Janaína pode virar candidata a presidente da extrema-direita em 2022

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Foto: José Antonio Teixeira/Assembleia de SP

Após ganhar fama por ajudar a derrubar uma presidente da República e angariar capital político de 2 milhões de votos para deputada estadual, Janaina Paschoal (PSL) passou a ser estimulada por seu partido a se candidatar à cadeira um dia ocupada por Dilma Rousseff (PT).

O PSL (Partido Social Liberal) trabalha hoje com o nome da parlamentar paulista como principal aposta para a sucessão de Jair Bolsonaro (sem partido), que foi eleito pela sigla e depois rompeu com ela. A própria Janaina evita o assunto, sem, contudo, afastar categoricamente a possibilidade.

A entrevista dela à Folha no último dia 14, na qual defendeu a necessidade de uma alternativa ao PT e a Bolsonaro em 2022, agradou à cúpula da legenda, que tem adotado o mesmo discurso e enxerga na filiada o nome ideal para a terceira via.

“Quando ela fala em alternativa, eu, ao fazer uma análise política, enxergo a Janaina. Se isso estiver no projeto dela, no PSL já está pavimentado”, diz o deputado federal Júnior Bozzella (PSL-SP). “Venho conversando com os deputados. Todo mundo acha genial a minha ideia.”

Presidente da sigla em São Paulo e vice-presidente nacional, responsável pela articulação política no partido, Bozzella diz que trabalha pelo nome da deputada à revelia da própria. “O principal ela tem, que é grupo político. Candidatura majoritária não é vontade individual, é coletiva.”

Antipetista convicta e bolsonarista arrependida —ela subiu à tribuna da Assembleia Legislativa em março para defender que o presidente da República deixe o cargo—, Janaina desconversou na entrevista à Folha ao ser questionada sobre eventual entrada na corrida ao Planalto.

Procurada novamente, ela repetiu que não é hora de falar em eleição presidencial. “Não sabemos quem estará vivo. Agora, temos que concentrar todas as energias no combate à pandemia e na conquista e manutenção de alguma estabilidade ao país”, disse à reportagem.

“Espero que vocês não se ofendam por eu não querer e nem ter o que falar sobre isso”, completou ela, que contraiu o novo coronavírus e se recupera da Covid-19 depois de enfrentar duas internações.

Enquanto a deputada dá negativas protocolares, sem descartar claramente a hipótese de um voo mais alto, o PSL vê condições para alimentar o projeto Janaina-2022 —embora dirigentes admitam que ainda há um longo caminho até lá, com indefinição de cenário dentro e fora do partido.

O passo fundamental será convencer a possível candidata a embarcar na ideia. Depois de quase ser vice de Bolsonaro em 2018, ela foi pressionada a concorrer à Câmara dos Deputados, mas alegou razões familiares para se recusar a mudar para Brasília caso fosse eleita.

Dona de um recorde (ela ostenta o título de parlamentar que mais recebeu votos na história do país, entre federais e estaduais), a advogada e professora de direito já rechaçou recentemente o apelo para que se candidatasse à Prefeitura de São Paulo neste ano.

Nesse episódio, entretanto, a posição dela foi firme desde o início: sempre disse que rejeitava a possibilidade e que cumpriria até o fim seu mandato no legislativo estadual.

Argumentava ainda que o posto de prefeita não a atraía porque, no Executivo, ela teria que medir palavras e não teria a mesma liberdade para emitir opiniões que possui hoje.

Se o raciocínio será o mesmo no caso de uma campanha à Presidência, só o tempo dirá. Para o presidente nacional do PSL, deputado federal Luciano Bivar (PE), discussões sobre 2022 são prematuras, embora o nome de Janaina ganhe força internamente e reúna apoios.

“Nós apreciaríamos essa ideia, mas não teve nenhuma conversa. Temos admiração e respeito pela conduta dela e pelo que ela representa para o partido e para o país”, afirma.

Bivar diz que, “no momento oportuno”, a direção da legenda conversará sobre esse projeto com a deputada. “Ela é um excelente quadro do PSL”, afirma o ex-aliado de Bolsonaro.

Os obstáculos para a eventual candidatura são variados —e reconhecidos tanto por detratores quanto aliados de Janaina. Os problemas vão desde inexperiência política até resistências internas ao nome dela que precisarão ser superadas.

