Auxiliar de Aras temem que ele prevarique sobre Bolsonaro

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Foto: Adriano Machado/Reuters

Procuradores lotados na Procuradoria-Geral da República (PGR) manifestaram espanto com o conteúdo do vídeo da reunião ministerial realizada em 22 de abril, tornada pública na última sexta-feira. Além de apontarem os aspectos pitorescos do encontro, eles entendem que há espaço para uma denúncia criminal contra o presidente Jair Bolsonaro.

Apesar disso, ninguém se arrisca a apostar na decisão que será tomada por Augusto Aras, titular da PGR. Uma das razões para isso é o fato de Aras ser considerado internamente uma espécie de outsider, ou seja, alguém que antes de ascender ao cargo máximo do Ministério Público Federal (MPF) não era muito conhecido pelos colegas.

A nomeação dele por Bolsonaro quebrou a tradição da lista tríplice eleita pela associação de procuradores. De quebra, colou no PGR uma aura de ambiguidade. “Com o Rodrigo (Janot), concordando ou não, a gente já sabia o que ia acontecer”, afirmou um procurador sobre o antigo titular da PGR, responsável por duas denúncias contra o ex-presidente Michel Temer.

Ao mesmo tempo em que dizem ser impossível ignorar as falas e, principalmente, as atitudes de Bolsonaro como provas de alguns crimes, entre os quais advocacia administrativa, os procuradores acham perfeitamente factível que Aras encontre uma interpretação para enterrar a denúncia.

Mesmo nesse cenário, os procuradores acreditam que o presidente da República acabará sendo denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF). “Se o Aras não fizer nada, algum governador vai entrar com queixa-crime, por meio de uma ação penal privada ou algo do tipo”, afirmou ao Valor um membro da PGR.

Na última sexta-feira, Aras informou que só iria se manifestar após assistir à íntegra do vídeo. A expectativa é de que ele se pronuncie oficialmente até o final desta semana. Hoje, ele participou de uma solenidade com Bolsonaro e disse que a independência dos poderes não pode gerar o caos.

Além do presidente, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi alvo de críticas severas na PGR. Ele foi classificado como o “Darth Vader” da reunião, referência ao vilão da saga Guerra nas Estrelas. Salles disse durante a reunião ministerial que o governo deveria aproveitar a desatenção momentânea da imprensa para “passar a boiada” na aprovação de normas que flexibilizam fiscalizações e punições a crimes ambientais.

“Ele não só falou, como fez. No período de um mês entre a reunião e o vídeo, muitas decisões foram tomadas”, disse o procurador.

Valor Econômico