Após vídeo, Moro entrega mais provas contra Bolsonaro

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Foto: Adriano Machado

Novas mensagens de Jair Bolsonaro (sem partido) ao ex-ministro Sergio Moro (Justiça) reforçam a versão do ex-juiz de que o presidente tentou intervir na Polícia Federal trocando o ex-diretor-geral Maurício Valeixo.

​Uma cobrança de troca de comando na PF ocorreu poucas horas antes da reunião ministerial do dia 22 de abril.

Em texto enviado às 6h26 daquela quarta-feira, Bolsonaro escreveu: “Moro, o Valeixo sai nessa semana”, afirmou. “Isto está decidido”.

A seguir, enviou: “Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex oficio [sic].”

​As mensagens foram divulgadas inicialmente pelo jornal O Estado de S. Paulo e obtidas pela Folha.

​Moro respondeu 11 minutos depois e pediu para conversar pessoalmente com Bolsonaro sobre o assunto. “Presidente sobre esse assunto precisamos conversar pessoalmente, estou ah disposição para tanto”, escreveu.

As mensagens constam do inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) que apura as acusações de Moro, que deixou o governo acusando o chefe de tentar interferir politicamente na Polícia Federal.

Valeixo foi exonerado no dia 24 de abril, um dia depois de o presidente avisar a Moro que havia decidido trocá-lo, o que levou à demissão do ex-juiz do Ministério da Justiça.

Na manhã do dia 23, o presidente enviou uma mensagem a Moro falando da troca de Valeixo. Ao citar matéria do site O Antagonista intitulada “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas”, Bolsonaro escreveu “Mais um motivo para a troca”, se referindo à sua intenção de tirar Valeixo do comando da corporação.​

​Bolsonaro nega que, durante a reunião no Planalto do dia 22 de abril, tenha se referido especificamente à PF em suas falas.

Afirma que jamais buscou pressionar Moro para mexer na corporação com o objetivo de influenciar em investigações ligadas a questões pessoais ou familiares.

Na sexta-feira (22), foi divulgada a gravação da reunião entregue pelo governo ao STF no inquérito.

​O teor do vídeo e os depoimento em curso são decisivos para a PGR (Procuradoria-Geral da República) concluir se irá denunciar o presidente Jair Bolsonaro por corrupção passiva privilegiada, obstrução de Justiça e advocacia administrativa por tentar interferir na autonomia da Polícia Federal.

​À noite, no Palácio da Alvorada, Bolsonaro repetiu que não tentou interferir na Polícia Federal, como acusou Moro.

​”Nunca interferi na PF, mas, coincidência, só depois da saída do Sergio Moro que a PF começou a andar pra frente. Eu nunca interferi, sempre liberdade total”, afirmou.

A troca de mensagens mostra ainda que Bolsonaro reclamou de operações do Ibama com o apoio da Força Nacional contra desmatamento na Amazônia.

Durante a operação perto do município de Uruará e da Terra Indígena Cachoeira Seca, no sudoeste do Pará, os fiscais queimaram três caminhões e dois tratores usados para retirada ilegal de madeira e apreenderam um caminhão.

Conforme deixavam a área, pessoas no local queimaram uma ponte e cercaram o veículo apreendido.

A Moro, Bolsonaro escreveu: “Força Nacional, IBAMA e FUNAI…As coisas chegam para mim por terceiros…Eu não vou me omitir”.

O ex-juiz, então, respondeu e disse que a Força Nacional e a Funai não têm autorização para destruir equipamentos. “Lamento situação do vídeo mas eh prematuro falar em envolvimento delas no episódio (sic)”, escreveu Moro, dizendo que ia checar a informação.

A seguir, Moro afirmou que Força Nacional e Funai não tinham relação com a quebra das máquinas e que apenas o Ibama estaria envolvido. Quase meia hora depois, o ex-ministro disse que a Funai não participou das ações, mas ressaltou que a destruição dos maquinários havia se tornado uma prática do Ibama.

“A Funai não efetua essas destruições. No caso em específico, creio que bastaria a alteração da norma, mas isso não impediria o MPF [Ministério Público Federal] de baixar alguma recomendação para destruição do maquinário”, disse Moro.

Folha