Aliados de Bolsonaro tratam operação da PF como “troco”

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Foto: Wilton Júnior / Estadão

Em meio às investigações de suposta interferência na Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e aliados deram tom político à Operação Placebo na manhã desta terça-feira, 26, que teve como alvo o governador do Rio, Wilson Witzel. A busca e apreensão nos palácios das Laranjeiras e da Guanabara, autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), tem origem em investigação que apura desvios de recursos para atender emergência da covid-19 no Estado e foi comemorada no Palácio do Planalto e vista como um “troco” ao adversário político do presidente.

Pela manhã, o presidente, com um sorriso no rosto, deu “parabéns” à PF. A declaração da deputada Carla Zambelli (PSL-SP), que antecipou operações contra governadores, e publicações nas redes sociais dos filhos do presidente municiaram o discurso do chefe do Executivo fluminense de que é alvo de uma perseguição política.

No Planalto, a operação é vista como uma resposta a Witzel em duas frentes de batalha. A primeira delas, na avaliação de aliados, é que reforça o discurso de Bolsonaro que governadores fazem o uso político do coronavírus e promovem o “pânico” com medidas de isolamento, rechaçada pelo chefe do Executivo. Inicialmente, o presidente era contra o socorro financeiro para Estados e nunicípios justificando que beneficiaria principalmente governadores que adotaram a quarentena.

Aprovada no Congresso no início de maio, Bolsonaro promete sancionar texto nesta quarta-feira, 27, quando termina o prazo.

A busca em endereços ligados ao governador, que teve celulares e computadores apreendidos, também é encarada como uma resposta no âmbito policial. Bolsonaro acusa Witzel de manipular investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes para implica-lo. Bolsonaro também atribui ao governador fluminense vazamento de informações do processo para atingi-lo.

“Parabéns para Polícia Federal”, respondeu Bolsonaro, com sorriso no rosto, quando questionado sobre buscas no Palácio das Laranjeiras. Em seguida, indagado sobre as informações antecipadas por Carla Zambelli sobre operações que tinha governadores como alvo, o presidente respondeu: “Pergunta pra ela, pergunta pra ela”.

Um dia antes da operação que apura desvios de recursos para atender emergência da covid-19 a deputada, em entrevista à Rádio Gaúcha, antecipou ações contra governadores. Na ocasião, chegou a sugerir o nome da operação: “Covidão”. “A gente já teve algumas operações da Polícia Federal que estavam ali, na agulha, para sair, mas não saíam. E a gente deve ter, nos próximos meses, o que a gente vai chamar, talvez, de ‘Covidão’ ou de… não sei qual vai ser o nome que eles vão dar… mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal”, disse Carla Zambelli.

Ela não foi a única a dar indícios de que esperava por uma operação da PF contra governadores. Na segunda-feira, 25, o filho do presidente e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), publicou um vídeo de uma atuação da PF em Fortaleza (CE) no mesmo tom. “Os que achavam que se aproveitariam da pandemia para roubar e ficar impunes se enganaram. E acredito que tenha muito mais operação para vir aí. O que acham?”, disse ele aos seguidores.

Nesta manhã, após as buscas nos endereços do governo do Rio, Eduardo foi irônico citando o nome da operação. “Vai te gente que vai descobrir hoje que hidroxicloroquina não é placebo. Placebo é oooooutra coisa”, escreveu.

Também na noite de segunda-feira, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), primogênito do clã, compartilhou uma publicação apontando superfaturamento na montagem de hospital de campanha no Rio. Na legenda, escreveu: “Alguma coisa errada que não está certa”. O senador apoiou Witzel na campanha eleitoral de 2018.

Após a operação Placebo, Witzel reagiu dizendo se tratar de um ato de perseguição política do presidente por meio da Polícia Federal. Em pronunciamento no Palácio Laranjeiras, sua residência oficial, ele chamou o presidente de fascista e disse que o senador Flávio Bolsonaro deveria estar preso.

Em transmissão ao vivo, o senador rebateu os ataques e afirmou que tem muita coisa para vir à tona contra o governante. O senador, que negou ter acesso a informações privilegiadas, disse que faz tempo que escuta sobre possíveis desvios feitos no governo do Estado.

“Tem tanta coisa errada no seu governo e é por isso que me afastei desde o início”, disse o senador durante transmissão ao vivo em seu perfil em uma rede social. “Isso não é nada perto do tsunami que pode chegar contra você. Pelo menos meia dúzia de secretarias vai ter problema”, disse o senador.

Estadão