Trump não quer parar guerras pela pandemia

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Foto: Saul Loeb / AFP

Os Estados Unidos impediram que o Conselho de Segurança da ONU votasse uma resolução que pedia um cessar-fogo dos conflitos armados durante a pandemia de coronavírus, aparentemente porque o texto fazia menção implícita à Organização Mundial da Saúde (OMS).

O impasse se mantém desde o dia 23 de março, quando o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu um cessar-fogo em conflitos globais, para que o mundo possa se concentrar na pandemia.

O presidente Donald Trump tem criticado fortemente a OMS sobre o que ele chama de manejo inadequado da crise global da saúde e suspendeu o financiamento dos EUA à agência da ONU. Trump acusa a organização de de ser “centrada na China” e de promover a “desinformação” da China sobre o surto, afirmações que a OMS nega.

As críticas dos EUA provocaram uma firme defesa da OMS durante as negociações do conselho por parte da China, onde o novo coronavírus surgiu no final do ano passado, matando até agora cerca de 275 mil pessoas em todo o mundo.

Enquanto o Conselho de Segurança — encarregado de manter a paz e a segurança internacionais — não pode fazer muito para lidar com o próprio coronavírus, diplomatas e analistas dizem que o órgão poderia ter demonstrado unidade ao apoiar o pedido de Gutérres por uma trégua global.

— Este teria sido um apelo muito mais eficaz para um cessar-fogo se tivesse ocorrido um mês atrás. Agora parece um pouco manco e tarde — disse Richard Gowan, diretor para ONU do International Crisis Group, ONG de prevenção de conflitos. — O conselho perdeu alguma credibilidade com o passar das semanas, principalmente graças ao obstrucionismo dos EUA.

Diplomatas disseram que a China e os Estados Unidos levantaram a perspectiva de veto caso a OMS fosse ou não mencionada. Uma resolução precisa de nove votos a favor e nenhum veto da França, Rússia, Reino, Estados Unidos ou China, que têm assentos permanentes, para aprovação.

Na noite de quinta-feira, parecia que o órgão de 15 membros tinha chegado a um acordo, disseram diplomatas, de acordo com a versão mais recente de um projeto de resolução francês e tunisiano.

Em vez de nomear a OMS, o texto preliminar, visto pela Reuters, “enfatiza a necessidade urgente de apoiar todos os países, bem como todas as entidades relevantes do sistema das Nações Unidas, incluindo agências de saúde especializadas”. A OMS é a única agência desse tipo.

Os Estados Unidos rejeitaram o trecho na sexta-feira, disseram diplomatas, porque era uma referência óbvia à OMS, com sede em Genebra.

Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse que o conselho deve avançar com uma resolução limitada ao apoio à chamada de cessar-fogo de Gutérres ou com uma resolução ampla que exija que os países se comprometam com a transparência e a responsabilidade para o combate à Covid-19.

Trump aumentou as críticas à OMS depois que ele e o presidente chinês, Xi Jinping, concordaram essencialmente, em um telefonema em 27 de março, com uma trégua informal em uma guerra de palavras, durante a qual Trump se referiu ao coronavírus como o “vírus chinês”.

Na semana passada, Trump voltou a engrossar a voz contra a China. Na quarta-feira, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, acusou a China de “se recusar a compartilhar as informações necessárias para manter as pessoas em segurança”. Pequim acusou Pompeo de mentir.

Alguns diplomatas e analistas também questionaram os motivos da China em defender a OMS no Conselho de Segurança, o que eles disseram ser incomum, porque Pequim tradicionalmente argumenta que o trabalho da agência está fora do mandato de paz e segurança do conselho.

”A batalha por dar nome ou não à OMS é a verdadeira definição de obstrução mesquinha e de disfuncionalidade mesquinha”, postou no Twitter Simon Adams, diretor executivo do Centro Global para a Responsabilidade de Proteger.

O Globo