Povo de Nova Iorque descarta luvas e máscaras nas ruas

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Foto: Al Bello/Getty Images/AFP

Máscaras e luvas descartáveis estão por todos os lados em Nova York. Nos rostos e nas mãos, para proteção. Mas também oferecendo perigo nas ruas, nas calçadas, nas entradas de edifícios, nos carrinhos e nas cestas de supermercado.

Muitas pessoas que recorrem a esses itens para sair de casa protegidos contra o novo coronavírus não mostram o mesmo cuidado na hora de descartá-los antes de entrar em seus carros e residências.

E aí criou-se o paradoxo: o que deveria proteger a população agora pode também colocá-la em risco.

Relatos e imagens de máscaras e luvas jogadas pelo chão têm surgido de todas as regiões de Nova York e de cidades vizinhas, inundado grupos de moradores nas redes sociais e provocado irritação.

Funcionária do departamento de assuntos econômicos e sociais da ONU (Organização das Nações Unidas), Patricia Stifelman, 51, encontra esse tipo de lixo pelas ruas sempre que passeia com o cachorro pelo Upper East Side, área nobre de Manhattan.

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“É uma porqueira. Acho que as pessoas não pensam no que estão fazendo ou estão tão desesperadas para não se contaminar que querem se livrar daquilo. Mas nessa região há uma lixeira por esquina, não tem desculpa”, afirma.

O prefeito Bill de Blasio pediu que os nova-iorquinos denunciem quem estiver jogando máscaras e luvas no chão. A multa pode chegar a US$ 200 (R$ 1.018).

“Nós não gostamos de lixo jogado na rua em nenhuma hipótese. Mas principalmente quando pode haver um vírus mortal nessas luvas ou máscaras. Não estou tentando ser alarmista, é apenas bom senso”, esbravejou o prefeito em entrevista na semana passada.

Os EUA apresentavam, até a tarde desta quinta-feira (9), quase 425 mil casos de Covid-19 e mais de 15 mil mortes. O Estado de Nova York acumulava mais de 149 mil infectados e 6.200 óbitos.

Além de ser um comportamento questionável em relação à limpeza urbana, descartar máscaras e luvas em lugar inapropriado gera riscos.

Segundo Doris Bucher, professora de microbiologia e imunologia da New York Medical College, é possível ser infectado ao tocar em um desses itens.

“Se alguém pegar um objeto desses sem pensar, terá que evitar tocar o rosto e lavar as mãos muito bem”, avisa.

A engenheira de telecomunicações Nivea Rocha, 46, levou um tremendo susto ao sair para caminhar com o filho de três anos à beira do rio Hackensack, dentro do condomínio fechado de alto padrão onde mora, em Jersey City, cidade vizinha a Nova York.

“Meu filho quase pegou uma luva no chão para brincar. Ele só parou porque eu gritei, gritei muito”, relata. “As pessoas ainda não entenderam que essa doença não é um problema individual, que a ação de um afeta o coletivo.”

Após muitas reclamações, a administração do condomínio enviou uma carta aos moradores pedindo que o comportamento inadequado parasse imediatamente. Sem muito sucesso.

“Outro dia já achei uma luva no chão”, lamenta Nivea.

Os estacionamentos e os carrinhos de supermercados têm sido dois dos principais focos do problema.

A rede ShopRite, por exemplo, colocou cartazes em suas lojas pedindo para os consumidores serem mais responsáveis. Segundo o Departamento Sanitário de Nova York, máscaras e luvas podem ser descartadas no lixo comum.

Pessoas contaminadas ou em autoisolamento, no entanto, são orientadas a fechá-las em sacos plásticos antes de juntá-las ao lixo de casa para coleta.

Em Nova York e nas cidades vizinhas, a quarentena imposta pelo governo levou à diminuição drástica do tráfego de pedestres e a um menor acúmulo de resíduos nas ruas.

Em diversas vias, a limpeza é feita de forma mecânica por caminhões com “escovões” giratórios que retiram o lixo do meio-fio. Por isso, há dias e horários específicos quando é proibido estacionar para que a limpeza seja realizada.

Diante desse cenário, o prefeito de Jersey City havia suspendido a varrição. A ideia era evitar que as pessoas precisassem sair de casa para mover seus veículos, expondo-se a riscos.

Mas as luvas e máscaras descartadas sem cuidado o fizeram mudar de ideia. E esbravejar em sua conta no Twitter.

“Isso é irritante/nojento. Você acha que está mantendo você mesmo/outros seguros seguindo as orientações, mas não está ajudando se joga seu lixo médico no chão para os outros pegarem. Isso não é justo nem certo”, escreveu Steven Fulop.

Folha