Bolsonaro ameaça Marinho por denúncia contra Flávio

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Foto: Antonio Cruz

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta terça-feira (19) que o empresário Paulo Marinho, seu ex-aliado, terá que provar a acusação que fez à Folha de suposto vazamento de uma investigação da Polícia Federal ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ),​ seu filho.

“Ele [Marinho] vai ter que provar, não vou entrar em detalhe, quem foi o delegado que teria dito para um assessor do meu filho… É sempre assim, né? ‘Ouvi dizer não sei o que lá…’. Não é ouvi dizer “, disse Bolsonaro em uma entrevista ao jornalista Magno Martins, responsável pelo Blog do Magno.

“Não é assim não. Você está mexendo com a honra das pessoas”, afirmou o presidente, em sua primeira manifestação sobre o caso desde a entrevista de Marinho à Folha, publicada no último sábado (16).

Em entrevista à colunista Mônica Bergamo, o empresário disse que, segundo ouviu do próprio filho do presidente, um delegado da Polícia Federal antecipou a Flávio em outubro de 2018 que a Operação Furna da Onça, então sigilosa, seria realizada.

Essa operação, segundo ele, teria sido “segurada” para que não atrapalhasse Bolsonaro na disputa eleitoral. De acordo com o relato, Flávio foi avisado entre o primeiro e o segundo turnos por um delegado simpatizante da candidatura de Bolsonaro à Presidência.

Os desdobramentos da operação revelaram um esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio e atingiram Fabrício Queiroz, policial militar aposentado amigo de Jair Bolsonaro e ex-assessor de Flavio na Assembleia.

O delegado-informante teria aconselhado ainda Flávio a demitir Queiroz e a filha dele, que trabalhava no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro. Segundo o relato, ambos foram exonerados em 15 de outubro de 2018 por ordem do então candidato à Presidência.

Na entrevista, transmitida ao vivo em uma rede social, Bolsonaro disse que “foi uma decisão da Polícia Federal, do Ministério Público e do Tribunal Regional [Eleitoral] adiar [a investigação] porque, naquele espaço de tempo, você não poderia prender ninguém”.

A Polícia Federal vai investigar o relato de Marinho. Além de apurar o vazamento, a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) a PF vai ouvir o depoimento de Marinho no inquérito já aberto para investigar, com base em acusações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, se Bolsonaro tentou interferir indevidamente na corporação.

O caso agora passa a ser objeto da investigação instaurada com autorização do STF (Supremo Tribunal Federal) a partir do rompimento entre Moro e o presidente. Ainda não há data para esse depoimento.

Após apuração da PF nesse inquérito, a PGR avalia se haverá acusação contra Bolsonaro. Caso isso ocorra, esse pedido vai para a Câmara, que precisa autorizar sua continuidade, com aprovação de dois terços dos deputados.

Em caso de autorização, a denúncia vai ao STF —que, se aceitar a abertura de ação penal, leva ao afastamento automático do presidente por 180 dias, até uma solução sobre a condenação ou não do investigado.​

Na live desta terça-feira, o presidente disse também que o diretor-geral da Polícia Federal, Rolando de Souza, tem “carta branca” para fazer a troca que quiser nas superintendências da corporação.

Bolsonaro disse a mesma coisa quando o ex-juiz federal Sergio Moro assumiu o Ministério da Justiça e, no entanto, tentou interferir em nomeações mais de uma vez.

“Eu indiquei o senhor Rolando. Ele tem carta branca”, afirmou o presidente.

Bolsonaro disse ainda que não filmará mais nenhuma reunião ou encontro que promover com a sua equipe de ministros e criticou a cobertura da imprensa. Ele disse que as redes sociais permitem às pessoas terem “informação real” e admitiu que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) é quem “basicamente conduz” o perfil do presidente.

Questionado pelo jornalista Magno Martins, Bolsonaro afirmou que não há motivo para defender uma intervenção militar no país, defendeu a independência dos três Poderes e o respeito ao Legislativo e ao Judiciário. O presidente, no entanto, minimizou a ditadura militar, apesar de ter reconhecido que, no período foram cometidos erros.

“Quando se fala em ditadura, nunca ouvi falar em rodizio de ditadores. Ou sai deposto ou morto. Mas tivemos cinco generais eleitos [de maneira indireta]”, disse. “Teve coisa errada? Até em casa erramos, quem dirá o presidente da República”.

Queiroz era alvo de investigação no Ministério Público do Rio de Janeiro no momento em que foi exonerado do antigo gabinete de Flávio na Assembleia do Rio.

Naquele momento, um relatório do Coaf (órgão federal de inteligência financeira) que apontava uma movimentação de recursos incompatível de Queiroz estava nas mãos da Polícia Federal, da Procuradoria da República e do Ministério Público do Rio.

Na PF, o nome dele constava em inquérito que apurava o pagamento de propina pelo ex-governador Sérgio Cabral a deputados da Assembleia do Rio. A investigação culminou na Operação Furna da Onça, deflagrada em novembro de 2018. Flávio e Queiroz não eram suspeitos neste caso.

Já no Ministério Público fluminense, o PM aposentado era tratado como investigado numa apuração sobre pagamento de “rachadinha” no gabinete de Flávio na Assembleia, onde Queiroz atuava como uma espécie de chefe de gabinete.

Essas investigações e esse relatório federal ajudam a desconstruir a versão que tem sido apresentada pela família Bolsonaro após a divulgação do relato de Marinho.

Flávio nega ter sido informado e aponta o fato de o juiz federal Abel Gomes, relator da Furna da Onça, afirmar que nem ele nem Queiroz eram alvo da operação. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), irmão dele, citou argumento semelhante para refutar as acusações de Marinho.

“Nem eu, nem meu ex-assessor, éramos alvo da operação da Polícia Federal denominada Furna da Onça. Mas, segundo meu suplente Paulo Marinho (agora assumidamente representante de Doria no Rio – PSDB), eu teria recebido informações de que a PF investigava meu ex-assessor”, afirmou Flávio em redes sociais.

Folha De S. Paulo