Rejeição a Bolsonaro avança sem parar, diz Datafolha

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Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Os resultados da avaliação de Jair Bolsonaro (sem partido) junto aos brasileiros divulgados nesta semana pelo Datafolha refletem o saldo de seu desempenho nas crises sanitária e política que se intensificaram no país no último mês.

Tanto o aumento de sua reprovação quanto a manutenção da avaliação positiva ao seu governo guardam correlação com ambos os cenários.

O avanço da rejeição a Bolsonaro ocorre principalmente por pioras na percepção da população quanto ao combate à epidemia do novo coronavírus e seus reflexos sobre a economia, mas carrega também arranhões na sua imagem em razão do vídeo de reunião ministerial liberado para exibição pelo STF, onde Bolsonaro aparece enfatizando interesses pessoais na ingerência sobre as pastas.

Tanto quanto as acusações de interferência na Polícia Federal, feitas pelo ex-ministro Sergio Moro, o conteúdo acentuou em parte dos eleitores a inadequação de Bolsonaro ao cargo.

A quantidade de brasileiros que afirmam que ele nunca se comporta como um presidente da República subiu nove pontos percentuais em comparação a dezembro do ano passado e alcança o maior patamar já verificado sobre o tema.

Entre os que tomaram conhecimento das imagens, o índice dos que apontam a inadequação é 17 pontos maior do que no segmento que deixou de ver ou ouvir a gravação.

O perfil mais escolarizado, mais masculino e de maior renda da audiência também compõem estratos onde se observam crescimentos expressivos nas taxas de reprovação ao presidente –no último mês subiu 10 pontos entre os que têm nível superior, sete entre os homens e seis entre os que recebem mais de cinco salários mínimos.

Apesar do aumento na avaliação negativa entre os homens, as mulheres continuam a aprová-lo menos e entre as que assistiram ao vídeo, o contraste fica ainda mais evidente —no total do estrato feminino, 46% rejeitam Bolsonaro, taxa que sobe para 61% entre as que viram ou ouviram a reunião.

A maioria dessas mulheres considera totalmente inadequado o palavreado do presidente na reunião. Entre os homens que viram as imagens, esse índice é inferior em 12 pontos percentuais.

A falta de capacidade de Bolsonaro para liderar o país, que pela primeira vez atinge a concordância da maioria dos brasileiros, é mais um dado que corrobora a tendência crítica ao comportamento do presidente.

Essa tendência se manifesta de forma ainda mais nítida na crescente reprovação à sua atuação no combate ao novo coronavírus. Também as sucessivas trocas do titular no ministério da saúde rendem à pasta sua pior avaliação desde o início da pandemia.

No extremo oposto, a manutenção da popularidade de Bolsonaro em patamar próximo a um terço da população é sustentada principalmente por seus eleitores, especialmente os mais fiéis, mas não só.

Dentre os 33 pontos de avaliação positiva, 11 provêm de estratos que não votaram no então candidato do PSL. Desses 11, a maioria entrou com o pedido de auxílio emergencial de R$ 600 fornecido pelo governo aos brasileiros de baixa renda e que estão fora do mercado de trabalho.

Se dependesse apenas da satisfação de seus eleitores, Bolsonaro teria hoje algo próximo de 22% de ótimo ou bom. Com a aprovação dos que solicitaram a ajuda do governo mas não o elegeram, ele chega a quase 29%. Os dois grupos juntos respondem por mais de 85% de sua avaliação positiva.

Os contrastes entre os perfis de bolsonaristas devotos e o conjunto dos que receberam a ajuda do governo evidenciam a baixa sobreposição entre os dois universos e o quanto eles se completam

O núcleo duro do bolsonarismo é formado por 16% da população. Além de serem eleitores do presidente, confiam em tudo o que ele fala e todos o avaliam como ótimo ou bom. Ao contrário da média dos brasileiros, a maioria é branca, é formada por homens e tem renda superior a dois salários mínimos. A ocorrência de empresários nesse estrato é o dobro da verificada no eleitorado.

É o único segmento onde a maioria acha que Bolsonaro sempre se comporta como um presidente da República. A totalidade é contra impeachment ou renúncia e 85% acreditam mais em Bolsonaro do que em Moro na polêmica recente.

A maioria desses bolsonaristas assistiu ao vídeo da reunião ministerial liberada pelo STF, mas, ao contrário do restante da população, 83% acham que Bolsonaro queria só melhorar sua segurança pessoal e não interferir na Polícia Federal. A maior parte não está praticando o isolamento social e defende a volta ao trabalho e às atividades normais.

Separando apenas os que receberam o auxílio emergencial (26% do total da população), a ocorrência de mulheres supera a média em 10 pontos percentuais, 90% têm até o nível médio de escolaridade e 81% possuem renda familiar mensal de até 2 salários mínimos.

A imensa maioria (86%) é composta por desempregados, pessoas que fazem bico, donas de casa, autônomos e assalariados sem registro. A taxa de pretos e pardos é de 56% contra 49% na população.

A taxa de reprovação ao presidente nesse estrato é inferior em seis pontos percentuais à verificada entre os que não pediram o auxílio, mas o segmento está longe de ser fiel a Bolsonaro –são os que mais se dividem quanto ao impeachment e à renúncia do presidente.

A condução da política de distribuição do auxílio emergencial continuará a ter impacto nesse grupo numeroso e será decisiva para a imagem futura de Bolsonaro e de seu governo. Seus integrantes demonstram forte potencial de volatilidade além de serem muito vulneráveis ao provável agravamento das crises .

Folha