Moro acusou Bolsonaro de “usar” sua imagem

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Foto: Marcelo Camargo

Para o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, o governo do presidente Jair Bolsonaro usava sua imagem “um passado de combate à corrupção”, mas na verdade não se importa com o tema. “Essa agenda anticorrupção não teve um impulso por parte do presidente da República para que a gente implementasse”, disse ele em entrevista ao Fantástico na noite deste domingo (24/05).

Moro citou como exemplos da falta de compromisso de Bolsonaro com o combate a crimes a falta de interesse do governo em manter no âmbito do Ministério da Justiça o Coaf, órgão responsável por monitorar transações financeiras atípicas. “No caso do Pacote Anticrime também não teve, a meu ver, um apoio adequado por parte do Palácio do Planalto”, reclamou.

O pacote foi desidratado no Congresso e Moro deu entrevistas na época tentando valorizar o que havia sido aprovado.

“E, após a decisão do Supremo Tribunal Federal derrubando a prisão em segunda instância houve uma iniciativa legislativa para recompor isso e não houve uma palavra de apoio por parte do presidente”, enumerou ainda o ex-ministro, antes de dizer que ficou no governo por um ano e quatro meses na esperança de que a situação mudasse. “Mas a gota d’água foi a tentativa de interferência na Polícia Federal”, contou ele para a jornalista Poliana Abritta.

O ex-ministro criticou em seguida as alianças que o governo está fazendo com partidos e políticos do Centrão para garantir a governabilidade em momento de baixa aprovação. “Não digo que não se deva fazer aliança para governar, mas algumas, com algumas pessoas, são questionáveis”, disse Moro, sem citar nomes.

Um dos novos aliados mais ruidosos de Bolsonaro é o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, que foi condenado no processo do Mensalão, apesar de ter delatado o esquema.

A fala de Moro já começou a repercutir entre o entorno de Bolsonaro, como pode ser visto na postagem do deputado federal Eduardo (PSL-SP), filho do presidente.

 

O ex-ministro da Justiça também reclamou, na entrevista, da substituição de dois ministros da Saúde em meio à pandemia de coronavírus. “O presidente da República tem uma posição negacionista”, disse ele, “a posição do governo federal em relação à pandemia é muito pouco construtiva”, afirmou ainda.

Para Moro, as saídas de Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich do comando da Saúde “são controversas, questionáveis do ponto de vista técnico”.

Rompido com Bolsonaro desde o dia 24 de abril, quando se demitiu do governo acusando o presidente de querer interferir politicamente na Polícia Federal, Moro tem usado as redes sociais e entrevistas à imprensa para manter um jogo de acusações com seu ex-chefe.

As acusações de Moro a Bolsonaro geraram um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), o que tem como prova o já histórico vídeo da reunião ministerial de 22 de abril.

Moro deixou o Ministério da Justiça acusando o presidente de tentar interferir politicamente na Polícia Federal. Segundo ele, Bolsonaro não só queria indicar alguém de “sua confiança” tanto para a diretoria-geral da PF quanto para as superintendências estaduais, como também queria “relatórios de inteligência” da corporação.

Metrópoles