Doria: Bolsonaro fará Brasil ser epicentro da pandemia

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Roberto Casimiro/Fotoarena/Agência O Globo

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), culpou ontem o presidente Jair Bolsonaro pela queda da taxa de isolamento social no Estado, com a repetição de índices abaixo de 50%. Segundo Doria, o presidente tem uma “conduta errática” e é um péssimo exemplo aos brasileiros. O governador disse que Bolsonaro, ao desrespeitar a quarentena, tem estimulado as pessoas a sair às ruas, e afirmou que o país corre o risco de tornar-se o novo epicentro mundial da pandemia de covid-19.

“O que tem estimulado, lamentavelmente, o relaxamento das pessoas é a conduta errática do presidente da República que, dando maus exemplos todos os finais de semana, sai para fazer passeios na Esplanada dos ministérios ou em cidades satélites de Brasília, negando a ciência, a orientação do isolamento e dando um péssimo exemplo aos brasileiros”, afirmou Doria. “Esse sim é o contraponto que influencia negativamente a opinião pública brasileira”, disse, em entrevista à imprensa ontem.

O governador havia sido questionado se o fato de sua gestão ter anunciado em 20 de abril que a quarentena poderia ser relaxada a partir de 10 de maio teria sido responsável por estimular as pessoas a saírem de casa. Doria negou e atacou Bolsonaro.

“Quando nós avaliamos naquele momento, deixamos muito claro que a perspectiva de qualquer flexibilização dependeria do comportamento das pessoas no isolamento, da disponibilidade de leitos nos hospitais e do comportamento do coronavírus tanto na infectividade quanto na mortandade. Isso não favoreceu nem estimulou nenhum tipo de relaxamento”, disse, partindo para as críticas ao presidente na sequência.

A quarentena teve início em São Paulo em 20 de março, com 56% de isolamento social. Um mês depois, até o anúncio feito pelo governo de uma possível flexibilização, em apenas três dias a taxa de isolamento social foi menor do que 50%. Depois do anúncio, porém, o governo tem registrado uma queda na adesão às medidas de isolamento social e em nove dias a taxa ficou entre 46% e 48%.

O governador disse que nenhuma medida de flexibilização será adotada no Estado caso as taxas de isolamento social não cheguem a pelo menos 50%. “Infelizmente não estamos alcançando essa média”, disse.

O Estado tem 37.853 casos confirmados do novo coronavírus, com 3.045 mortos – acréscimos de 10% e 7%, respectivamente, em 24 horas -, informou o secretário de Saúde, José Henrique Germann. Por conta desses números, o Estado entrará em luto oficial a partir de hoje e deve perdurar durante toda a pandemia, anunciou Doria. A taxa de ocupação de UTI no Estado é de 67,2% e de 86,6% na Grande São Paulo.

O governador alertou para a possibilidade de o país liderar o número de mortes no mundo pela doença. “Estudos recentes indicam que o Brasil, infelizmente, corre o risco de se tornar o novo epicentro mundial da pandemia do coronavírus. Isso significa que o vírus está se espalhando rapidamente para as cidades menores em todo o país, e em São Paulo infelizmente o vírus também se expandiu, segundo dados do comitê de saúde, para o interior e litoral”, disse Doria.

Atual adversário político de Bolsonaro, o governador tucano reclamou de “manifestações políticas inadequadas” sobre a doença e disse que não é hora de “misturar eleição, partidos e ideologias, vontades políticas”.

“Agora é o momento de todos estarmos concentrados na defesa e na proteção da vida. Não é hora de fazer comício em cemitério”, disse. “Quem é contra o isolamento social está ajudando a lotar hospitais, a colapsar a saúde e fazer a contagem dos mortos que serão enterrados”, afirmou. “A democracia é barulhenta, mas é ela, a democracia que debate, garante a liberdade, a nossa existência num regime que fortalece os princípios da cidadania, do direito, do estado de direito.”

Valor Econômico