A multiplicidade de sintomas da covid19

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Foto: Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA (NIH)

Sobreviver significa viver após um determinado acontecimento. Os pacientes que sobrevivem à Covid-19, independentemente de sua gravidade, referem diferentes sintomas. No início da pandemia, a perda de olfato e paladar estavam entre as manifestações mais comuns após melhora do quadro respiratório. No entanto, diversos sintomas demoram a sumir. Quatorze dias após o início da doença, não é incomum o paciente se queixar de fadiga. Por vezes, relatam dor no peito e cefaleia contínua em função do acometimento do coração/pulmão e cérebro pelo Sars-CoV-2 (vírus que causa a Covid-19).

O médico não deve negligenciar tais sintomas, mesmo em pacientes jovens. Dor e edema das articulações podem permanecer por semanas, assim como a diarreia. O comentário feito pelos pacientes com a Covid-19 é sempre o mesmo. Por que os sintomas persistem intensos e constantes por tanto tempo? Por que esse vírus não sai de mim?

Inicialmente, acreditávamos que o Sars-CoV-2 desaparecia dos órgãos, porém a inflamação continuava, já que as células do sistema imune se mantinham ativadas. Entretanto, recentes estudos constataram que o vírus pode estar presente em diversos órgãos, semanas após o primeiro sintoma da doença. Dessa forma, esse período de convalescença é longo e deverá ser avaliado de forma individualizada. Recomenda-se que, após 14 dias, o indivíduo com Covid-19 retorne ao local de trabalho ou o faça de forma remota. É fundamental sua avaliação clínica, já que a queixa de fadiga pode estar associada a problemas físicos e não psicológicos.

Muitos perguntam acerca do paciente que sobrevive após semanas em ventilação mecânica nas Unidades de Terapia Intensiva. Várias são as queixas que vão desde aquelas relacionadas à Covid-19 até as associadas às complicações inerentes à ventilação mecânica prolongada. Estudos de autópsia ou biopsia de pacientes que faleceram de Covid-19 evidenciaram presença do vírus no pulmão, nos músculos esqueléticos e no coração até 30 dias após os primeiros sintomas. Além disso, observaram lesão pulmonar inflamatória decorrente do Sars-CoV-2, em associação à infecção bacteriana. O fígado e o coração também podem se apresentar inflamados e com focos de fibrose. Apesar de não tão frequente, os pacientes que sobrevivem após semanas/meses nas Unidades de Terapia Intensiva podem apresentar sequelas, como a fibrose pulmonar, perdurando o quadro de dispneia.

Continuamos a olhar a Covid-19 por um ângulo muito limitado. É como se olhássemos pelo buraco da fechadura de uma porta imensa. Nossa percepção ainda é limitada sobre o todo da Covid-19. Uma doença que tem apresentação clínica diversa pode acometer todos os órgãos, com grau variável de gravidade e imprevisível, um desafio para nós cientistas.

O Globo