Mourão desautoriza Bolsonaro e defende isolamento

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Foto: Reprodução

Em sentido contrário ao discurso adotado pelo presidente Jair Bolsonaro, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, defendeu ontem medidas de isolamento social como forma de postergar a disseminação do novo coronavírus, e disse que o país deve manter a quarentena durante todo o mês de abril. Mourão afirmou que o pico de casos de covid-19 é esperado para o fim do mês, no período entre os dias 20 e 25, e disse que a retomada das atividades econômicas será um processo “lento, gradual e seguro”. No Brasil, ao menos 299 pessoas já morreram por conta da doença e há 7.910 contaminados pelo novo coronavírus.

Ao falar com investidores e empresários em palestra virtual promovida pelo BTG Pactual, o vice-presidente da República disse que o país está enfrentando um momento de “pré-pico” do número de casos de covid-19. “Temos que continuar a política de isolamento no sentido de atravessar o mês de abril”, afirmou. Mourão ressaltou que o governo espera a chegada de insumos e o reforço do sistema de saúde para enfrentar a pandemia.

O vice-presidente foi cauteloso ao falar sobre a previsão do governo para o fim da quarentena, e disse que é preciso fazer uma “análise constante” da evolução dos infectados pela doença antes de pensar na retomada das atividades econômicas não essenciais. “O processo vai ter que ser lento, gradual e seguro, de modo que pouco a pouco as atividades vão funcionando”,disse.

Mourão incentivou indústrias e empresas a fazerem testes em massa em seus funcionários para detectar possíveis infectados, mas ponderou que o pleno funcionamento das atividades não será agora, mas sim “a partir do momento que ultrapassarmos a curva do pico da doença”.

Diferentemente de Bolsonaro, o vice-presidente afirmou que tem seguido o isolamento como medida para se proteger de uma eventual contaminação, e disse que sua equipe tem trabalhado em esquema de rodízio para evitar a aglomeração no local de trabalho. “Como vice, já vivo uma vida de confinamento”, disse Mourão, afirmando que sua rotina tem sido “de casa para o trabalho, e do trabalho para casa”. O vice-presidente afirmou que não tem visitado nem recebido a visita de seus filhos e netos, para evitar o contágio. “Muito pouca gente tem contato comigo”, disse. “Recebo número reduzido de pessoas, respeitando o espaçamento de dois a três metros. Minha equipe está em sistema de rodízio para evitar sobrecarga de gente”, afirmou, demonstrando um comportamento diferente do presidente. No domingo, por exemplo, Bolsonaro passeou pelo Distrito Federal e teve contato com seus apoiadores, apesar das recomendações da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde sobre a quarentena.

Ao falar sobre a crise do coronavírus, disse que a palavra-chave será a “cooperação”. “Tudo na vida passa. Serão 30 dias, 60 dias, mas depois a vida voltará ao normal”, afirmou, dizendo em seguida que os governos farão um esforço conjunto posteriormente para reerguer empresas. “Todos perderemos na crise, mas vamos ganhar o sentimento de união e de capacidade de superar desafios”.

Aos investidores e empresários, Mourão afirmou que as despesas da União com medidas para enfrentar a crise não podem se transformar em gastos permanentes. “Vamos aumentar o endividamento. É uma dívida que todo o povo vai pagar nos próximos anos”, disse, ponderando em seguida que é uma dívida justa. “[É preciso] Cuidado para que não haja desperdício”, disse.

Valor