Sem Moro, Bolsonaro busca novo apoio de peso

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Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

Na avaliação de Paulo Calmon, cientista político da Universidade de Brasília (UnB), a saída de Sergio Moro do governo deve fazer com que o presidente Jair Bolsonaro perca o apoio dos defensores da Operação Lava-Jato, forçando-o a buscar novos integrantes para sua base. O especialista também vê provável prejuízo à popularidade do presidente e vê a direita chegando com vários candidatos às eleições de 2022.

Com o rompimento entre Bolsonaro e Sergio Moro, o senhor acha que os eleitores de direita ficarão divididos? Ou seja, uma parte deixará de apoiar o presidente para apoiar Moro?

Acho que a coalizão que apoiou a eleição do Bolsonaro é ampla e abrange diversos segmentos do eleitorado. Parte desses grupos, especialmente aqueles que percebiam que o presidente tinha um forte compromisso com os princípios da Operação Lava-Jato, certamente ficará muito decepcionada e poderá rever o apoio ao presidente após a saída do Moro. Mas há outros segmentos que continuarão apoiando o presidente. Bolsonaro vai ter que buscar novos apoios e, aparentemente, ele já está engajado nesse processo de recomposição da sua coalizão.

O senhor avalia que esse racha pode afetar a popularidade do presidente?

Sim, haverá uma perda de popularidade, mas, provavelmente, não será muito grande num primeiro momento. No entanto, os desdobramentos no conflito Moro versus Bolsonaro e os resultados das investigações em curso poderão amplificar o impacto inicial do racha e causar estragos ainda maiores na popularidade. E não podemos esquecer o possível impacto do agravamento da crise causada pela pandemia da Covid-19. O ônus político do colapso nos sistemas de saúde simultâneo em várias grandes cidades poderá ser atribuído ao enorme descaso que o presidente atribuiu aos possíveis riscos dessa pandemia.

Na sua opinião, em razão do rompimento entre o presidente e o ex-ministro, os partidos de direita chegarão às eleições de 2022 unidos em torno de Bolsonaro ou divididos?

Não acredito que isso ocorra. O mais provável é que haja vários candidatos de direita em 2022. Em função disso, Bolsonaro terá que recompor a coalizão que o apoia, buscando novas alianças e se preparando para as muitas críticas que receberá, não apenas dos candidatos da esquerda, mas também de centro e de direita. Ciente disso, ele parece buscar avidamente recompor suas bases de apoio e buscar alianças com governadores e partidos do Centrão.

Correio Braziliense