Antonio Fagundes diz que Regina saiu do governo “queimada”

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Foto: Reprodução

Antonio Fagundes estrearia esse mês a temporada carioca da peça “Baixa terapia” se não fosse o coronavírus. Isolado em sua casa, no Rio, ao lado da mulher, a atriz Alexandra Martins, o ator de 70 anos define como um “choque” o efeito da pandemia não só no teatro, como em toda cena cultural brasileira.

— O teatro vai sofrer muito até acharem uma vacina. As sinfônicas, as óperas, espetáculos de dança, tudo que exige uma concentração grande de público — avalia. — É um grande choque para a cultura brasileira, que já estava sendo sucateada antes da pandemia.

Fagundes é o segundo participante do “Entrevista na janela”, série em vídeo produzida pelo GLOBO, para este período em que cientistas e autoridades médicas recomendam o distanciamento social — o primeiro entrevistado foi Fabio Porchat. A entrevista foi realizada pela repórter Maria Fortuna por telefone e gravada por um drone.

Par romântico de Regina Duarte em novelas como “Vale tudo”, o ator diz que a colega “saiu queimada de todos os lados” do comando da secretaria da Cultura de Bolsonaro.

— A classe não gostou nem um pouco da participação dela. Nem os próprios bolsonaristas. Então, foi uma inútil passagem para a biografia dela.

Sobre o nome cotado para substituir a atriz no posto, o do ator Mário Frias, Fagundes é categórico:

— Enquanto o governo estiver interessado em sucatear a educação, a cultura e todas as conquistas que tivemos até hoje, nada vai resolver. Nem a economia resolverá com qualquer pessoa que se coloque lá — afirma. — Quem entrar em ministério e tiver que obedecer às ordens desse governo autoritário vai ter problemas. A gente está vendo isso inclusive no Ministério da Saúde no auge de uma pandemia.

O ator diz que o silêncio diante de mortes recentes de personalidades da cultura do país, como Rubem Fonseca, Moraes Moreira, entre outros, é “uma consequência da mentalidade desse governo”.

— Um governo que diz ‘e daí?’ pra quase 20 mil mortos não vai levar em conta dez ou 20 intelectuais que venham a morrer — lamenta. — Flávio Migliaccio faz falta e fez muita diferença nos anos em que esteve com a gente. Assim como Lima Duarte e todos que se preocupam com a cultura e com uma sociedade mais justa.

Apesar dos pesares, pessoalmente, o ator tem vivido bons momentos na quarentena.

— Ficar em casa nesse momento tem sido a redescoberta de uma vida que eu tinha perdido há mais ou menos 50 anos. Porque a gente trabalha muito, né? Estou aproveitando para arrumar a casa, jogar muita coisa fora — conta ele, que também tem lido muito. – Estou lendo “21 lições para o século 21”, do (Yuval) Harari, e “Amazona”, do Sérgio Sant’Anna, que, infelizmente, acabamos de perder. Lendo, consigo relaxar das notícias. A leitura me leva a outras realidades e contribuiu para que eu consiga analisar melhor a realidade que estamos

A convivência intensa com a mulher é outro ponto alto do confinamento.

— Outro dia, alguém disse que a gente estava dentro de uma panela de pressão, que fazia as coisas se intensificarem. Mas o que a panela de pressão faz é exercer pressão no que estava lá dentro antes. Se a pressão sobre as coisas for boa, só vai unir mais esse casal. Como temos essa relação boa, o que a panela está fazendo é nos aproximar mais. Está sendo bom ficar junto.

O Globo