China acha que Brasil vai piorar e acelera importações

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Foto: Cnsphoto/Reuters

Os chineses estão preocupados com o avanço do coronavírus no Brasil, o que poderia complicar as negociações comerciais nos próximos meses.

Com isso, a China está pedindo às empresas importadoras de grãos e de alimentos que aumentem os estoques de produtos, comprando mais.

Essa preocupação, relatada pela Reuters, refere-se também a outros mercados e se deve ao temor dos chineses de uma eventual segunda onda de infecção mundial provocada pelo coronavírus.

As importações chinesas de alimentos nos últimos meses, principalmente as feitas no Brasil, confirmam essa preocupação.

De janeiro a abril, os chineses importaram o recorde de 24,7 milhões de toneladas de soja no Brasil, 73% de todo o produto que saiu pelos portos brasileiros.

Nesse mesmo período, as compras de carnes no Brasil, incluindo as de Hong Kong, somaram 558 mil toneladas, no valor de US$ 2,11 bilhões.

Das receitas recebidas pelos exportadores brasileiros com as proteínas, 38% vieram da China no primeiro quadrimestre, conforme dados apurados pela Folha.

E o ritmo chinês de importações continua acelerado neste mês de maio. Nos dez primeiros dias úteis, as exportações brasileiras totais de soja já somam 8,8 milhões de toneladas. E a maior parte desse produto vai para a China.

Se for mantido esse mesmo desempenho durante todo o mês, o que não é certeza, o país atingirá a histórica marca de 19 milhões de toneladas comercializadas em apenas um mês. Um sinal do apetite chinês pela soja brasileira é que eles continuam pagando prêmios acima do normal para o produto negociado no Brasil.

No caso das carnes bovina, suína e de frango, o volume deste mês supera em 30% o de igual período do passado.

O principal destino dessas proteínas tem sido a China, dependente de carnes devido à baixa produção de suínos. O rebanho chinês foi devastado pela peste suína africana.

As chances brasileiras no mercado chinês não se limitam a curto prazo, mas deverão continuar firmes nos próximos anos.

O China Agricultural Outlook 2020-2029 prevê que o país se manterá como grande comprador de alimentos do mundo, diversificando fornecedores e dando ênfase para grãos, proteínas animais, lácteos e pescados.

José Mario Antunes, diretor do escritório da InvestSP, em Xangai, acompanhou essa conferência sobre as perspectivas agrícolas para a China e fez uma raio-X das oportunidades brasileiras no mercado chinês na próxima década.

No caso da soja, principal produto exportado pelo Brasil, os chineses deverão elevar as importações da oleaginosa para 100 milhões de toneladas até 2029, uma evolução de 13%.

O Brasil está na lista dos maiores produtores em vários dos produtos dos quais os chineses são e serão dependentes, tais como soja, milho, açúcar e os de origem animal.

Além disso, a China elevará a dependência em trigo, arroz, frutas, ovos, lácteos e pescados, produtos que o Brasil ainda exporta pouco, mas que não deixam de ser uma oportunidade para o agronegócio do país, segundo Antunes.

O cenário chinês é favorável ao Brasil porque o país vem obtendo elevação na produção de vários itens, como o milho, e tem um câmbio favorável para as exportações, o que torna o produto brasileiro competitivo.

No setor de proteína, Antunes destaca que os chineses estão bastante dependentes de carnes suína e de frango a curto prazo, mas que a produção interna deverá se recuperar ao longo dos próximos anos.

A empresa teve receitas de R$ 13,5 bilhões no primeiro trimestre deste ano, o melhor resultado para esse período. A alta foi de 26,6% em relação a igual período de 2019.

O lucro líquido atingiu R$ 32 milhões, e a Marfrig atribui esse bom desempenho ao crescimento de 65% nas exportações no período. A empresa afirma também que teve recorde na redução de despesas financeiras.

Dos vinte principais produtos da balança comercial do agronegócio brasileiro, apenas cinco tiveram alta de preço em dólares no mês passado, em relação a igual mês de 2019.

Os produtos que tiveram as maiores altas foram milho e as carnes bovina e suína, ambas “in natura”. Já celulose, suco de laranja e etanol, lideraram as quedas, segundo o Itaú BBA. A moeda brasileira se desvalorizou 36% no período.

Folha De S. Paulo