Heleno acha “normal” presidente interferir na PF

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Foto: Marcos Corrêa/PR

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, disse em depoimento nesta terça-feira (12/5) que vê como natural que o presidente Jair Bolsonaro queira optar por uma pessoa próxima para ocupar o cargo de diretor-geral da Polícia Federal. O depoimento faz parte de inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga suposta interferência política na PF após acusações do ex-ministro Sérgio Moro.

Segundo Heleno, a atuação eficiente do atual chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, aliada ao histórico operacional dele na PF, contribuíram para que o presidente optasse pela nomeação, que foi suspensa pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. Quando anunciou a demissão, em abril deste ano, o ex-ministro Sérgio Moro acusou o presidente de tentativas de interferência política na PF, sendo que a gota d’água seria a troca na PF sem justificativa.

No dia em que o ex-juiz federal pediu demissão, o governo havia exonerado o ex-diretor da PF, Maurício Valeixo. Sobre isso, Heleno afirmou ter ouvido o presidente uma ou duas vezes dizer que queria alguém mais ativo na PF. Sobre a intenção de Bolsonaro em substituir a superintendência da PF no Rio de Janeiro, no ano passado, o general disse não ter conhecimento do nível de detalhes dos assuntos que eram discutidos entre Bolsonaro e Moro, mas que tem conhecimento de que o presidente cobrava maior desempenho da PF do Rio no combate à corrupção.

Heleno afirmou que presidente também havia se queixado sobre o envolvimento do nome dele no caso do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, questionando a demora da investigação envolvendo o porteiro do condomínio onde morava o presidente e o policial militar reformado Ronnie Lessa, homem acusado pelo assassinato. O ministro da Casa Civil, Braga Netto, que prestou depoimento nesta terça-feira (12), também citou o caso.

Em depoimento, logo no início, o ministro Augusto Heleno disse que Ramagem conhece Bolsonaro desde o atentado sofrido pelo presidente, durante a campanha eleitoral de 2018, e que há “entre ambos uma relação que não extrapola os limites de uma vinculação profissional entre chefe e subordinado”.

Mais ao final, o general foi questionado pela defesa de Moro se Ramagem possuía uma sala no Palácio do Planalto, ao que ele confirmou; e foi questionado se o diretor da Abin se reúne com Bolsonaro corriqueiramente, ao que o ministro também confirmou. Ao ser perguntado, então, se essa rotina de trabalho proporcionou o surgimento de uma amizade entre os dois, disse que “essa amizade vem de antes, da época em que o presidente sofreu um atentado e Alexandre assumiu a sua segurança”.

Questionado sobre relação de amizade entre Ramagem e os filhos do presidente, Heleno diz ter tomado conhecimento da “suposta amizade pela imprensa”. Conforme o ministro, como o diretor da Abin fez a segurança pessoal desde a campanha, “é natural que haja uma proximidade tanto com o presidente como com os seus filhos”.

Sobre o vídeo de reunião ministerial com o presidente no último dia 22 de abril, prova citada pelo ex-ministro Sérgio Moro de que o chefe do Executivo teria exigido mudanças na chefia da PF e que está no inquérito do caso, Augusto Heleno disse que na ocasião o presidente cobrou de forma generalizada todos os ministros da área de inteligência.

No encontro, segundo o general, Bolsonaro reclamou da escassez de informações de inteligência e fez citações específicas sobre a sua segurança pessoal, sobre a Abin, sobre a PF e o Ministério da Defesa. Segundo o ministro, o presidente também falou que se houvesse falha em sua segurança pessoal, tentaria trocá-la, e que se não conseguisse, trocaria o chefe podendo chegar ao diretor e até ao ministro.

Questionado se tinha conhecimento sobre os motivos alegados pelo ex-ministro Moro para se recusar em aceitar a exoneração de Valeixo, Heleno disse que o ex-juiz federal disse que Bolsonaro não teria listado os motivos que, na visão de Moro, justificassem a exoneração.

O ministro Augusto Heleno, em uma de suas declarações deixou claro que a proteção pessoal e familiar de Bolsonaro é exercida pelo GSI, e não possui relação com a Polícia Federal.

Correio Braziliense