Todos os candidatos à vaga de Mandetta pregam quarentena

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Foto: Aílton de Freitas / Agência O Globo

O presidente Jair Bolsonaro começa a receber nesta quinta-feria cotados para suceder o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Três nomes despontaram para o cargo após Mandetta dar um tom de despedida à sua entrevista coletiva nesta quarta-feira: o oncologista Nelson Teich, a cardiologista Ludhmila Hajjar, diretora de Ciência e Inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia e o cardiologista Marcelo Queiroga. Teich e Queiroga já se mostraram favoráveis à política de isolamento social adotada pelo Ministério da Saúde. Ludmilla defende a estratégia, mas avalia que é necessária uma transição para a flexibilização das medidas.

O primeiro a ser recebido no Palácio do Planalto é Nelson Teich. Ele desembarcou em Brasília na manhã desta quinta-feira para o encontro com o presidente. O médico teria, segundo relatos, apoio do chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), Fabio Wajngarten. O empresário Meyer Nigri, dono da construtora Tecnisa, também estaria atuando por Teich.

Oncologista Nelson Teich

Em artigo recente sobre a pandemia do novo coronavírus, o oncologista Nelson Teich se mostrou a favor do isolamento horizontal, como Mandetta.

“Diante da falta de informações detalhadas e completas do comportamento, da morbidade e da letalidade da Covid-19, e com a possibilidade do Sistema de Saúde não ser capaz de absorver a demanda crescente de pacientes, a opção pelo isolamento horizontal, onde toda a população que não executa atividades essenciais precisa seguir medidas de distanciamento social, é a melhor estratégia no momento”, escreveu ele no dia 3 de abril.

De acordo com o médico, o isolamento vertical, defendido por Bolsonaro, “tem fragilidades e não representaria uma solução definitiva para o problema”.

“Outro tipo de isolamento sugerido é o isolamento vertical. Nessa opção apenas um grupo de pessoas é submetido ao isolamento, no caso aquelas com maior risco de morrer pela doença, como idosos acima de 60 anos e pessoas com outras doenças que aumentam o risco de morte pela Covid-19. Essa estratégia também tem fragilidades e não representaria uma solução definitiva para o problema. Como exemplo, sendo real a informação que a maioria das transmissões acontecem a partir de pessoas sem sintomas, se deixarmos as pessoas com maior risco de morte pela Covid-19 em casa e liberarmos aqueles com menor risco para o trabalho, com o passar do tempo teríamos pessoas assintomáticas transmitindo a doença para as famílias, para as pessoas de alto risco que foram isoladas e ficaram em casa.”

Alinhado com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a atual gestão do ministério, Teich defende a testagem em massa como estratégia de enfrentamento à Covid-19. Para ele, é preciso achatar a curva da contaminação para o sistema público e privado se estruturar.

“Felizmente, apesar de todos os problemas, a condução até o momento foi perfeita. Pacientes e Sociedade foram priorizados e medidas voltadas para o controle da doença foram tomadas. Essa escolha levou a riscos econômicos e sociais, que foram tratados com medidas desenhadas para resolver possíveis desdobramentos negativos das ações na saúde”, diz o médico.

Ludhmila Hajjar, diretora de Ciência e Inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia

Defensora do isolamento social como “uma estratégia de contenção importante” para segurar a curva da Covid-19 no Brasil, a cardiologista e pesquisadora Ludhmila Hajjar, disse ao GLOBO que o país já está preparado para começar a rever a estratégia de restringir a circulação de pessoas. Cotadas para substituir o ministro Luiz Henrique Mandetta no comando da Saúde, Hajjar defende o que chama de “uma saída pelo meio, que não seja extremista” para a flexibilização das normas restritivas.

– Como médica e pesquisadora, sou favorável ao isolamento como uma estratégia de contenção importante da doença. Mas essa precisa ser uma estratégia de transição. Na minha opinião, devemos iniciar estudos sérios e simulações para oferecer à população uma saída responsável e organizada do isolamento – afirmou ao GLOBO.

Ela afirma, no entanto, que não se pode adotar “uma saída em massa e irresponsável”. A cardiologista diz que precisa ser “algo técnico, levando em consideração a nossa geografia, a variabilidade dos nossos estados e a continentalidade do nosso país”.

– Temos dois problemas: o impacto da doença na mortalidade, nos números da saúde, nas vidas das pessoas. E isso, realmente, tem que ser o nosso foco. Porém, não podemos desconsiderar o impacto sócio-econômico que essa doença está já causando na vida dos brasileiros. Temos que pensar em algo que não seja extremo. Temos que pensar na saúde da população, na economia, lembrando da dimensão continental do Brasil e das diferenças epidemiológicas nos estados e regiões – disse.

Integrante de grupos de pesquisa sobre o uso da cloroquina, Hajjar diz que, em termos de dados mundiais, ainda não se tem um tratamento “comprovadamente eficaz” contra a Covid-19. Segundo ela, hoje, há cerca de dez estudos em andamento no país sobre o uso da droga. O que se sabe, por enquanto, é que na experiência in vitro, no modelo fora do humano, o remédio é um medicamento que tem potencial de combater a infecção pelo novo coronavírus.

– Hoje, temos sugestões e opiniões, mas para ter certeza sobre sua eficiência, precisamos esperar um pouco. A experiência brasileira adotou a utilização da cloroquina para pacientes internados ou na forma grave da doença. Eu, por exemplo, tenho usado a cloroquina nos meus pacientes. Entretanto, deixo claro que isso não está cientificamente comprovado. O que a gente espera é ter resultados de estudos, tanto nacionais, quanto internacionais, de qualidade para confirmar ou não a eficácia da droga.

Marcelo Queiroga

Marcelo Queiroga é médico e atualmente presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Ele é uma das apostas do clã Bolsonaro para suceder Mandetta, como revelou a colunista Bela Megale. Ele tem relação próxima com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ)e trabalhou na equipe de transição de governo após a eleição do presidente.

Queiroga tem relação mais próxima com Flávio Bolsonaro. Ele já afirmou em entrevistas que trabalhou na equipe de transição a convite do filho “01” do presidente.

Em entrevista ao site da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Queiroga se mostrou a favor de que as pessoas continuem em casa quando puderem para conter a disseminação do novo coronavírus.

“Neste momento de crise de saúde pública, é muito importante informar aos pacientes cardiopatas sobre os riscos que correm ao se contaminarem com o coronavírus, e a necessidade de se cuidarem e se protegerem é ainda maior, seguindo seus tratamentos específicos, conforme prescrição médica. Também queremos reforçar como é fundamental a população em geral seguir o isolamento social, para evitar o contágio, e tomar todas as precauções indicadas”, disse o presidente da SBC.

O Globo