Cotado para ministro da Saúde é pior que Weintraub

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Foto: Reprodução

Num governo em que não faltam ministros inacreditáveis, Abraham Weintraub, da Educação, se destaca.

Incompetente, boquirroto e canastrão, talvez ele agora ganhe um concorrente à altura na Esplanada, caso o psiquiatra Ítalo Marsili seja escolhido para a pasta da Saúde.

O nome de Marsili para assumir o combate ao coronavírus é parte de uma campanha da tropa de choque digital bolsonarista desde o fim de semana.

Deputados e ativistas o defendem com base no argumento de que é um conservador confiável, ao contrário do “infiltrado” Luiz Henrique Mandetta e do insípido Nelson Teich, os dois ocupantes anteriores da pasta.

Mais do que isso, Marsili é de uma cepa específica de conservadorismo, aquela ligada ao filósofo e guru Olavo de Carvalho, de quem é discípulo e com quem apregoa já ter morado nos EUA.

Um de seus defensores é o professor Rafael Nogueira, também olavista, que hoje preside a Biblioteca Nacional. Pelo Twitter, compartilhou a hashtag #ItaloMarsiliMinistrodaSaude e apresentou vários argumentos pelos quais diz que a indicação é uma boa ideia.

Alguns são um tanto inusitados, como o fato de Marsili ser pai de seis filhos e ter práticas de tiro, acampamentos militares e missões terrestres no currículo. Seria pelo fato de o combate à Covid-19 ter ganho contornos de guerra ao redor do mundo?

Um dos seus livros, “Terapia de Guerrilha” (editora Auster), segue essa metáfora bélica. Tem uma pegada de manual de autoajuda desbocado, a começar pelo subtítulo na capa: “Trabalhe. Sirva. Seja Forte. Não Encha o Saco”.

“A geração de hoje é uma geração soft, desacostumada a qualquer tipo de intempérie, contrariedade ou incômodo. Somos a geração da roupa 100% algodão, que precisa de anestesia para arrancar o siso e de lente de correção para não frisar o olhinho. Somos a geração do microondas, dos múltiplos confortos”, afirma o psiquiatra na descrição de sua obra.

Mas o ponto essencial, continua Marsili, é que a “a vida é guerra”. “Engula o choro. Quer ser um bebezão para sempre?”, pergunta.

Esse estilo joelhada nas partes baixas tem maravilhado a base bolsonarista, mas também já provocou uma reação nas redes sociais na mesma proporção.

Algumas coisas que Marsili falou no passado em entrevistas e lives são barra pesada. Numa conversa com a produtora de vídeos de direita Brasil Paralelo, falou asneiras sobre o voto feminino que fariam Weintraub corar. “É muito fácil você convencer uma mulher a votar. É só seduzi-la”, afirmou.

Em outra conversa, colocou-se contra a hipótese de um papa africano, dizendo que um sumo pontífice “negão não vai funcionar”.

Por isso, talvez sua nomeação para o ministério naufrague. Não porque Bolsonaro se escandalize com esse tipo de coisa (afinal, ele não é um bebezão).

Mas simplesmente porque os instintos suicidas do presidente talvez tenham limite. Um clono de Weintraub na Saúde nesse momento talvez seja provocação demais.

Formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marsili teve sua condição de especialista contestada por uma reportagem da CNN Brasil, em razão de não ser associado à Associação Brasileira de Psiquiatria.

Ele refuta, citando sua experiência de mais de dez anos na área, tanto em consultas presenciais quando na atuação online.

Em seu site, ele anuncia aulas em vídeo com títulos como “Como Ser Produtivo de Verdade” e “Como Ser Interessante”, ao preço de R$ 49 cada uma.

Católico praticante, Marsili diz ser mestre em Matrimônio e Família pelo Instituto de Ciências para a Família da Universidade de Navarra.

Também trabalhou como psiquiatra forense canônico no Tribunal Eclesiástico do Rio de Janeiro, órgão vinculado à Igreja que decide questões de fé e outras mais práticas, como anulação de matrimônios, por exemplo. Suas credenciais conservadoras, portanto, parecem ser impecáveis.

Se Bolsonaro nomear Marsili, ganhará respaldo renovado de sua base digital, mas ampliará o descrédito com que conduz a luta contra a Covid-19, até porque o psiquiatra não tem experiência prévia em gestão pública ou infectologia.

Por isso, convém acompanhar de perto esse tema. A escolha que o presidente fará será bastante simbólica do rumo que pretende dar a seu mandato.

Folha De S. Paulo