Damares vai a hospital de SC e ouve que cloroquina é inútil
Mesmo sem qualquer capacitação técnica ou responsabilidade formal por assuntos da Saúde, Damares Alves (Direitos Humanos) pegou um avião às 5h da manhã desta quinta (14) para Floriano (PI), a 240 km de Teresina.
O motivo: a fixação de Jair Bolsonaro pela cloroquina. O medicamento foi ministrado a pacientes da cidade na fase inicial. O coordenador técnico do hospital regional, Justino Moreira, afirmou, porém, que é “fake” atribuir ao remédio o êxito no resultado de 20 pacientes.
O diferencial, diz ele, é a prescrição de corticoide e anticoagulante em pacientes que chegam à internação, evitando a UTI.
“Antes, a gente usava só a cloroquina na segunda fase [de internação], não adiantava, não. A pessoa evoluía mal e morria. Possivelmente, não é a cloroquina a responsável pelo resultado. Na fase grave, ela é insignificante, mas talvez na fase precoce ajude o organismo a se defender”, afirma Moreira.
“O tratamento é efetivo, porque o paciente melhora rápido. Mas não é a cloroquina que está resolvendo o problema, isso é fake. Na verdade pegaram uma parte do protocolo e disseram que é a cloroquina, mas não é”, diz o médico. O hospital tem recebido pacientes do MA e do PA.
Na visita, Damares defendeu enfaticamente o medicamento (veja mais aqui).
Pelo protocolo de Floriano, na primeira fase da doença, a dos primeiros sintomas, como febre e tosse, o paciente é medicado com hidroxicloroquina e azitromicina.
No sétimo dia, os pacientes são submetidos à tomografia para saber como chegam à segunda etapa e, se for o caso, já começam a receber corticóides e anticoagulantes. No protocolo atual, esses medicamentos só entrariam em ação com o paciente já intubado, na UTI.
“Aqui a gente é mais agressivo ao vasculhar o doente, fazendo tomografia após o sétimo dia para ver as lesões. Essa lesão a gente ataca com corticóide e aí ela murcha, por exemplo, de 15% vai para 5%, de 50% vai para 30%. Já é suficiente para não precisar mais de oxigênio ou dar alta ao paciente”.
A comunidade médica está dividida sobre a cloroquina à espera de mais testes devido aos efeitos adversos, principalmente em pacientes com problemas cardíacos.
Moreira afirma, contudo, que doentes da Covid-19 com problemas no coração não são tratados com cloroquina em Floriano. O tratamento foi iniciado há 15 dias na cidade. Foi trazido da Espanha, onde a médica piauiense Marina Bucar Barjud trabalha e participa do atendimento a doentes.
Apesar de acreditar na eficácia do tratamento, Moreira não é crítico do isolamento social. Segundo ele, os 45 dias de distanciamento social foram importantes para ajudar os médicos a entenderem a doença sem a superlotação nos hospitais.
“Fizemos um trabalho muito precoce de uso de máscaras, supermercados e serviços essenciais tinham que limitar o número de clientes, e a educação sanitária foi reforçada. Tudo isso no começo de março”, afirma.
Folha de SP