Vereador do Rio, Carluxo falta ao trabalho e se mete no Planalto

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Foto: Reprodução

Isolado por remar contra o consenso das autoridades sanitárias e brigar pela redução do isolamento social em meio à pandemia da covid-19, Jair Bolsonaro (sem partido) levou no fim de março um de seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), para despachar de dentro do Palácio do Planalto.

O “zero dois” é visto pelo pai como um bom “estrategista” na comunicação e, segundo apurou o UOL, virou uma espécie de conselheiro para essa área e também voltou a liderar ofensivas nas redes sociais. Há duas semanas, o presidente vem colocando em prática uma das orientações que recebeu: ignorar a imprensa na portaria do Palácio da Alvorada.

Carlos também preencheu lacuna deixada pelo chefe da Secom (Secretaria Especial de Comunicação), Fábio Wajngarten, que teve de ficar em quarentena depois que exames apontaram que ele havia se contaminado com o novo coronavírus. Na prática, Carlos tornou-se uma espécie de “ministro da comunicação”, segundo avaliaram auxiliares que vivem a rotina do Planalto.

A presença assídua do “zero dois” em Brasília foi um pedido do presidente. Na visão dele, o desempenho do vereador carioca nas mídias sociais em defesa do governo ou atacando adversários —entre os quais, a imprensa—, é um fator importante para manutenção da popularidade de Bolsonaro com a massa de seguidores fiéis.

Mas nem sempre foi assim. Ano passado, após uma série de desgastes com a ala militar do governo e com outros poderes, Carlos perdeu espaço e se recolheu. Ele chegou a ter de pedir desculpas por um post no Twitter sem autorização do pai.

Os ventos mudaram, e agora Bolsonaro sente que ter o filho por perto lhe dá confiança.

Em várias oportunidades, Bolsonaro declarou a interlocutores, em tom de gratidão, que Carlos teve participação crucial na campanha vitoriosa da eleição em 2018. Elogiosamente, o presidente costuma atribuir ao vereador a capacidade de conectar suas ideias a grupos bolsonaristas, que atuam na internet como multiplicadores ideológicos.

Um dos hábitos do presidente é acompanhar com atenção os comentários nas redes sociais. Críticas em geral costumam ser motivo de grande irritação — e a bola da vez é o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM).

Em face dos atritos com o titular da pasta da Saúde e do desgaste provocado pela bandeira anti-isolamento social, o presidente ficou incomodado com reações negativas entre os apoiadores. E também com o crescente apoio ao ministro, que deve ser demitido ainda nesta semana.

Orientado pelo filho, Bolsonaro concluiu que a melhor tática era parar de falar com a imprensa e tentar se comunicar diretamente com o que ele entende ser “o povo que o elegeu”.

Desde então, o chefe do Executivo federal reduziu as declarações na portaria do Palácio Alvorada, que costumavam pautar o noticiário ao longo do dia, e passou a optar por pronunciamentos em rede nacional e visitar pessoalmente locais como farmácias, supermercados e pontos de comércio popular.

Os passeios pelo Distrito Federal, que ocorreram em meio à pandemia do coronavírus, também foram interpretados como um gesto político na guerra fria com Mandetta. Ao percorrer locais públicos, Bolsonaro provocou aglomerações e contrariou diretamente as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do próprio Ministério da Saúde.

Um dos pronunciamentos que Bolsonaro fez em cadeia aberta de rádio e TV foi redigido, segundo reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo”, com o auxílio do filho. O discurso foi lido em 24 de março, quando Carlos já havia recobrado espaço no Planalto. Na ocasião, o mandatário comparou o coronavírus a uma “gripezinha” ou “resfriadinho” e pediu o fim do “confinamento em massa”.

“No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico daquela conhecida televisão”, disse ele em referência ao médico Dráuzio Varella, que apresenta quadros de saúde no programa “Fantástico”, exibido pela “TV Globo” às noites de domingo.

Preocupado em se proteger de possíveis arranhões em sua imagem, Bolsonaro também buscou, com tutela do filho, intensificar o vínculo ao público cristão. Há duas semanas, é constante a presença cada vez mais numerosa de evangélicos e católicos na portaria da Alvorada.

Quase sempre a conversa informal com o presidente ocorre em meio a orações e louvores. Todas as interações entre o mandatário e os seus apoiadores são transmitidas ao vivo em suas redes.

A estratégia coincide com a recente migração de Carlos para Republicanos-RJ, partido que é ligado à Igreja Universal e tem entre os seus quadros, por exemplo, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella.

No último domingo de Páscoa (12), o presidente participou de uma live de celebração com pastores, padres e outros líderes religiosos.

Uol