Pandemia pode ser mais grave na América Latina

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Foto: Marcos Pin/AFP

A pandemia do coronavírus chegou à América Latina e ganhou contornos distintos em relação a Ásia, Europa e EUA: no continente, a doença tem ambiente político e econômico em geral propício para se disseminar.

Imagens de Guayaquil, no Equador, mostram cadáveres sem ser enterrados por conta da saturação do sistema municipal. A questão é que a cidade não é muito diferente de muitas metrópoles latinas: capital econômica do país, com 2,2 milhões de habitantes, grandes bolsões de pobreza, desigual e com taxa de informalidade econômica de mais de 60%, segundo o governo, o que significa falta de proteção aos trabalhadores.

Estes elementos podem potencializar a letalidade da Covid-19 na região, que tem países com sistemas de saúde com menos estrutura do que os europeus.

Além disso, a dificuldade de implementar quarentenas passa por questões culturais —sociedades litorâneas e quentes, como as caribenhas, não estão acostumadas a ficar dentro de casa— e habitacionais —em favelas de Bogotá ou Buenos Aires, é comum que famílias inteiras vivam em ambientes de um ou dois quartos, o que torna a medida de isolamento social um ideal distante.

Na Venezuela, os hospitais sequer tinham os insumos básicos para as emergências, antes da chegada do coronavírus.

Some-se a isso a atuação dos líderes políticos. As duas principais economias e populações da região, Brasil e México, têm governantes que a princípio assumiram posturas negacionistas em relação à pandemia e só agora estão aceitando algumas das medidas adotadas em todo o mundo. O tempo perdido até que se dessem conta do tamanho do problema pode ser crucial na contagem final dos mortos.

Já no Chile, na Argentina e no Peru os governantes foram mais ágeis. Nestes países, foram implementadas medidas de quarentena logo depois do surgimento dos primeiros casos, o que, ao final, tem aumentado a popularidade de seus líderes.

A maior prova disso é o renascimento de Sebastián Piñera (Chile) —que vinha desacreditado publicamente por conta dos protestos no país—, mas devido à baixa letalidade da doença por lá (0,5%), viu sua popularidade passar de 8% para 15%, segundo o instituto Cadem.

Em sociedades em que a pobreza é alta, como na Bolívia, já há manifestações por conta da fome. Na Argentina, vêm ocorrendo saques a mercados nas periferias de Buenos Aires.

Ainda se aguarda o pico da pandemia na América Latina. Especialistas falam em fim de abril, começo de maio. Depois do epicentro da epidemia mudar de Wuhan para a Itália, e de lá para os EUA, espera-se que ela não encontre nos países latinos o lugar mais propício para se propagar.

Os governos tiveram tempo para se preparar, mas nem todos o usaram bem. O resultado está por ser visto nas próximas semanas.

Folha de S. Paulo