Flávio Bolsonaro nega uso político da PF

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Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), fez uma live em uma rede social nesta terça-feira (26) para defender a operação da PF (Polícia Federal) contra o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC).

A operação, autorizada pelo ministro Benedito Gonçalves, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), mira um suposto esquema de desvios de recursos públicos destinados ao combate ao coronavírus no estado. A Polícia Federal apreendeu o aparelho de celular e o computador do governador.

Flávio Bolsonaro fez vários ataques contra o governador. A Folha procurou Witzel mas ainda não obteve retorno.

“Não tem nada a ver com Polícia Federal isso. Isso um ministro do STJ autoriza a busca e apreensão na sua casa, todo o processo legal cumprido. E aí você quer colocar a culpa na Polícia Federal, que apenas executou uma ordem de um ministro do STJ?”, falou o senador, referindo-se ao governador do Rio.

Witzel é desafeto do presidente Jair Bolsonaro, que recentemente mudou a cúpula da Polícia Federal, gesto que motivou a saída do governo do então ministro da Justiça, Sergio Moro.

A ação desta terça-feira foi deflagrada um dia após ser nomeado o novo superintendente da corporação no Rio, Tácio Muzzi. A representação da PF no estado está no centro de uma investigação autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) que apura se o presidente buscava interferir politicamente em investigações da corporação. Flávio Bolsonaro considerou a relação entre os fatos como “absurda”.

“Essa investigação começou na Polícia Civil do Rio de Janeiro. Não tem nada a ver com Polícia Federal, com essa narrativa absurda de que foi a mudança na Polícia Federal que ocasionou essa diligencia de hoje. Não foi. Witzel estava sendo investigado há vários meses’, disse o senador.

Advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef afirmou nesta terça que entrará na Justiça contra Witzel.

Em pronunciamento, o governador do Rio disse que Flávio deveria estar preso e acusou Jair Bolsonaro de usar a Polícia Federal contra quem considera como adversário político.

Segundo Wassef, “não passa de um ato desesperado do governador para, uma vez mais, desviar os holofotes e atenção do gigantesco escândalo de corrupção em seu governo”.

“Querer agora dizer que o presidente Bolsonaro está usando a polícia é fake news. Vamos tomar todas as medidas judiciais cabíveis”, disse.

Wassef lembrou que as investigações sobre suposto desvio de recursos para o combate ao coronavírus antecedem a troca do comando da PF. O advogado afirmou que as provas incontestáveis e inequívocas demonstram, sim, a atuação de uma organização criminosa no Rio.

Sobre Flávio, ele diz nada existir. “Por isso, que até hoje ele [Flávio] não foi denunciado. Ele [Witzel] não pode dizer que Flávio poderia estar preso. Quem deveria estar preso são as pessoas do governo dele que, sem atender qualquer requisito legal, já dispensou mais de R$ 60 milhões para empresas de alimentos que em tese estariam querendo vender produtos para o combate ao coronavírus.”

O governador do Rio afirmou, por meio de uma nota, que não cometeu irregularidades e apontou interferência de Bolsonaro na investigação. Ele apontou como evidência da interferência o fato de a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) ter mencionado nesta segunda (25) ações iminentes da PF contra governadores.

“Vão descobrir mais coisas a seu respeito. E não é só isso não. Não é informação privilegiada. Isso é assunto de botequim, mesa de bar”, disse.

O filho do presidente da República ainda fez novas acusações contra o governador do Rio de Janeiro, relacionadas ao pagamento de propina.

“O que falam, governador, é que o senhor está extorquindo empresários e você fazendo acordo para extorquir empresário, cobrando porcentagem do empresário para liberar dinheiro que ele tem direito. Tem tanta coisa errada no seu governo”, disse.

Essa foi a primeira vez que Flávio Bolsonaro fez uma live em suas redes sociais, desde que vieram à tona as afirmações feitas pelo empresário Paulo Marinho. O suplente na chapa de Flávio afirmou, em entrevista à Folha, que Flávio Bolsonaro recebeu, em 2018, informação privilegiada da PF sobre investigações que atingiriam o então assessor dele, Fabrício Queiroz e a filha dele, Nathalia, que trabalhava no gabinete de deputado federal de Jair Bolsonaro em Brasília.

Ele diz ter ouvido de Flávio que a informação, repassada entre o primeiro e o segundo turno das eleições, fez com que a família Bolsonaro demitisse os dois assessores, o que ocorreu no dia 15 de outubro daquele ano.

Marinho relatou ainda que, segundo relato que ouviu de Flávio, o senador teria enviado emissários para falar com o delegado-informante. Um deles teria sido o coronel Miguel Braga Grillo, que trabalha até hoje no gabinete do senador.

“Tem essa narrativa absurda que meu primeiro suplente quer me envolver, como se tivesse interferência da Polícia Federal da nossa parte, não tem. Mais outro traidor ai, Paulo Marinho, que está ligadinho com você, Witzel. Ligadinho com o Doria. Então a missão que ele está é me atacar. Mais um canalha. Um lobista que tem um monte de coisa a explicar também. Não vai ficar pensando que vai ficar me acusando de um monte de coisa que eu não fiz, Paulo Marinho”, disse o senador.

Especificamente quanto ao seu ex-assessor, Fabrício Queiroz, Flávio Bolsonaro demonstrou apoio ao seu ex-assessor. Segundo o senador, era para Queiroz que Witzel ligava quando queria participar dos atos de campanha do então candidato ao Senado.

Segundo o senador, não há denúncias contra ele porque “não há elementos”.

“Não queira me envolver que eu não tenho nada a ver. Você [Witzel] diz que eu deveria estar preso, preso por que? Eu não fiz nada de errado. Estou sendo investigado há mais de dois anos governador, nem denúncia tem contra mim porque não tem elementos para me denunciar. Agora o seu caso não. (…) Talvez a tese dele [Witzel] seja essa. Se passar por maluco para, quando for preso, não ir para Bangu, mas para o hospital psiquiátrico”.

Folha