Bolsonaristas se defendem de acusações de fake news

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Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Seis deputados federais bolsonaristas são investigados no Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que apura fake news e ameaças contra ministros da Corte. São eles: Bia Kicis (DF), Carla Zambelli (SP), Daniel Silveira (RJ), Filipe Barros (PR), Cabo Junio Amaral (MG) e Luiz Philippe de Orléans e Bragança (SP). Todos os seis ainda estão filiados ao PSL – que abrigava o presidente Jair Bolsonaro até o final do ano passado – , e foram intimados a depor na Polícia Federal num prazo de 10 dias em razão da operação deflagrada nesta quarta-feira.

Além deles, dois deputados estaduais de São Paulo apoiadores do presidente foram alvos de busca e apreensão. São eles: Douglas Garcia (PSL) e Gil Diniz (PSL). O ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) também é um dos investigados.

Conheça um pouco das redes sociais de alguns deputados envolvidos no inquérito.

Mais antigo entre os políticos envolvidos, o presidente do PTB foi o responsável por denunciar o mensalão no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi preso por participar do esquema de compra de votos no Congresso. Desde então, ele se tornou adversário do PT.

Recentemente, ele passou a fazer ataques ao STF e aos ministros da Corte. Em postagens nas redes sociais, o ex-deputado chegou a pregar o fechamento do Supremo ao postar fotos com armas. E pediu à Presidência que dê um golpe à Constituição. Pouco antes de aparecer com um fuzil na mão para “combater o comunismo”, ele também pediu a Bolsonaro para “demitir” os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal.

Nesta quarta-feira, após a deflagração da operação, o ex-deputado compartilhou uma imagem da estátua da Justiça, localizada em frente ao prédio do STF, rasgando a Constituição. Na legenda, ele compara o Supremo com o Nazismo: “Tribunal do REICH. O que o STF vem fazendo com nossa Constituição. Afrontando nossos direitos e garantias individuais e coletivas”.

Jefferson compartilhou postagens do site Jornal da Cidade Online, conhecido por compartilhar notícias falsas ou distorcidas pelo menos desde as eleições de 2018 e que hoje é alvo de uma campanha contra notícias falsas na internet.

Em 25 de maio, ele compartilhou uma publicação na qual o site afirmava que um jurista afirmou que Celso de Mello agiu mais politicamente do que como magistrado. O ex-deputado federal escreveu: “É o que temos dito aqui. Com prazo de validade perto de vencer, Celso de Mello quer fazer justiça com a própria caneta”, fazendo referência à aposentadoria do ministro.

No dia 24 de maio, Jefferson escreveu que o STF agia para inviabilizar o governo Bolsonaro e o Brasil e que não há chance do presidente “governar com eles”. As palavras foram compartilhadas ao lado de uma imagem de uma apoiadora do presidente segurando um cartaz escrito “Supremo é o povo”.

 

No mesmo dia, ele pediu a aposentadoria compulsória de todo o STF, escrevendo que “não dá mais para convivermos com esses ministros” que, segundo ele, são “empregados dos partidos de esquerda”, completando: “xô xô xô”.

 

Deputada bolsonarista com mais de 557,8 mil seguidores no Twitter, Bia Kicis tem usado a hashtag #DitaduradoSTF e #CensuraDoSTF em suas postagens. Nesta quarta-feira, após a deflagração da operação, Kicis escreveu para seus seguidores pedindo que usassem a hashtag. Ela nega.

 

Ainda nesta quarta-feira, ela chamou de “abusos de autoridade e atos antidemocráticos” as ações do ministro Alexandre de Moraes, que, segundo ela, seria “cúmplice da ditadura”.

 

Kicis também defendeu a nota emitida pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, sobre a apreensão do celular do presidente. A deputada compartilhou a nota destacando o trecho em que Heleno afirma que a apreensão seria ” uma “afronta à autoridade máxima do Poder Executivo e interferência inadmissível de outro Poder” e que “poderá ter consequências imprevisíveis”. Ela completou escrevendo: “Grande General”. A mensagem do ministro foi recebida por autoridades como uma “ameaça golpista”.

 

Nas redes, Kicis também separa um espaço para defender a cloroquina no combate a Covid-19. Embora o medicamento não tenha tido a eficácia comprovada, a bolsonarista afirma que o uso precoce do medicamento “tem feito a diferença quando se trata de salvar vidas”. Ela ainda escreveu que o Partido dos Trabalhadores “pediu que o STF proíba que o presidente recomende seu uso precoce até que haja provas científicas. Bandidos!”.