A própria relação dela com o partido é colocada em xeque, uma vez que a deputada defende as candidaturas independentes (que não exigem filiação a partido, hoje proibidas no Brasil) e já disse várias vezes que só aderiu a uma legenda porque era obrigada pela legislação.

“Isso [engajar-se na vida partidária] é uma decisão pessoal”, ameniza Bivar. Para Bozzella, a possibilidade de candidatura avulsa provavelmente não existirá em 2022. “Se ela tiver que estar em um partido, não enxergo outro que não o PSL. Ela está confortável aqui.”

Bozzella lembra que, no racha entre parlamentares do PSL e bolsonaristas —que migrarão para a futura Aliança pelo Brasil—, Janaina esteve ao lado do PSL. Na eleição para liderança de bancada na Assembleia, que expôs a divisão no início deste ano, ela votou em Rodrigo Gambale, nome alinhado à ala bivarista.

Sete dos 15 deputados estaduais da bancada paulista do PSL, a maior da Casa, devem se transferir para o novo partido quando houver janela para isso.

Janaina, que sempre fez críticas pontuais ao presidente, tem um histórico de rusgas com a turma bolsonarista na Assembleia. Já no grupo mais alinhado à cúpula do PSL, ela desponta como uma das protagonistas, sobretudo depois de sua aproximação com Bozzella.

Desde que iniciou o mandato, em março de 2019, a deputada modificou tanto sua relação com o partido quanto sua atuação política. Com seu estilo direto e contundente, ela entrou em choque com colegas e chegou a bater boca no plenário com o então líder da bancada, Gil Diniz, aliado dos Bolsonaros.

O comportamento inicial, tido como pouco maleável e distante do jogo de cintura esperado no ambiente legislativo, acabou dando lugar a uma postura mais estratégica, com uma disposição maior para debater, negociar e recuar quando necessário.

A adaptação ao figurino foi tamanha que ela até começou a atuar como madrinha política nos últimos meses e tentou articular uma chapa para a Prefeitura de São Paulo, unindo dois pré-candidatos que apoia, Andrea Matarazzo (PSD) e Arthur do Val (Patriota).

O PSL, no entanto, vai lançar Joice Hasselmann —outra que se descolou de Bolsonaro. Se a deputada federal não é a preferida de Janaina para a prefeitura, Joice tampouco faz campanha para a colega de sigla chegar ao Planalto.

Na semana passada, quando o ex-ministro Sergio Moro deixou o governo Bolsonaro disparando acusações, Joice foi a primeira a lançá-lo candidato a presidente em 2022.

Outro nome de peso do PSL agora não-bolsonarista, o senador Major Olímpio (SP) vê possibilidade de unir os dois nomes. “Uma chapa Janaina-Moro em 2022 seria o dream team”, diz ele, que sonha com o Governo de São Paulo na próxima eleição.

“Janaina é candidata forte a qualquer cargo. Ela está no jogo. Tem luz própria pela biografia dela, tem credibilidade com vários segmentos da sociedade”, completa.

Bozzella diz que Janaina é reservada e, sobre 2022, não lhe responde nem que sim nem que não. “Mas ela tem vontade de mudança, um desejo forte de transformar. E tem leitura do quadro do país”, diz.

Ao menos no Twitter, a vocação nacional da deputada está expressa: “Janaina do Brasil” é o nome do usuário dela no perfil da rede social, criado há quatro anos.

Especulações sobre uma candidatura presidencial rondam a advogada desde sua ascensão no impeachment de Dilma e nunca mereceram um desmentido claro. Um perfil dela publicado em 2016 pela revista Piauí afirmou que, quando era criança, ela falava em ser presidente da República.

No ano passado, em entrevista a Pedro Bial, na TV Globo, a deputada fez cara de paisagem quando o apresentador perguntou a ela se tentar chegar ao mais alto cargo do país está em seus planos. “Não sei. Não sei”, respondeu.

O jornalista então citou uma frase da deputada, dita por ela na época em que refletia sobre aceitar o lugar de vice de Bolsonaro: “Acredito que algumas decisões precisam ser tomadas em absoluto silêncio”. Janaina riu e voltou à questão da Presidência: “Deus é que sabe”.

Folha