Bolsonaro e apoiadores param de usar máscara

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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e alguns de seus apoiadores têm ignorado o uso de máscara em áreas públicas de Brasília nos últimos dias.

Apesar de o item ser obrigatório desde 18 de maio por causa da pandemia de Covid-19, o Governo do Distrito Federal tem ignorado decretos editados pela própria administração do governador Ibaneis Rocha (MDB) e não multou ninguém desde sábado (23), quando Bolsonaro saiu para comer cachorro-quente na rua.

Um mês antes, em 23 de abril, Ibaneis, que se reaproximou de Bolsonaro recentemente, editou um decreto determinando a obrigatoriedade da utilização de máscaras de proteção facial, a partir de 30 de abril, em todos os espaços públicos, vias públicas, equipamentos de transporte público coletivo e estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços no âmbito do Distrito Federal.

Quem desrespeitasse deveria pagar uma multa de R$ 2.000, em caso de pessoa física, e de R$ 4.000 para estabelecimentos em que funcionários estivessem sem o equipamento.

Em 28 de abril, o governador editou novo decreto, adiando para 11 de maio a aplicação das penalidades do decreto anterior. Em 16 de maio, um terceiro decreto foi editado, adiando a entrada em vigor para 18 de maio.

Desde que o decreto entrou em vigor, apenas duas pessoas foram multadas, ambas na rodoviária de Brasília.

Em 11 de maio, Bolsonaro começou a sair do Palácio da Alvorada de máscara, mesmo demonstrando algum incômodo na hora de falar com apoiadores e jornalistas.

No último sábado (23), Bolsonaro chegou de máscara para em um trailer que vende cachorro-quente, mas deixou o adereço no queixo para comer o lanche. Com a máscara baixa, fez selfies e conversou com apoiadores, a maioria mascarada.

“A maioria que está aqui é da imprensa, hein? A imprensa está provocando aglomeração, hein? A imprensa provocando aglomeração aqui”, disse Bolsonaro com a máscara no queixo.

No dia seguinte, Bolsonaro foi a mais uma manifestação a favor de seu governo. Desta vez, ao contrário dos atos anteriores, em que ficava na rampa do Palácio do Planalto, resolveu ir para a rua que separa a sede do governo da Praça dos Três Poderes, onde estavam os manifestantes.

O presidente chegou ao local de máscara, mas, menos de dois minutos depois, retirou o item de proteção obrigatório. Nas imagens transmitidas em sua rede social é possível observar diversos apoiadores sem máscara ou com ela no queixo.

Naquele mesmo domingo (24), ainda sem máscara, Bolsonaro conversou com as pessoas que o aguardavam na porta do Alvorada.

Após a manifestação, o governador Ibaneis Rocha disse em conversas reservadas que não multaria o presidente, mas que entraria em contato com ele para reforçar a recomendação. Ele demonstrou incômodo com a possibilidade do gesto do presidente estimular a população a deixar de usar o acessório de proteção.​

Na segunda-feira (25), o presidente começou a cumprimentar seus apoiadores diante da residência oficial de cara limpa.

“Vou botar a máscara”, anunciou ao público, no qual havia alguns com máscara baixa, antes de passar diante dos jornalistas.

Horas depois, ao deixar o Ministério da Defesa, estava novamente sem máscara.

Manifestantes que hostilizaram jornalistas logo após a saída do presidente também estavam sem máscara. Alguns se aproximaram e, com a boca descoberta, gritaram diante do rosto dos profissionais.

Os repórteres perguntaram aos policiais militares se os manifestantes seriam multados por estarem desrespeitando o decreto do Governo do Distrito Federal, mas ouviram como resposta que outro órgão do DF era responsável por aplicar a penalidade.

Na última terça-feira (26), Bolsonaro tentou justificar a ausência do item de segurança ao falar com jornalistas na porta do Alvorada. “Tirei a máscara porque não estou perto de vocês”, disse o presidente diante dos microfones, mas distante dos repórteres.

O último decreto sobre o assunto diz que a fiscalização de seu cumprimento é atribuição de dez secretarias ou órgãos, inclusive a Polícia Militar.

A assessoria de imprensa de Ibaneis afirmou que “a política do GDF é de convencimento. Só se houver alguma reação é que o cidadão é multado. Duas pessoas foram multadas, porque a adesão tem sido grande e quem não usa, muitas vezes, é porque não tem condições”.

Diante da ponderação de que o presidente não se enquadra nesta situação, a assessoria respondeu que isso “aplica-se a qualquer cidadão”.

A Secretaria DF Legal, responsável por promover o crescimento ordenado da cidade, disse na terça-feira (26) que o balanço mais recente indicava que 44.308 pessoas foram abordadas, 24.476 estabelecimentos foram visitados, mas apenas duas multas foram aplicadas em pessoas físicas. Os números são de 22 de maio, um dia antes das andanças de Bolsonaro.

A Folha voltou a procurar a secretaria nesta sexta-feira (29), e os números informados eram os mesmos da semana passada, embora a nota diga que “a fiscalização é feita diariamente, por todo o Distrito Federal”.

Folha de SP