Bolsonaro acusa presidente da Câmara de sabotar economia

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Foto: Fátima Meira/Futura Press/Folhapress

Em videoconferência com um grupo de empresários na manhã desta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro acusou quem comanda a Câmara dos Deputados, sem citar nominalmente o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de atuar para “afundar a economia para ferrar o governo”. Ele citou a decisão de Maia de designar o PCdoB – no caso, o deputado federal Orlando Silva (SP) – para a relatoria da Medida Provisória (MP) 936, que permite redução de jornada de trabalho e salários em até 70%.

A conversa teve com principal interlocutor o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Os ministros Paulo Guedes (Economia), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Jorge Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência), e o secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, estavam ao lado de Bolsonaro.

– Entregar a relatoria da flexibilização do contrato para o PCdoB é para não resolver. Então tem gente que não é do governo, tá lá dentro de outra Casa que não quer resolver o assunto, parece que fizeram acordo com a esquerda. E não dá pra fazer acordo com a esquerda. E nós sabemos qual é a linha da esquerda, é uma linha sindical, é uma linha realmente que não está voltada para o desenvolvimento – declarou Bolsonaro, pedindo que os empresários se atentem a “como funcionam os Poderes em Brasília”.

O presidente reclamou na sequência da perda de validade da Medida Provisória (MP) 910, que trata da regularização fundiária na Amazônia, o que para ele foi “um absurdo, um absurdo”. E mencionou a possibilidade de o presidente da Câmara “tirar proveito político lá na frente” depois de “ferrar o governo”.

– É a mesma coisa a regularização fundiária. Caducou eu acho que anteontem a MP 910. É um absurdo, um absurdo. Agora de acordo para quem comanda a Câmara dá a relatoria, ele já sinaliza que não quer resolver nada. Parece que quer afundar a economia para ferrar o governo e talvez tirar um proveito político lá na frente – comentou Bolsonaro. – Tá, mas deixou caducar, a regularização fundiária, então tem que cobrar, pô… – complementou, depois que alguém fez um comentário inaudível.

Ele disse ainda que seu governo não apresenta propostas, projetos de lei ou medidas provisórias, que não tenham “um interesse social ou atendam a sociedade como um todo”.

– Nós não apresentamos propostas como no passado se apresentava. A nossa visa o futuro do Brasil. Mas quando se bota alguém do PCdoB… só no Brasil mesmo, o Partido Comunista do Brasil falar em democracia e liberdade do trabalho, só no Brasil mesmo. Então a tendência é a gente afundar mesmo, essa que é a tendência – declarou.

Citando “caos”, “saques de supermercado” e “desobediência civil”, o presidente afirmou que tem conversado com o ministro da Defesa, Fernando de Azevedo e Silva, sobre os “problemas que vão começar a acontecer”, devido às medidas de isolamento contra o novo coronavirus. Segundo Bolsonaro, não haverá militares o suficiente para impedir esse cenário.

– Lá na frente, eu tenho falado até com o ministro Fernando, da Defesa, os problemas vão começar a acontecer, de caos, saques de supermercado, desobediência civil. Não adianta querer convocar as Forças Armadas que não vamos ter gente para tanta GLO. Não existe gente para tanta GLO – disse.

Em seguida, defendeu a reabertura do comércio e afirmou que os governadores estão “partindo para a desobediência civil” ao não aceitar a ampliação da lista de serviços essenciais, feita por meio de decreto presidencial.

– E o povo vai estar na rua, em grande parte, por estar passando fome. E homem com fome não tem razão, ele perde a razão. E nós devemos buscar cada vez mais rápido abrir o mercado. Como eu abri agora, por exemplo, o decreto botando ali as academias, salões de beleza e barbearia. Semana passada eu botei aqui a construção civil e a questão industrial. Tem governador falando que não vai cumprir. Eles estão partindo para a desobediência civil. Se alguém não concorda com um decreto meu tem dois caminhos: um projeto de decreto legislativo no Congresso, para tornar sem efeito o meu decreto, ou ação na Justiça, e não “não vão cumprir”.

Na sequência, ele propôs aos empresários, entre eles Abílio Diniz, Luiz Carlos Trabuco e Flávio Rocha, que chamem os chefes do Executivo e dos outros Poderes para debater as medidas de enfrentamento à pandemia para, que cada um seja responsabilizado, e se colocou à disposição de ir a São Paulo. E afirmou que não se pode pensar nas eleições presidenciais de 2022.

– Então quando vocês chamarem chefes do Executivo… eu sou empregado de vocês, é só marcar que eu vou em São Paulo. Levem os presidente dos Poderes, convide-os também e vamos debater esse assunto, chefes de Poder, onde cada um seja responsabilizado por aquilo que tem que fazer. Nós aqui não podemos pensar em 22. Se nós pensarmos na eleição de 2022, o Brasil vai para o buraco – disse o presidente.

Bolsonaro afirmou que há uma tentativa de quebrar a economia para prejudicar o governo e afirmou que um possível lockdown em São Paulo é “inimaginável”. Segundo Bolsonaro, os empresários deveriam chamar o governador do estado, João Doria (PSDB), e “jogar pesado”.

