Uma seleção das coisas sem noção que Bolsonaro disse

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Foto: MARCOS CORRÊA/PR

O discurso do presidente Jair Bolsonaro em resposta ao ex-ministro Sergio Moro, que se demitiu da pasta da Justiça e Segurança Pública nesta sexta-feira 24, foi repleto de mágoas do presidente em relação ao antigo ídolo – sentimento rancoroso que data desde que foi ignorado pelo então ex-juiz da Lava Jato há três anos, como fez questão de pontuar Bolsonaro.

Para se defender, o presidente convocou todos os ministros de seu governo para se portarem, silenciosos, atrás dele enquanto algumas frases minimamente estranhas saíam do pronunciamento de Bolsonaro – apesar de ter levado um roteiro, ele resolveu ler o papel apenas no final do discurso. Bolsonaro falou por mais de 40 minutos e, nesse meio tempo, algumas frases curiosas foram soltas.

“Uma coisa é você admirar uma pessoa, a outra é conviver com ela, trabalhar com ela”, disse inicialmente Bolsonaro, antes de começar a relembrar de quando o então juiz da Lava Jato Sergio Moro, no dia 30 de março de 2017 (como bem lembrou o presidente), ignorou a investida de Bolsonaro para cumprimentá-lo em uma lanchonete. Remoendo um rancor inflado pela recente demissão, Bolsonaro soltou:

“Confesso que fiquei triste, porque ele era um ídolo para mim. Não vou dizer que chorei porque estaria mentindo”

Depois, o presidente começou a relembrar de quando sofreu uma tentativa de assassinato na campanha eleitoral, e, ao se defender das alegações de que ele tinha tentado interferir na Polícia Federal, o presidente quis proteger seu papel de zelo com a população brasileira:

“Desliguei o aquecedor da piscina olímpica da Alvorada. Modificamos o cardápio… mas isso não tem nada a ver. É só pra lembrar que eu tenho preocupação com a coisa pública.”

Na sequência, Bolsonaro começou a relembrar, em um fluxo de pensamento difícil de acompanhar, como ele e Paulo Guedes “implodiram o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia)” por conta de tacógrafos que seriam modificados no Brasil, e cobrou a presença da Polícia Federal na grande investigação conduzida por ele.

Mas o presidente, como quem se lembra que deve se ater ao assunto, se faz grato à corporação que ameaçou interferir: “Queremos que a Polícia Federal opere em sua plenitude.” Mas só até a “página dois” – ou até a próxima investigação que tenha mais relevância do que a um inquérito encerrado e não contestado pelos advogados do presidente, como é o Caso Adélio Bispo.

Em uma queixa da falta de informações da Polícia Federal por parte de Moro, Bolsonaro desabafou que sempre “abriu o coração” para o ex-ministro, mas que “duvida” que ele tenha feito o mesmo movimento contrário.

Por sua insistente posição de querer demitir Marcelo Valeixo – e pela sua interpretação de que era o superintendente quem queria sair, Bolsonaro propôs uma genial saída para decidir o futuro da chefia da Polícia Federal e de todos os importantes processos que correm na corporação: “Então vamos conversar. Por que precisa ser o seu, e não o meu? Então vamos pegar, já que não vai ter interferência política, técnica e humana, e fazer um sorteio!”

Justificando a falta de apoio do ministro Moro e da Polícia Federal para seus casos particulares, o presidente, então, optou por colocar a vida privada de seu filho mais novo, Renan Bolsonaro, no jogo:

“O meu filho… de 20, 21 anos de idade, quando no caso do porteiro, no caso Adélio, que os ex-policiais teriam ir falar comigo, apareceu que meu filho, o 04, teria namorado a filha desse ex-sargento. Chamei meu filho: ‘abre o jogo’. ‘Pai, eu saí com metade do condomínio, nem lembro dessa menina’.”

Para o presidente, saber desses processos por meio da imprensa, apenas, e não pelo seu ministro, era incômodo. Sua sogra, por exemplo, era uma das que deveriam ter sido protegidas por Sergio Moro, seguindo a lógica do presidente.

“Fiquei sabendo por vocês que a mãe da Sra. Michelle [Bolsonaro, sua esposa] cometeu crime de falsidade ideológica… na sua inocência, ao invés de fazer uma cirurgia plástica para ficar mais jovem, mais bonita, ela resolveu fazer uma cirurgia na certidão de nascimento, diminuir três anos de idade. Esse foi o crime dela”.

Nas redes sociais, as falas do presidente e as expressões dos ministros de estado que, parados, escutaram ao presidente falar, viraram memes – a única reação possível:

 

 

 

 

Carta Capital