Extermínio de ministros mostra Bolsonaro incapaz de dialogar

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Foto: Gabriela Biló / Estadão

Bolsonaro tem vários padrões deletérios na condução da política e da gestão: destruição das políticas e instituições, conflito entre poderes, idas e vindas decisórias, etc. Agora mais um se soma à lista: as constantes trocas ministeriais e os ministros e secretários-relâmpago. Já foram nove trocas de ministros desde que a gestão começou.

Esse padrão evidencia a dificuldade de dialogar, capacidade essencial na política. Dialogar significa compor, ceder, ouvir. Bolsonaro não dialoga e, assim, é incapaz de montar governo de coalizão ou de ouvir seus ministros. O que ele quer é um séquito que aceite se subordinar a seus comandos, e não uma equipe ministerial

Os casos mais recentes, do ministro Nelson Teich e da Secretária Regina Duarte, são emblemáticos. No caso da secretária, não promovendo a desejada “guerra cultural” defendida pelos radicais do governo, foi queimada e descartada. Já Teich contrariou o presidente nas questões do isolamento social, rechaçado por Bolsonaro, e no uso da cloroquina, obsessão do presidente.

Trocas constantes de ministros e secretários trazem consequências deletérias para a política e para as políticas públicas: geram descontinuidade; rompem planos e processos; paralisam a burocracia.

Se as trocas são críticas para o cotidiano da gestão, elas são mais graves na pandemia. Em meio à onda crescente de mortes, o presidente declara que não tem pressa para indicar um ministro para o cargo mais importante no país hoje e manterá um militar como interino da saúde, por tempo indeterminado. Ele certamente se subordinará às ordens do presidente, sem questionamentos ou diálogo.

Trocas no médio escalão são igualmente preocupantes. Em 19 de maio, Pazuello nomeou nove militares para cargos do Ministério da Saúde, dentre eles a área de finanças do Fundo Nacional da Saúde, e a área de avaliação do SUS. O intuito deve ser o mesmo das trocas anteriores: apenas obedecendo ordens, os novos comissionados atuarão como o presidente deseja, sem diálogo e sem controle, só obediência cega.

Estadão