– Então o que parece que está acontecendo é uma questão política, tentando quebrar a economia, para atingir o governo. É isso que parece que está acontecendo. E essa medida agora que o Fabio Wanjgarten falou aqui sobre São Paulo, ameaça de “lockout” [sic], ou seja, um apagão total, é inimaginável. Um homem está decidindo o futuro de São Paulo, está decidindo o futuro da economia do Brasil. Os senhores, com todo o respeito, têm que chamar o governador e jogar pesado, jogar pesado, porque a questão é séria, é guerra. É o Brasil que está em jogo.

O ministro da Economia, que também participava da conversa, cobrou ajuda dos empresários para pressionar o Congresso. – Então, nós precisamos do apoio dos senhores, que sempre financiaram campanhas eleitorais, que têm acesso a todos os parlamentares, que têm intimidade com presidente da Câmara e presidente do Senado, os senhores têm acesso. Trabalhem esse acesso para nos apoiar. É importante que o dinheiro da saúde chegue na saúde, por isso que o presidente está considerando o veto.

Sem especificar quem, Bolsonaro afirmou ainda que “muitos” estão tentando roubar a liberdade dos brasileiros, por meio do “empobrecimento de todos nós”. Ele disse também que os empresários precisam “lutar pelo nosso Brasil”.

– E lá na frente, eu sou avô, tem muita gente que é avô também, pelo que eu tô vendo aqui, pelas cabeças brancas, não podemos chegar para os nossos netos e falar “olha, eu vou ter que sair do Brasil porque deu ruim, deu problema e agora já era…”. Nós temos que lutar, lutar pelo nosso Brasil, lutar pela nossa liberdade. O que muitos estão visando é isso, roubar a nossa liberdade. Como? Através do empobrecimento de todos nós.

O presidente pediu, mais uma vez, aos empresarios que não anunciem em determinados veículos de imprensa que, segundo ele, “vivem esculhambando o Brasil”. Bolsonaro defendeu que os anúncios devem ir para TVs e jornais que “não fiquem levando o terror o tempo todo” aos brasileiros e que e necessario ter mais comerciais de “esperança”.

– Repito mais uma vez: os senhores que anunciam em jornais e televisões, tem TV e tem jornal que vive esculhambado o Brasil. Por favor, não anunciem mais nessa televisão e nesse jornal. Vão para outras TVs e outros jornais que tenham um jornalismo sério, que não fiquem levando o terror o tempo todo aos lares aqui no Brasil – disse, acrescentando:

– Nós temos que ter mais do que comercial de esperança, transmitir a confiança. Tanto é que vamos ter um pronunciamento gravado para sábado à noite nessa linha. Pedi ao Paulo Guedes que já comece a revisar o que eu vou falar para gente dar mensagem logicamente objetiva, voltada para a vida, voltada para a economia, para nós sairmos da situação em que nos encontramos. Nós estamos vendo o navio chamado Brasil indo em direção ao iceberg e um esperando o outro fazer alguma coisa.

Também presente na reunião, o chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social, Fábio Wajngarten, afirmou que os empresarios deveriam promover campanhas que “evidenciem as duas onda: da saude e do emprego”.

Em seguida, criticou Doria e afirmou que o governador está usando campanhas para dizer que salvou vidas e sinalizar a implementaçao do lockdown.

– Enquanto estamos discutindo a retomada da economia com os cuidados devidos, na clara explicação do ministro Paulo Guedes, vale a pena, Paulo [Skaf], como sempre liderando, que vocês promovam campanhas que sinalizem, que evidenciem as duas ondas, da saúde e do emprego. Enquanto a gente discute aqui, o governador midiático fala que salvou 25 mil vidas e sinaliza que São Paulo virá para um lockdown na próxima semana. Então é justamente o movimento contrário do que todos almejam aqui – disse.

F. Wajngarten também pediu que os empresários “pressionem os governos” e disse que a “Presidência da República” está com o setor.

Bolsonaro afirmou também que, no que depender do governo federal, o comércio estaria “todo aberto”, dentro que ele chama de “isolamento vertical” – restrito apenas aos que integram grupos de risco -, e “ponto final”.

– Os governadores, cada um assumiu a sua responsabilidade e houve uma concorrência entre muitos para ver quem fechava mais, quem defendia mais a vida do seu eleitor, do seu cidadão do seu estado em relação aos outros. O governo federal nunca foi óbice. No que depender de mim, quase nada teria sido fechado, a exemplo da Suécia – declarou.

Na saída do Palácio da Alvorada, mais cedo, ele foi questionado sobre o que explica o Brasil ter mais de 13 mil mortes confirmadas pelo novo coronavírus e a Argentina, país vizinho, ter registrado 329 óbitos, e argumentou que “é só você fazer a conta por milhão de habitantes”. Mas interrompeu seu raciocínio subitamente e pediu para falar da Suécia, que não adotou quarentena, mas já registrou 3.529 mortes.

– A Suécia não fechou. Pronto. A Suécia não fechou. Você tá defendendo… com toda certeza já entrou para a ideologia, você pegou um país que está caminhando para o socialismo, que é a Argentina. Outra pergunta aí – comentou.

O Globo