Deputado bolsonarista previu ação contra Witzel 13 dias atrás

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Foto: Reprodução

O deputado estadual Anderson Moraes (PSL), da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), afirmou em uma transmissão ao vivo realizada em 13 de maio, há quase duas semanas, que tinha certeza de que a Polícia Federal (PF) bateria em breve na porta do governador Wilson Witzel (PSC) no âmbito da investigação sobre contratos da Saúde fluminense. Nesta terça-feira, 13 dias após a declaração de Moraes, agentes da PF estiveram em endereços ligados a Witzel para cumprir mandados de busca e apreensão autorizados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A corporação foi parabenizada pelo presidente Jair Bolsonaro após a ação.

— Esse cara (Witzel) me botou na Justiça essa semana. Na verdade, eu fiquei sabendo, eu já tenho o número do processo, embora eu ainda não tenha sido notificado. Por calúnia e difamação. Você não tem noção do orgulho que eu tenho como político de receber um processo por calúnia e difamação. Porque eu tenho absoluta certeza, Wilson, que é muito diferente do que os processos que você vai receber. Eu tenho certeza, Wilson, que o japonês vai bater na sua porta muito antes do que você imagina — afirmou Moraes, fazendo referência ao agente aposentado da PF Newton Hidenori Ishii, apelidado de “japonês da federal” e conhecido por ter participado de diversos desdobramentos da Operação Lava-Jato antes da aposentadoria em 2018.

As declarações de Moraes aconteceram durante uma transmissão ao vivo intitulada “A hora do juiz virar réu”, promovida pelo canal do Youtube “Terça Livre”. O nome do vídeo se refere à carreira que Witzel construiu na magistratura antes de se eleger e à possibilidade de ele responder judicialmente por irregularidades em contratos para a compra de respiradores e construção de hospitais de campanha necessários para atender à demanda criada pela pandemia da Covid-19.

Além de comentar o processo movido contra si mesmo por Witzel e afirmar que Witzel seria alvo da PF em breve, Moraes hostilizou o governador por ter buscado a Justiça e o chamou de “viadinho”. Ele também disse que não tem medo de Witzel e que a ação judicial não iria intimidá-lo.

Junto com Moraes, participaram da transmissão os deputados estaduais Márcio Labre, Alana Passos, Márcio Gualberto e Dr. Serginho. Todos foram eleitos pelo PSL, antigo partido do presidente Jair Bolsonaro. Na maior parte das duas horas de transmissão, os deputados trataram sobre as investigações que a Polícia Civil do Rio e o Ministério Público (MP) estão conduzindo sobre a Saúde fluminense. A menção de Moraes à PF foi uma das poucas no vídeo e a única relativa a uma eventual operação contra o governador.

Procurado pelo GLOBO, Moraes disse que sua declaração “não era relativa a uma investigação específica, e sim o desejo que todo homem público pautado pela decência tem: de ver a PF batendo à porta de políticos de desonestos”. O parlamentar também afirmou que “tudo que está acontecendo já era previsível diante da série de indícios de irregularidades nos contratos emergenciais” e destacou ter sido o primeiro a denunciar irregularidades na gestão de Witzel em representações enviadas ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) em março. Os levantamentos de dados feitos pelo deputado, segundo ele, “pautaram matérias na imprensa” sobre o tema.

As declarações de Moraes somam-se às da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que está sendo acusada por partidos de oposição ao governo Bolsonaro, como o PDT, de ter recebido informações antecipadas sobre a operação contra Witzel. Na última segunda-feira, em entrevista à Rádio Gaúcha, a parlamentar afirmou que haveria operações da PF contra governadores nos próximos meses. Ela nega o suposto vazamento e afirma que se baseou em informações veiculadas na imprensa para fazer suas afirmações. O PDT quer que a Procuradoria-Geral da República (PGR) investigue Zambelli pelo caso.

Witzel tem afirmado, principalmente após a deflagração da Operação Placebo pela PF na manhã desta terça-feira, que Bolsonaro estaria utilizando a corporação para perseguir opositores políticos. Ele nega que tenha cometido irregularidades. No Twitter, após a conclusão da ação que apreendeu até seus celulares e computadores no Palácio Laranjeiras, Witzel disse que estava indiginado com o “fato de que deputados bolsonaristas tenham anunciado em redes sociais nos últimos dias uma operação da Polícia Federal direcionada a mim, o que demonstra limpidamente que houve vazamento”.

O Globo