Brasil vira Titanic em meme

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Foto: Reprodução

A clássica versão de “Titanic”, de 1997, do diretor James Cameron, acaba de ganhar uma adaptação nas redes sociais que está fazendo sucesso: “Pandemic: A História de um País que Naufragou”.

Na obra, diversos personagens do longa são associados a políticos ou grupos de pessoas do Brasil em meio à pandemia. O áudio original é mantido, mas as legendas dialogam com os acontecimentos do país.

Spoiler: o Brasil é o Titanic.

Assista à íntegra:

O responsável pela produção é o cineasta Henrique Santilli Acquaviva, 35, de São Paulo.

Já era madrugada de domingo (10) para segunda (11) quando Henrique tentava dormir e teve um momento eureka.

Ele, fã inveterado do filme Titanic, começou a fazer associações de personagens do filme com atores da vida real do nosso país.

“Daria um filme sensacional”, pensou.

Não teve dúvidas, levantou da cama, ligou o computador e começou a trabalhar na edição até as 9h da segunda.

Mostrou uma primeira versão para os amigos mais próximos, que sugeriram pequenas alterações, e pouco depois fez o lançamento do curta de 5 minutos em suas redes sociais.

Como houve muitos pedidos para publicar no Twitter, cujo limite de vídeo é de 2m20s, Henrique adaptou na terça (12) para uma versão menor, e fez um novo “lançamento”.

 

“Com essa história do auxílio emergencial com problema, muitos memes começaram a circular com a abertura do filme [em que a sobrevivente Rose vai contar a história e diz ‘já faz 84 anos’]”, conta.

 

Era o gancho perfeito de que precisava.

O vídeo é repleto de críticas.

Bolsonaro é um dos comandantes que discutem a situação no navio. Diz, na adaptação. “Mas a economia não pode parar!”.

Outro diz: “Mas é só uma gripezinha”.

E então inúmeros atores políticos ganham destaque: Rodrigo Maia, Henrique Mandetta, as lojas da Havan, Regina Duarte, Roberto Justus.

O ex-ministro da Saúde Nelson Teich, que pediu demissão nesta sexta-feira (15) em meio a debate sobre cloroquina, aparece rapidamente, agarrado a um poste, pouco antes de a água invadir o cruzeiro –um presságio na paródia do que aconteceria na vida real.

Parte da multidão que corre desesperada enquanto o navio enche de água grita: “Bolsonaro tem razão! Mídia lixo”, enquanto outra parcela retruca: “É pra ficar em casa. Respeitem o isolamento”.

“Busquei os arquétipos que estão no imaginário popular sobre os tipos de pessoas e de comportamento, pra linkar com a realidade de quem é quem. Cada corte, cada texto tem objetivo de mostrar a situação”.

Henrique é um crítico do governo Bolsonaro e tentou levar isso ao vídeo. O cineasta associa a política em vigor no nível federal a táticas nazistas. “Hitler e Goebbels usavam a construção da narrativa e do convencimento da população pra convencer as pessoas que matar é uma política. Ele faz uso da necropolítica, o pobre que não consegue lutar, que morra. O velho que não produz é inútil. Isso é eugenia. [A diferença para o nazismo] é que a morte se dá por asfixia financeira, o cara vai morrer de doença, na rua”.

Apesar disso, Henrique vê uma luz no fim do túnel.

“A pandemia veio como uma guerra e acordou as pessoas para alertar tem gente que morre de fome na rua. O mundo estava caminhando para uma concentração de renda e agora elas se preocupam com as necessidades básicas, que é respirar, comer, beber e ter teto para dormir”.

A escolha por Titanic para fazer sua montagem foi natural. “Já perdi a conta de quantas vezes vi o filme. As novas gerações não entendem o quanto o filme foi revolucionário para o cinema da época, em termos de efeitos especiais e tecnologia na indústria cinematográfica”. Henrique também já visitou diversos locais originais do navio e até viu exibição com James Cameron em 2012, no centenário da tragédia.

No entanto, se não fosse a pandemia, algo assim não teria sido produzido –não só porque tudo que é retratado não teria acontecido, por óbvio, mas porque ele não teria tempo para estimular sua criatividade. “Na correria do dia a dia, não pararia pra fazer algo que supostamente é supérfluo. Além disso, atualmente há uma demanda por conteúdos novos, uma vez que as produções de cinema, da Netflix, etc estão paradas. Então, serviu para exercitar meu ócio criativo”, afirma.

Ele até pensou em fazer uma deepfake ao estilo de Bruno Sartori, mas, como não domina a tecnologia, levaria meses.

“Gostei do resultado. Nossos políticos são personagens, as pessoas estão revoltadas com política, quer dizer, pelo menos 2/3 dos brasileiros. Fica menos ofensivo trocar as legendas originais do que inserir os rostos nos personagens originais”.

Já que é para estimular a imaginação, Henrique vai longe.

“Tenho ouvido ‘isso merece um Oscar!’. Já estou redigindo meu discurso de premiação”.

Mesmo que seja uma premiação remota.

Folha