo ministro. Recentemente, a Suécia abandonou os testes com a medicação devido aos seus efeitos colaterais.

Atualmente, a cloroquina está entre os remédios previstos pelo Ministério da Saúde para o tratamento da Covid-19 em casos de pacientes hospitalizados. A ideia é monitorar possíveis alterações no ritmo cardíaco desses pacientes e, quando isso ocorrer, interromper a medicação.

O que Bolsonaro já defendeu em momentos de maior empolgação foi o uso da droga em pacientes que se recuperam em casa. Médicos podem tomar a decisão individual de prescrever a cloroquina nesses casos, mas não há, mesmo com a troca de comando, uma indicação do Ministério da Saúde para que isso seja feito amplamente.

Quando o presidente propagandeou a cloroquina com mais ênfase, seus seguidores começaram a chamar o composto de “remédio do Bolsonaro” nas redes sociais. À medida que ele perde o interesse no assunto, a curiosidade da população também cai, como mostram os dados do Google sobre as pesquisas incluindo o termo “cloroquina” nos últimos sete dias.

O pico da popularidade do termo nesse período foi registrado em 17 de abril, um dia após a queda de Mandetta. Desde então, a tendência é de queda no interesse.

Metrópoles