Olavistas influem cada vez mais no governo

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Foto: Reprodução

Enquanto o país enfrenta uma crise sanitária que mata brasileiros aos milhares, a disputa por poder e influência dentro do governo, que opõe militares e seguidores do professor on-line de filosofia Olavo de Carvalho, avança e chega a espaços novos, como o Ministério da Saúde. Após um período de baixa, os chamados olavistas recuperaram prestígio com a queda de quadros considerados técnicos, como o ex-ministro Sergio Moro, mas há problemas à vista com a chegada de novos atores nessa trama: os indicados pelo Centrão.

Em meados de fevereiro deste ano, publicamos no Metrópoles uma reportagem registrando que o olavismo estava no “ostracismo”. Na época, o cenário era realmente difícil para nomes ligados ao escritor, que mora nos Estados Unidos: o ex-secretário nacional de Cultura Roberto Alvim havia caído sob a acusação de uso de referências nazistas; o ministro da Educação, Abraham Weintraub, sofria ataques por causa dos erros na correção do Enem; e uma minirreforma ministerial havia deixado o Palácio do Planalto “completamente militarizado”, nas palavras do próprio presidente da República.

Jair Bolsonaro havia sido convencido, então, que a insistência na “guerra cultural” permanentemente disputada pelos olavistas estava isolando demais o governo. Ganhava espaço a ala pragmática, que, além dos militares incluía ministros como Sergio Moro (então o “superministro” da Justiça e Segurança Pública) e Paulo Guedes (o “Posto Ipiranga” de Bolsonaro).

Dois meses e meio depois, porém, o pêndulo do poder está num ponto mais favorável para os olavistas. Eles tiveram que engolir a nomeação da atriz Regina Duarte para a Secretaria de Cultura, mas têm tido sucesso em minar sua gestão, impedindo a posse de nomes indicados pela artista.

A mobilização dos olavistas, que controlam a militância virtual do bolsonarismo, também foi importante para fazer o governo decidir demitir o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta mesmo em meio à pandemia, por oferecerem trincheira contras as críticas. Processo semelhante ocorreu quando Moro decidiu pedir o boné e sair atacando, em 24 de abril.

Confiantes, os influenciadores digitais olavistas, como o jornalista Allan dos Santos, do canal de notícias Terça Livre, estão em campanha para que um nome ligado ao grupo, o do médico Italo Marsili, que tem um canal no YouTube e vende cursos motivacionais, seja o novo ministro da Saúde.

Por enquanto, o presidente Jair Bolsonaro não indicou qual ala de apoio vai atender nessa questão e mantém interinamente no cargo um militar, o general Eduardo Pazuello.

A recuperação de influência do olavismo enfrenta limites na opinião do cientista político Lucas de Aragão, sócio da consultoria Arko Advice. “Poder decisório que eles perderam com a ascensão militar não chegou a ser recuperado”, opina ele. “Mas eles jamais deixarão de receber os acenos do presidente, porque são fundamentais para unir a militância. Nesse momento de embate com os poderes, de atacar um inimigo, eles, que são muito coesos, ganham importância”, avalia ainda.

Um problema que pode ganhar contornos dramáticos para o olavismo é o acordo de Bolsonaro com partidos do Centrão e a distribuição de cargos para apadrinhados políticos. Um dos representantes mais destacados da ala olavista (ao lado do chanceler Ernesto Araújo), o ministro Abraham Weintraub ensaiou criar uma crise ao resistir a entregar cargos de sua pasta.

Enquadrado por Bolsonaro, ele aceitou a nomeação de um indicado pelo PL, Garigham Amarante Pinto, para a Diretoria de Ações Educacionais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), nessa segunda (18/05). Weintraub, porém, está aguentando calado até aqui às cobranças nas redes sociais, algo que pode ser difícil para os olavistas.

Para Lucas de Aragão, atritos entre o olavismo e o Centrão serão inevitáveis, mas há uma tendência à acomodação. “Acho que o olavismo vai engolir em seco, como a gente já vê alguns influenciadores fazendo, dizendo que é necessário fazer uma aliança para enfrentar forças hostis”, avalia o cientista político. “Porque eles podem não gostar do Centrão, mas dificilmente vão se colocar contra uma determinação do presidente Bolsonaro”, completa.

Enquanto o olavismo briga por espaço, o próprio Olavo segue cumprindo um papel que escolheu no início do governo: manter o discurso de que, na verdade, não é guia ideológico de ninguém no governo nem tem influência sobre o presidente Bolsonaro. Veja postagem desta segunda:

Metrópoles