As encrencas de Zambelli

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Foto: Reprodução

Carla Zambelli foi só a 57ª mais votada entre os 70 deputados federais eleitos por São Paulo em 2018 – muito atrás, por exemplo, de nomes como Joice Hasselmann, do mesmo partido, ex-líder do governo Jair Bolsonaro no Congresso, que teve 1.078.666 votos. Mas é hoje um dos parlamentares mais próximos ao presidente e, mais do que isso, se tornou personagem constante de boa parte dos acontecimentos polêmicos recentes envolvendo o governo.

Primeiro, teve reveladas as suas trocas de mensagens com o ex-ministro Sergio Moro, mostrando como tentou convencê-lo insistentemente a permanecer no governo, em meio à crise envolvendo a demissão do então diretor-geral da Polícia Federal, Mauricio Valeixo. A deputada chegou a acenar com a possibilidade de ele ser indicado por Bolsonaro a ministro do Supremo Tribunal Federal, um sonho antigo do ex-juiz da Lava-Jato. Moro não só respondeu que não estava à venda, como vazou as mensagens ao Jornal Nacional. O episódio magoou Zambelli, de quem Moro havia sido padrinho de casamento há pouco tempo. Pelo episódio, ela teve que prestar depoimento em inquérito conduzido pelo STF.

Depois, participou da articulação para encontrar uma saída honrosa para Regina Duarte do cargo de secretária da Cultura – negociou com Bolsonaro a nomeação dela para dirigir a Cinemateca, para não ficar “desamparada” após ter rompido o seu contrato com a TV Globo para aceitar o posto no governo. De quebra, Zambelli ainda se reuniu com o ator Mário Frias para sondá-lo e indicá-lo para ser o sucessor da atriz.

Agora, a polêmica parece ser mais séria. Em entrevista à Rádio Gaúcha, na segunda-feira 25, ela sugeriu ter conhecimento de operações que a PF realizaria contra governadores. “A gente já teve algumas operações da Polícia Federal que estavam ali, na agulha, para sair, mas não saíam. E a gente deve ter nos próximos meses o que a gente vai chamar, talvez, de ‘Covidão’ ou de não sei qual vai ser o nome que eles vão dar. Mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal”, disse.

No dia seguinte, a PF fez uma operação envolvendo o governador do Rio de Janeiro, Wilton Witzel (PSC), desafeto de Bolsonaro, e despertou no meio político a suspeita de que a ação havia sido antecipada a parlamentares bolsonaristas. Outros, como a deputada federal Major Fabiana (PSL-RJ), também haviam dado indicação de que algo contra Witzel estaria a caminho.

O filho do governador, Erick Witzel, tornou pública a suspeita. “Ontem, à Rádio Gaúcha, Carla Zambelli anunciou que haveria operações da PF contra governadores. Hoje, a polícia está na casa de Witzel. Como uma deputada tem essas informações? Isso é mais uma prova da interferência. Era para isso que Bolsonaro queria trocar Valeixo?”, perguntou.

Enquanto a operação era realizada, na manhã desta terça-feira, Zambelli estava no Palácio da Alvorada com Bolsonaro. Ao deixar a sua residência oficial, o presidente saudou a ação: “Parabéns à Polícia Federal”, disse.

Em nota,a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) defendeu a investigação da suspeita e lembrou que Zambelli tem boa relação com a Associação dos Delegados da Polícia Federa (ADPF). “É conhecido e notório o vínculo da parlamentar com a associação de delegados, desde quando era líder do movimento Nas Ruas”, diz trecho da nota, lembrando o tempo em que a parlamentar era integrante do grupo responsável por manifestações pelo impeachment da então presidente Dilma Rosseff. “A lisura das investigações e o sigilo das operações devem ser preservados em qualquer circunstância”, afirma a Fenapef.

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