Joice diz que já sabia de denúncias de Paulo Marinho

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Foto: Reprodução

A acusação feita pelo empresário Paulo Marinho, a aproximação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) do Centrão, e a crise econômica em meio à pandemia de covid-19 foram os principais temas debatidos na edição de hoje do UOL Debate pela deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo no Congresso, e o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), atual líder do governo no Congresso.

Em sua participação, a deputada afirmou hoje que já sabia das acusações feitas por Paulo Marinho ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), mas “não tinha prova nenhuma”.

“Eu já sabia dessa história, para mim não foi novidade nenhuma. Esse relato foi feito pelo ex-ministro [da Secretaria-Geral da República, Gustavo] Bebianno”, afirmou.

“Na época, eu não podia denunciar porque não tinha prova nenhuma. Cheguei a dar alguns spoilers para ver se alguém investigava isso, porque é uma situação muito grave”, relatou a deputada durante participação no debate mediado pelo colunista do UOL, Tales Faria.

“Certamente, Bebianno e Paulo Marinho devem ter registros das conversas. Ele [Marinho] vai prestar depoimento à PF e já disse que tem provas”, afirmou.

Hoje, deputados de PSOL, PDT e Cidadania pediram ao STF (Superior Tribunal Federal) a busca e apreensão do celular de Bebianno, ex-aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Um importante apoiador do presidente, o empresário Paulo Marinho afirmou à Folha, no último sábado, que foi procurado por Flávio Bolsonaro após o segundo turno das eleições de 2018 e que este teria afirmado ter conhecimento prévio sobre a Operação Furna da Onça, da Polícia Federal.

A operação resultou na investigação de “rachadinha” (a devolução de parte do salário por funcionários para gabinetes de políticos) por parlamentares da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), entre os quais estava incluso o então deputado estadual Flávio Bolsonaro.

Ainda segundo Marinho, o senador recém-eleito teria dito que a PF segurou a operação para depois das eleições para não prejudicar a candidatura de Bolsonaro. A informação teria sido passada por um delegado no Rio. Fabrício Queiroz foi exonerado pouco depois.

A intenção de interferir na PF foi o estopim para o rompimento entre o presidente e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

Já o senador pontuou que o depoimento de Marinho é “estranho” por se referir a uma história de mais de um ano atrás e “vem à tona em um momento de crise política”.

“É mais um ataque lateral do mesmo grupo que elegeu [o presidente Jair] Bolsonaro. As provas precisam ocorrer. No episódio do Moro houve a mesma expectativa, teve depoimento na PF. A gente já sabe que Bolsonaro é o alvo preferido de todas as polêmicas. A narrativa é desgastar Bolsonaro”, defendeu.

Segundo o senador, o presidente é criticado só por “ter mantido a autenticidade do tempo de vereador”, e que esse é um de seus defeitos. O outro, segundo ele, seria o de fazer acordos com quem “nem sempre quer fazer política”.

Ex-aliada de Bolsonaro, a deputada federal afirmou que a postura do presidente faz com que ele se envolva em uma “sucessão de crises”.

“Ele não é difícil — ele é limitado. O presidente é limitado, tem uma inteligência emocional -20. Durante os meses em que eu fiquei lá [como líder do governo no Congresso Nacional], tinha discussões muito acaloradas com ele para fazer ele botar o pé no chão, parar de atacar as pessoas, a imprensa, e começar a construir pontes do jeito mais republicano possível”, relembrou.

Segundo ela, o presidente perdeu a chance de, no começo de seu mandato, “fazer a coisa de uma maneira diferente”. Ela critica a forma como as indicações têm sido feitas, privilegiando o que chama de “liberou geral” em detrimento de indicações técnicas.

Gomes, por sua vez, rebateu afirmando que a prática de negociar apoio é comum em outras esferas do governo. “Você faz o governo com participação dos partidos que apoiaram e aos que aderem ao governo”, justificou.

O debate sobre apoios à gestão Bolsonaro passa pelo chamado Centrão, bloco de partidos que não possuem orientação ideológica definida e que, para críticos do governo, dominam a esfera federal.

“Esses parlamentares votam com o governo há um ano. Eles nem sempre tiveram cargos e não estão tendo até agora. Esse desenho de centrão [tomando o governo] não existe, o presidente não dá espaço para isso. É uma luta”, explicou Gomes.

“A única coisa que está acontecendo com o Centrão é que membros que têm a maioria ajudaram Bolsonaro em 2019 e 2020 e foram defendidos por mim. Eles vão continuar ajudando. Se não ajudar, tira do governo”, justificou.

O senador justificou sua posição lembrando que, mesmo com mudanças nos ministérios, nenhuma indicação foi feita por motivação política. “Não houve distribuição de cargo para o Centrão.”

De opinião contrária, Joice considera que Bolsonaro deu uma “fatia suculenta para a pior parte do Centrão” e está fazendo tudo o que prometeu não fazer durante a campanha de 2018, o que o torna, segundo ela, um “estelionatário eleitoral”.

Ela acrescentou que a “sucessão de lambanças” feitas por Bolsonaro podem levá-lo a um processo de impeachment, e é por isso que ele abriu as conversas com os partidos do Centrão.

“Ele está fazendo essa negociação espúria, debaixo do nariz de todo mundo, para se salvar. Mas está tentando construir sua base da pior maneira que tem, de um jeito que falou que jamais faria”, reiterou.

Sobre a possibilidade de sobrevivência do governo diante da perspectiva de o PIB (Produto Interno Bruto) encolher mais de 5%, de acordo com pesquisa Focus realizada pelo Banco Central, Gomes afirmou:

“Mesmo em momento de tragédia emocional, o ministro Paulo Guedes [da Economia] tem apontado o norte e outros ministros estão fazendo programas de desenvolvimento. O mundo está com um safety car e precisamos de uma nova arrancada. Agronegócio está indo bem e vai ajudar. Debate político funcionando democraticamente. A oposição, em momentos cruciais, tem colaborado com o governo”, avaliou.

Joice considera, porém, que Paulo Guedes dificilmente se manterá no governo até o final deste mandato.

“Toda vez que o Paulo Guedes faz alguma coisa que contraria um pouquinho o presidente, ele vai para um processinho de fritura. Aí quando tem desgaste, o presidente volta atrás: ‘Não, ele é nosso posto Ipiranga’. Eu já vi o Paulo dizer: ‘Olha, desse jeito, vou embora. Não fico mais’. Aí passa a raiva e fica mais um pouquinho, passa e fica mais um pouquinho. Mas, até quando Paulo Guedes vai ser desmoralizado?”, questionou.

Uol