 

Seguida por 866,3 mil usuários, a deputada federal Carla Zambelli é a mais influente entre os investigados nas redes sociais e costuma acionar bolsonaristas para impulsionar hashtags de apoio ao governo e ataques a opositores na intenção de fazê-las figurar entre os temas mais comentados da plataforma.

Zambelli separou algumas publicações para comentar os recentes acontecimentos envolvendo o presidente Jair Bolsonaro, como a divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril. A deputada chegou a manifestar apoio à fala do ministro da Educação Abraham Weintraub, na qual pediu a prisão de ministros do STF. Na ocasião, Weintraub disse que “por mim, colocava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”.

Zambelli afirmou que, durante manifestação pró-governo, muitos pediram para que ela mandasse mensagens de apoio ao ministro. Ela escreveu que “é impressionante como a fala dele refletiu o grito na garganta dos brasileiros” e usou a hashtag #EuApoioWeintraub.

 

Pouco antes, a deputada compartilhou a mesma imagem usada por Bolsonaro nas suas redes sociais sobre a Lei de Abuso de Autoridade para criticar a decisão do ministro do STF Celso de Mello de divulgar o vídeo da reunião. Zambelli escreveu: “E agora? quem julga atos de ministros do STF? O poder moderador existe e precisa atuar”, insinuando que o decano deveria responder criminalmente pela decisão.

 

Em outra publicação, ela transcreve mais uma frase de Weintraub na reunião e afirma: “Que orgulho!”

“‘A gente está está conversando com quem a gente tinha que lutar (…) não pode ter ministro achando que é melhor que o cidadão’. Abraham Weintraub, que orgulho!”, escreveu.

O gabinete do deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP) na Assembleia Legislativa de São Paulo, recebeu agentes da PF na operação que apura fake news e ataques contra os ministros do STF. Ele é líder do Movimento Conservador e é alvo da operação pela segunda vez.

Após a deflagração da ação desta quarta-feira, Garcia usou as redes sociais para falar que o Senado “não pode se silenciar diante do terrorismo de Estado propagado pelo STF através do inquérito inconstitucional 4781”. Ele ainda disse que se tratava de um ataque à liberdade e expressão. “Vivemos em épocas sombrias em que guardiões da Constituição Federal ameaçam direitos fundamentais sem pestanejar”.

Seus assessores,Rodrigo Barbosa Ribeiro e Edson Pires Salomão, também são alvos. Em dezembro, foram apreendidos notebook e celular na casa de Salomão, que é chefe de gabinete de Garcia. Os investigadores apuram se Garcia é um dos braços do chamado “gabinete do ódio”.

Um dos IPs investigados eram da Prodesp, companhia de dados do governo paulista. A suspeita é que mensagens com notícias falsas tenham partido do gabinete do deputado.

Em discurso na sessão plenária da Alesp, no dia 19 de março, o deputado falou sobre a crise diplomática com a China provocada por uma declaração do deputado federal Eduardo Bolsonaro. Na ocasião, o filho do presidente responsabilizou o país pelo coronavírus, chamado por Garcia de “Chinavírus”. Por meio de seu embaixador no Brasil, Yang Wanming, o país asiático, que é o principal parceiro comercial do Brasil, manifestou veemente repúdio a declaração do deputado, chegando a dizer que o filho do presidente Jair Bolsonaro “contraiu um vírus mental” em Miami.

No discurso, Garcia declarou que “Em nenhum momento dessa publicação o deputado Eduardo Bolsonaro atacou o chefe de estado, mas a embaixada na China se sentiu na autoridade de atacar o presidente do Brasil. É uma ofensa pessoal. Isso é um absurdo. E onde que a imprensa fez todo esse alarde, a imprensa apareceu dizendo que a embaixada da China no Brasil estava errada? Não teve uma nota sequer. Passaram simplesmente a achincalhar o deputado federal Eduardo Bolsonaro”.

O deputado também é defensor do “isolamento vertical”, na qual apenas pessoas do grupo de risco ficariam isoladas. Essa teoria não tem respaldo científico e é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro. Em uma publicação no Twitter, compartilhada mais de 1,2 mil vezes e curtida por 4,4 mil pessoas, ele escreve que ja protocolou “inúmeros decretos legislativos que derrubam a quarentena e já cheguei a implorar em plenário para que a ALESP paute esses projetos, mas infelizmente o legislativo paulista está rendido às vontades do Governador”.

No dia 22 de maio, mesmo dia em que o ministro do STF Celso de Mello liberou o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, Garcia parabenizou os ministros Salles, Damares Alves e Weintraub, que chegou a pedir a prisão de todo o STF.

 

O Globo